Se alguém tem gabarito para fazer uma lista com as 100 maiores músicas brasileiras, certamente é a “Rolling Stone” brasileira , certo? Ainda mais nesses seus três anos, durante os quais a revista se consolidou como uma ótima referência não só musical, mas também jornalística, certo? Então por que eu estou ligeiramente incomodado com o resultado? Vejamos de perto.
Antes porém, quero reforçar que só tenho elogios à revista. Desde o seu primeiro número (aqui comentado nos primórdios deste blog) sou fã - e isso descontando o fato de eu conhecer e admirar várias pessoas que estão por trás dela. Com capas memoráveis - do próprio número de estréia, com Gisele Bündchen, ao exemplar recente com Ronaldo - e reportagens impecáveis (que dão uma cutucada melhor no cotidiano nacional do que muita revista “de adulto”), a “Rolling Stone” me conquistou - e não fui o único…
Então, eis que para comemorar o seu terceiro aniversário (que quase que regula com o deste espaço), a revista resolve presentear seus leitores com uma lista das “100 maiores músicas brasileiras”. Meu coração, como os que sempre me acompanham aqui sabem bem, tem um fraco por listas. Por isso mesmo, a que foi preparada pela “Rolling Stone” - e que tem uma nada discreta chamada de capa! - era, com o perdão do trocadilho, música para meus ouvidos.
Quando comprei a revista, passei batido por todas as seções e reportagens para chegar direto no assunto. E quando vi a música que ocupava a primeira posição, levei um choque: a escolhida era “Construção”, de Chico Buarque! Uma obra-prima, ninguém duvida. Mas não exatamente o que eu chamaria imediatamente de uma música pop - sequer uma faixa “rock n’roll”! Quem sabe dali para frente a lista seria diferente? Não exatamente… Número 2 - essa sim, um verdadeiro clássico (e, alargando um pouco o termo, quase pop), “Águas de março”, gravada por Elis Regina e Tom Jobim. Pareceu-me razoável. Mas aí veio a terceira posição: “Carinhoso”, de Pixinguinha. E a quarta: “Asa branca”, de Luiz Gonzaga! Onde é que isso ia parar?
Na posição de número 5, respirei aliviado: Jorge Ben (provocativamente - e propositalmente - sem o “Jor”), com “Mas que nada”. Escolha esperta. “Chega de saudade”, de João Gilberto, uma música tão perfeita que nunca deveria figurar em listas que não a colocassem na categoria de “hors concours”, é a música de número 6. Comecei novamente a ficar incomodado, até me acalmar com a canção de número 7, onde finalmente encontrei alguma coisa que eu, de fato, poderia esperar de uma lista como essa da “Rolling Stone”: “Panis et circensis”, dos Mutantes.
Mas aí veio “Detalhes”, de Roberto Carlos (número 8), “Canto de Ossanha” (!), de Baden Powell e Vinícius de Moraes (número 9), e “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso (injustamente aparecendo apenas na décima posição). O que estava acontecendo? Minha sensação era que, numa lista tão “abrangente” como essa, parecia que a música que estava faltando mesmo logo ali no topo era o “Samba do crioulo doido”, de Stanislaw Ponte Preta, “vulgo” Sérgio Porto!
Não seria eu o primeiro a atirar a primeira pedra. Aliás, como amante e praticante desse “esporte”, sei o que é preciso para alguém criticar uma lista: apenas fazê-la (e nunca essa lição veio tão rápida quanto quando publiquei aqui a minha “seleçãozinha” das 1000 músicas que me fizeram ouvir a própria música de maneira diferente; e veja bem: eram mil músicas, e mesmo assim, não faltou gente para dizer que a lista inteira - a lista inteira! - era uma porcaria…). Eu diria ainda que - ainda na qualidade de “listeiro” - a função de um exercício desses é provocar quem lê - e duvido que os organizadores da seleção da própria “Rolling Stone” tenham a cara-de-pau de negar isso… Mesmo assim, descontando tudo isso, eu tive “problemas” para entender os critérios da revista.
Tudo bem que a lista era, repetindo, das “maiores músicas brasileiras”. Mas acima deste título estampado na capa estava o próprio título da revista - “Rolling Stone”. E acho que isso criou o que costumamos chamar de “dissonância cognitiva” - em poucas palavras, o truque de criar uma expectativa e apontar para outra direção…
Não que a lista da “Rolling Stone” não seja importante - ela é importantíssima, sobretudo no efeito (talvez não intencional) de apresentar um cânone indiscutível da MPB para gerações que acham que a música brasileira começou mesmo com os pastiches nacionais de emo. Como fica claro na lista, muita coisa boa - revolucionária até! - vem sendo feita há décadas para comprovar o talento, a originalidade e a vitalidade dos nossos artistas (e, por conseguinte, nossa música), com reconhecimento não apenas nacional, como internacional.
Mas, insisto, a lista é “assinada” pela “Rolling Stone”… Então por que Raul Seixas faz sua primeira aparição “apenas” na posição de número 16? Chico Science & Nação Zumbi - uma das coisas mais explosivas que já surgiu no pop brasileiro! - não pegou nem o corte das primeiras 20 músicas (”Da lama ao caos” é numero 22).Tim Maia? Pode ir virando as páginas da revista, pois você vai ter que chegar à posição de número 37 para encontrá-lo - praticamente escondido depois de Lô Borges! Titãs aparecem com “Comida”, aos “68 do segundo tempo”. Lulu Santos - o grande mestre pop do Brasil, ou melhor, o maior mestre que o Brasil já teve - só entra na septuagésima-primeira posição. Isso mesmo: “Como uma onda (zen surfismo)” vem logo depois de… “Ronda”, com Inezita Barroso (70). Legião Urbana? 81, com “Que país é este?”. Viva Cazuza - finalmente! -, que precisou esperar 82 músicas para emplacar com “Ideologia” (83). E a lista fecha, ironicamente, com “Anna Julia”, do Los Hermanos.
É uma lista de peso? Sem dúvida! Mas é uma lista pop? Acho que não. Mas talvez até ela nunca tivesse sido concebida para isso. Com entradas como “Chão de estrelas”, de Silvio Caldas (61); “Eu quero é botar meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio (38); “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes (24); “Tico tico no fubá”, de Zequinha de Abreu com Ademilde Fonseca (92); “Samba de verão”, de Marcos Valle (76); ou a própria “Carinhoso”, de Pixinguinha (só lembrando, a terceira melhor música brasileira segundo a “Rolling Stone”) - o que parece é que a revista quis agradar a todos, fazer uma lista que pudesse ser reverenciada tanto aos mais exigentes acadêmicos da MPB quanto ao garoto com seu MP3 que nunca - nunca! - pagou um centavo para ouvir música nenhuma. E acho que foi isso que me deixou um pouco incomodado…
Fazendo um paralelo meio frouxo, fui dar uma espiada na lista das 500 maiores músicas de todos os tempos publicada pela “Rolling Stone” original, a americana, em dezembro de 2004. Seguindo a lógica da brasileira, eu poderia esperar, logo no topo da lista, nomes como Cole Porter, Ira e George Gershwin e mesmo Irvin Berlin (autores de clássicos do cancioneiro americano) - para não falar de Scott Joplin (que poderíamos chamar de “o Pixinguinha deles”). No lugar deles, porém, lá estão, claro, os suspeitos de sempre: Bob Dylan (em primeiríssimo!), The Rolling Stones, The Beatles, Nirvana, Marvin Gaye, The Clash, Elvis Presley, Led Zepellin - e por aí vai…
Eu consigo até entender a difícil posição em que a nossa “Rolling Stone” se encontrou ao tentar organizar tal lista. Aqui no Brasil, se você deixa alguns nomes de fora - mesmo que eles não tenham muito a ver com o espírito do que você está fazendo -, tem gente que acha que “vai pegar mal”. Para não ofender os gostos mais sensíveis, existe sempre uma “fazeção de média” com um elenco de notáveis que, pelo visto, nunca vai deixar uma lista da “Rolling Stone” brasileira ser a lista que a “Rolling Stone” brasileira poderia ser.
Aliás, por falar em fazer média, por que só uma de Noel Rosa (ou melhor, duas - contando com “Último desejo”, na voz de Aracy de Almeida)? Ou uma só de Dorival Caymmi, lá no número 94? Por que Assis Valente entra só por conta dos Novos Baianos, mas não com aquela que é talvez a mais divertida música pop feita no Brasil, “Uva de caminhão” - especialmente na versão de Wanderléa? E onde está Ataulfo? Cadê “Madalena”, de Ivan Lins? E como deixaram de fora o samba-enredo mais bonito de todos os tempos, “É hoje”, de Didi e Mestrinho? Viu como não é simples nem querer agradar todo mundo?
Não sou nem louco de não reconhecer a importância, a relevância, o potencial transformador, a musicalidade, e mesmo a genialidade de cada uma das canções selecionadas - especialmente os “clássicos”. Mas não posso também deixar de desejar que esses nomes consagrados tivessem seus nomes (já imortais) laureados numa lista própria, para que essa da “Rolling Stone” ficasse um pouco mais pop…
Quatro músicas dos Mutantes (Sendo que uma com Gilberto Gil)? Bravo! Duas do Secos & Molhados? Genial! Seis referências a Caetano Veloso (duas com os Novos Baianos), sem contar “Baby”, de Gal Costa? Claro! Se a escolha de “Detalhes” para a oitava posição causou estranheza, o Rei foi redimido depois com a inclusão de “Quero que vá tudo pro inferno” e “As curva da estrada de Santos”. Luiz Melodia lembrado com “Pérola negra”? Ainda bem! Hyldon, aquele de “Na rua, na chuva, na fazendo”? Passa… Aplausos para a inclusão de “BR-3″, de Tony Tornado. E (ainda que pareça mais uma escolha para fazer média) ter honrado Racionais MC’s com “Diário de um detento”, foi uma boa atitude. Devo reconhecer que a lista me fez até ouvir “Construção”, de Chico Buarque (a número 1!), de maneira diferente - como uma verdadeira obra de desconstrução pop - e me convenceu que ela talvez seja mesmo a melhor música brasileira de todos os tempos (hesito apenas porque sou fã demais de “Domingo no parque”, que, ufa, está em décimo-primeiro).
Mas ainda acho que o resultado final foi uma seleção que quis agradar demais, mas que justamente por essa pretensão, quase correu o risco de ser - como diz o grande hino pop-punk do Brasil (que felizmente fulgura numa honrosa vigésima-terceira posição), cortesia do Ultraje a Rigor… “Inútil”! Aliás, sou mais a lista de Roger Moreira - que, como Roberto Menescau e Marcelo Camelo, foram convidados a fazer sua seleção pessoal para serem publicadas junto com a “oficial”. Ou quem sabe eu seja mais a sua lista! Não quer mandar um “top 10″ das melhores músicas pop do Brasil?
Eu sigo aqui tomando coragem para revelar a minha… Vai que alguém resolve me criticar…
Antes porém, quero reforçar que só tenho elogios à revista. Desde o seu primeiro número (aqui comentado nos primórdios deste blog) sou fã - e isso descontando o fato de eu conhecer e admirar várias pessoas que estão por trás dela. Com capas memoráveis - do próprio número de estréia, com Gisele Bündchen, ao exemplar recente com Ronaldo - e reportagens impecáveis (que dão uma cutucada melhor no cotidiano nacional do que muita revista “de adulto”), a “Rolling Stone” me conquistou - e não fui o único…
Então, eis que para comemorar o seu terceiro aniversário (que quase que regula com o deste espaço), a revista resolve presentear seus leitores com uma lista das “100 maiores músicas brasileiras”. Meu coração, como os que sempre me acompanham aqui sabem bem, tem um fraco por listas. Por isso mesmo, a que foi preparada pela “Rolling Stone” - e que tem uma nada discreta chamada de capa! - era, com o perdão do trocadilho, música para meus ouvidos.
Quando comprei a revista, passei batido por todas as seções e reportagens para chegar direto no assunto. E quando vi a música que ocupava a primeira posição, levei um choque: a escolhida era “Construção”, de Chico Buarque! Uma obra-prima, ninguém duvida. Mas não exatamente o que eu chamaria imediatamente de uma música pop - sequer uma faixa “rock n’roll”! Quem sabe dali para frente a lista seria diferente? Não exatamente… Número 2 - essa sim, um verdadeiro clássico (e, alargando um pouco o termo, quase pop), “Águas de março”, gravada por Elis Regina e Tom Jobim. Pareceu-me razoável. Mas aí veio a terceira posição: “Carinhoso”, de Pixinguinha. E a quarta: “Asa branca”, de Luiz Gonzaga! Onde é que isso ia parar?
Na posição de número 5, respirei aliviado: Jorge Ben (provocativamente - e propositalmente - sem o “Jor”), com “Mas que nada”. Escolha esperta. “Chega de saudade”, de João Gilberto, uma música tão perfeita que nunca deveria figurar em listas que não a colocassem na categoria de “hors concours”, é a música de número 6. Comecei novamente a ficar incomodado, até me acalmar com a canção de número 7, onde finalmente encontrei alguma coisa que eu, de fato, poderia esperar de uma lista como essa da “Rolling Stone”: “Panis et circensis”, dos Mutantes.
Mas aí veio “Detalhes”, de Roberto Carlos (número 8), “Canto de Ossanha” (!), de Baden Powell e Vinícius de Moraes (número 9), e “Alegria, alegria”, de Caetano Veloso (injustamente aparecendo apenas na décima posição). O que estava acontecendo? Minha sensação era que, numa lista tão “abrangente” como essa, parecia que a música que estava faltando mesmo logo ali no topo era o “Samba do crioulo doido”, de Stanislaw Ponte Preta, “vulgo” Sérgio Porto!
Não seria eu o primeiro a atirar a primeira pedra. Aliás, como amante e praticante desse “esporte”, sei o que é preciso para alguém criticar uma lista: apenas fazê-la (e nunca essa lição veio tão rápida quanto quando publiquei aqui a minha “seleçãozinha” das 1000 músicas que me fizeram ouvir a própria música de maneira diferente; e veja bem: eram mil músicas, e mesmo assim, não faltou gente para dizer que a lista inteira - a lista inteira! - era uma porcaria…). Eu diria ainda que - ainda na qualidade de “listeiro” - a função de um exercício desses é provocar quem lê - e duvido que os organizadores da seleção da própria “Rolling Stone” tenham a cara-de-pau de negar isso… Mesmo assim, descontando tudo isso, eu tive “problemas” para entender os critérios da revista.
Tudo bem que a lista era, repetindo, das “maiores músicas brasileiras”. Mas acima deste título estampado na capa estava o próprio título da revista - “Rolling Stone”. E acho que isso criou o que costumamos chamar de “dissonância cognitiva” - em poucas palavras, o truque de criar uma expectativa e apontar para outra direção…
Não que a lista da “Rolling Stone” não seja importante - ela é importantíssima, sobretudo no efeito (talvez não intencional) de apresentar um cânone indiscutível da MPB para gerações que acham que a música brasileira começou mesmo com os pastiches nacionais de emo. Como fica claro na lista, muita coisa boa - revolucionária até! - vem sendo feita há décadas para comprovar o talento, a originalidade e a vitalidade dos nossos artistas (e, por conseguinte, nossa música), com reconhecimento não apenas nacional, como internacional.
Mas, insisto, a lista é “assinada” pela “Rolling Stone”… Então por que Raul Seixas faz sua primeira aparição “apenas” na posição de número 16? Chico Science & Nação Zumbi - uma das coisas mais explosivas que já surgiu no pop brasileiro! - não pegou nem o corte das primeiras 20 músicas (”Da lama ao caos” é numero 22).Tim Maia? Pode ir virando as páginas da revista, pois você vai ter que chegar à posição de número 37 para encontrá-lo - praticamente escondido depois de Lô Borges! Titãs aparecem com “Comida”, aos “68 do segundo tempo”. Lulu Santos - o grande mestre pop do Brasil, ou melhor, o maior mestre que o Brasil já teve - só entra na septuagésima-primeira posição. Isso mesmo: “Como uma onda (zen surfismo)” vem logo depois de… “Ronda”, com Inezita Barroso (70). Legião Urbana? 81, com “Que país é este?”. Viva Cazuza - finalmente! -, que precisou esperar 82 músicas para emplacar com “Ideologia” (83). E a lista fecha, ironicamente, com “Anna Julia”, do Los Hermanos.
É uma lista de peso? Sem dúvida! Mas é uma lista pop? Acho que não. Mas talvez até ela nunca tivesse sido concebida para isso. Com entradas como “Chão de estrelas”, de Silvio Caldas (61); “Eu quero é botar meu bloco na rua”, de Sérgio Sampaio (38); “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes (24); “Tico tico no fubá”, de Zequinha de Abreu com Ademilde Fonseca (92); “Samba de verão”, de Marcos Valle (76); ou a própria “Carinhoso”, de Pixinguinha (só lembrando, a terceira melhor música brasileira segundo a “Rolling Stone”) - o que parece é que a revista quis agradar a todos, fazer uma lista que pudesse ser reverenciada tanto aos mais exigentes acadêmicos da MPB quanto ao garoto com seu MP3 que nunca - nunca! - pagou um centavo para ouvir música nenhuma. E acho que foi isso que me deixou um pouco incomodado…
Fazendo um paralelo meio frouxo, fui dar uma espiada na lista das 500 maiores músicas de todos os tempos publicada pela “Rolling Stone” original, a americana, em dezembro de 2004. Seguindo a lógica da brasileira, eu poderia esperar, logo no topo da lista, nomes como Cole Porter, Ira e George Gershwin e mesmo Irvin Berlin (autores de clássicos do cancioneiro americano) - para não falar de Scott Joplin (que poderíamos chamar de “o Pixinguinha deles”). No lugar deles, porém, lá estão, claro, os suspeitos de sempre: Bob Dylan (em primeiríssimo!), The Rolling Stones, The Beatles, Nirvana, Marvin Gaye, The Clash, Elvis Presley, Led Zepellin - e por aí vai…
Eu consigo até entender a difícil posição em que a nossa “Rolling Stone” se encontrou ao tentar organizar tal lista. Aqui no Brasil, se você deixa alguns nomes de fora - mesmo que eles não tenham muito a ver com o espírito do que você está fazendo -, tem gente que acha que “vai pegar mal”. Para não ofender os gostos mais sensíveis, existe sempre uma “fazeção de média” com um elenco de notáveis que, pelo visto, nunca vai deixar uma lista da “Rolling Stone” brasileira ser a lista que a “Rolling Stone” brasileira poderia ser.
Aliás, por falar em fazer média, por que só uma de Noel Rosa (ou melhor, duas - contando com “Último desejo”, na voz de Aracy de Almeida)? Ou uma só de Dorival Caymmi, lá no número 94? Por que Assis Valente entra só por conta dos Novos Baianos, mas não com aquela que é talvez a mais divertida música pop feita no Brasil, “Uva de caminhão” - especialmente na versão de Wanderléa? E onde está Ataulfo? Cadê “Madalena”, de Ivan Lins? E como deixaram de fora o samba-enredo mais bonito de todos os tempos, “É hoje”, de Didi e Mestrinho? Viu como não é simples nem querer agradar todo mundo?
Não sou nem louco de não reconhecer a importância, a relevância, o potencial transformador, a musicalidade, e mesmo a genialidade de cada uma das canções selecionadas - especialmente os “clássicos”. Mas não posso também deixar de desejar que esses nomes consagrados tivessem seus nomes (já imortais) laureados numa lista própria, para que essa da “Rolling Stone” ficasse um pouco mais pop…
Quatro músicas dos Mutantes (Sendo que uma com Gilberto Gil)? Bravo! Duas do Secos & Molhados? Genial! Seis referências a Caetano Veloso (duas com os Novos Baianos), sem contar “Baby”, de Gal Costa? Claro! Se a escolha de “Detalhes” para a oitava posição causou estranheza, o Rei foi redimido depois com a inclusão de “Quero que vá tudo pro inferno” e “As curva da estrada de Santos”. Luiz Melodia lembrado com “Pérola negra”? Ainda bem! Hyldon, aquele de “Na rua, na chuva, na fazendo”? Passa… Aplausos para a inclusão de “BR-3″, de Tony Tornado. E (ainda que pareça mais uma escolha para fazer média) ter honrado Racionais MC’s com “Diário de um detento”, foi uma boa atitude. Devo reconhecer que a lista me fez até ouvir “Construção”, de Chico Buarque (a número 1!), de maneira diferente - como uma verdadeira obra de desconstrução pop - e me convenceu que ela talvez seja mesmo a melhor música brasileira de todos os tempos (hesito apenas porque sou fã demais de “Domingo no parque”, que, ufa, está em décimo-primeiro).
Mas ainda acho que o resultado final foi uma seleção que quis agradar demais, mas que justamente por essa pretensão, quase correu o risco de ser - como diz o grande hino pop-punk do Brasil (que felizmente fulgura numa honrosa vigésima-terceira posição), cortesia do Ultraje a Rigor… “Inútil”! Aliás, sou mais a lista de Roger Moreira - que, como Roberto Menescau e Marcelo Camelo, foram convidados a fazer sua seleção pessoal para serem publicadas junto com a “oficial”. Ou quem sabe eu seja mais a sua lista! Não quer mandar um “top 10″ das melhores músicas pop do Brasil?
Eu sigo aqui tomando coragem para revelar a minha… Vai que alguém resolve me criticar…
ZECA CAMARGO
sensacional !!!
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