Avaliação: NOTA 6
 


Um protagonista mal escalado pode estragar, e muito, uma boa história. E é justamente isso o que aconteceu com “Tão Forte e Tão Perto”. Apesar de apresentar uma proposta narrativa interessante, é impossível sentir qualquer coisa que não raiva de Thomas Horn, que interpreta Oskar Schell, em seu primeiro papel para o cinema.

Oskar é um menino quase esquizofrênico. Com uma obsessão alimentada pelo pai, o rapaz passa grande parte de seus dias procurando pistas para histórias que não existem. Até aí tudo bem, uma brincadeira saudável de criança. Mas o pai de Oskar, interpretado por Tom Hanks, morre durante os atentados de 11 de setembro. Logo o que parecia inocente se torna uma jornada do garoto para tentar explicar a morte do pai e encontrar algo no que se agarrar enquanto as memórias se perdem.

A premissa é linda. Interessante também a ideia de que, para encontrar o que busca, o menino passa a visitar todas as pessoas de sobrenome Black. Em uma Nova York pós 11 de setembro, as pessoas que Oskar conhece e as histórias que recolhe já seriam suficientes para tornar o filme tocante e inteligente. Mas não. Somos obrigados a acompanhar as manhas e crises de um garoto de 11 anos com uma mãe ausente e um pai que o incitou a ser assim, meio psicótico.

Não sei de quem é o mérito da chatice do personagem, se do roteirista, do diretor ou do próprio ator. Recuso-me a pensar que são os dois primeiros. O filme é baseado no livro de Jonathan Safran Foer, cuja obra “Tudo Está Iluminado” se tornou um longa-metragem incrível. O diretor Stephen Daldry é responsável por três filmes incríveis: “Billy Elliot”, “As Horas” e “O Leitor”. Se ele errou aqui foi na escolha do elenco. Thomas Horn é caricato, forçado ao falar e carrega pouquíssima emoção. Além dele, Tom Hanks se limita a ser Tom Hanks e Sandra Bullock, no papel da mãe do menino, até tenta, mas tem tão pouco tempo em cena que deixa a desejar.

Tudo em “Tão Forte, Tão Perto” parece implorar para que o espectador se emocione. É o menino gritando frases desconexas sobre seu pai, são as lágrimas derramadas por algumas das figuras que ele encontra ou os abraços entre esses personagens. No entanto, nada é dão descarado quanto a trilha sonora, marcada por tons graves. E que trilha sonora problemática. Acaba tornando o filme ainda mais forçado.

É realmente uma pena de esse filme tenha desperdiçado uma história com tanto potencial. Apesar de alguns bons momentos, eles são raros demais para colocar a trama na categoria ‘boa”. Viola Davis é um desses momentos de qualidade dentro do filme. No papel de Abby Black, uma das pessoas que Oskar conhece em sua jornada, a atriz rouba a cena e mostra porque é uma das mais competentes de sua geração.

Quase todos os momentos em que Oskar está calado são interessantes. E não digo isso por maldade. É que tudo é sempre verbalizado no filme. Faltam momentos em que o silêncio fala mais alto. Oskar, apesar de tentar guardar segredos sobre o que faz, sobre o que estava fazendo enquanto seu pai estava no World Trade Center e sobre as mensagens que o pai deixou na secretária eletrônica do apartamento, tem uma incrível necessidade de falar sobre as coisas, sobre o que sente e sobre o pai. Esse é mais um aspecto que deixa o menino tão insuportável e o drama tão forçado.

Faltou mais sensibilidade ao roteiro. Daldry tinha em mãos um grande tesouro. Afinal, não é sempre que se pode usar um evento dramático dessa magnitude que ainda está presente na memória da população mundial. Todo mundo tem algo para contar sobre o dia 11 de setembro de 2001. É realmente uma pena que a única voz ouvida nesse filme seja a de uma criança mimada com transtorno obsessivo compulsivo interpretada por um ator medíocre.
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Lais Cattassini é jornalista paulistana, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2009. É repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e membro do CCR desde 2007.