Avaliação: NOTA 5
 
 


Desde o sucesso do remake de “Fúria de Titãs” comandado por Louis Leterrier, a Warner Bros. e todos os demais envolvidos se apressaram em afirmar que sua continuação seria melhor, algo que, considerando os méritos daquele filme, não seria um grande feito. E eis que chega “Fúria de Titãs 2” e ele realmente é melhor que a fita anterior e… só isso.

Agora comandado por Jonathan Liebesman e tendo nada menos do que três envolvidos em seu roteiro, o longa nos mostra Perseu (Sam Worthington) dez anos após a morte do Kraken, vivendo uma vida pacata de pescador ao lado de seu filho, Helius (John Bell). Essa existência tranquila é ameaçada quando Hades (Ralph Fiennes) e Ares (Edgar Ramirez) fazem uma aliança com o titã aprisionado Cronos para que este escape do Tártaro, derrube um enfraquecido Zeus (Liam Neeson) e destrua o mundo.

Cabe então a Perseu sair do exílio e salvar seu pai, ao lado da Rainha Andrômeda (Rosamund Pike) e do também semi-deus Agenor (Toby Kebell), filho mortal de Poseidon. Alguns conceitos, como os das orações aos deuses e como elas podem atrair a atenção da divindade e dar-lhe força são até interessantes, mas jamais ganham o devido destaque, principalmente dada a curta duração da película.

Um dos pontos positivos desta continuação é que finalmente Perseu se tornou um herói mais simpático. A paternidade fez bem ao protagonista, com um objetivo, alguém para proteger, com este tendo uma melhor compreensão de Zeus e estreitando seus laços familiares. Por consequência, Sam Worthington tem mais material com o que trabalhar e pode explorar um lado mais leve do personagem, se permitindo até eventuais piadas ao invés de exibir uma carranca eterna, sendo ótimo ver as (poucas) cenas de interação entre o ator e Liam Neeson, que nos mostra um Zeus mais tranquilo e receptivo.

O problema é que as ligações entre Perseu, Helius e Zeus são as únicas a serem exploradas. Jamais entendemos plenamente os motivos que levaram Ares a trair o seu pai ou mesmo os que justificam as ações de Hades no decorrer da projeção, algo importantíssimo tendo em vista que os atos do deus dos mortos influenciam diretamente nos rumos da trama. O mais triste é ver intérpretes do calibre de Edgar Ramirez e Ralph Fiennes desperdiçados em cena quando podemos ver que seus personagens tinham potencial para serem melhor explorados..

A evolução de Andrômeda, por mais bem vinda que seja, é forçada, bem como seu relacionamento com Perseu, que aparentemente só aconteceu por ser o único macho alfa disponível. Ao menos a bela Rosamund Pike e Sam Worthington possuem alguma química, tornando o romance menos inverossímil. 

O semi-deus Agenor acaba sendo mais um alívio cômico genérico, com Toby Kebell não tendo o que fazer em tela senão bancar um Jack Sparrow de terceira, enquanto o talentosíssimo Bill Nighy se limita a fazer macaquices como o deus caído Hefesto, enlouquecido após tanto tempo sozinho.

As cenas de ação são conduzidas de maneira caótica por Liebesman, sendo difícil para o público compreender o que está acontecendo na tela em alguns momentos, dada a velocidade da movimentação da câmera e dos objetos que ela tenta capturar. A geografia das cenas é confusa, especialmente na luta com os ciclopes, quase impossível de se acompanhar onde cada envolvido ali está.

É uma pena que, entre os tremores e chacoalhadas da câmera, mal consigamos acompanhar o belo trabalho de direção de arte da produção, muito melhor que as exibições carnavalescas de “Imortais”. Claro que existem algumas escorregadas, como a barba grisalha de Zeus que é descaradamente falsa em alguns pontos, mas nada que incomode em demasiado.

Os efeitos especiais são fantásticos, especialmente os que envolvem a criação de Cronos e seus ataques, extremamente realistas e ameaçadores, ficando claro que a equipe de artistas digitais sabia o que estava a fazer. A tecnologia 3D, se não é inovadora, ao menos é efetiva, se utilizando de destroços e fuligem para tentar mergulhar o espectador nas lutas (se vamos compreender o que está acontecendo, aí é outra história).
Contando ainda com um confuso clímax que tenta, em vão, dar a todos os personagens algo o que fazer, “Fúria de Titãs 2” manda o espectador para casa com a sensação amarga de que faltou algo. O longa é mais divertido que seu predecessor, mas faltou uma dose maior de carisma aos seus coadjuvantes e menos firulas na hora de filmar as batalhas, que são mais furiosas do que titânicas.
___
Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.