quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Salve Geral - O FILME






















Com Denise Weinberg, Andréa Beltrão, Lee Thalor, Eucir de Souza, Kiko Mascarenhas, Chris Couto. Sony.

Tem tiros que saem pela culatra. A escolha de Salve Geral como o representante brasileiro no Oscar de filme estrangeiro (antes dele ser lançado em circuito nacional) acabou provocando uma expectativa exagerada que está indo contra o filme.

A verdade é que parece ter sido uma escolha infeliz, a julgar pelos outros indicados semelhantes (Cidade de Deus, Ultima Parada 147) que foram rejeitados. Tradicionalmente a Academia rejeita fitas violentas e de ação, que possam lembrar similar americano. Deve fazer o mesmo aqui.

Mas se o filme não é tudo que se esperava, também não é tão ruim quanto muitos pintaram.

Talvez a maior decepção seja aqui em São Paulo, já que o filme não consegue em momento algum passar o clima da cidade, nossa maneira de ser e agir, em particular naquele dias das mães quando boatos deixavam todo mundo confuso e perdido. E em pânico.

Parte do problema é que a produção não conseguiu imagens reais dos telejornais, com os verdadeiros repórteres ou apresentadores (eles foram substituídos por atores neutros e imagens igualmente gerais e inofensivas).

Em momento nenhum o filme é sobre o dia em que a cidade parou. Ou em que o chamado Partido (como é dito no filme) conseguiu parar a cidade de São Paulo.

Na verdade, é a história de uma mulher (Andréa, num personagem na mesma linha que o recente Verônica), que se envolve na confusão por causa do filho. Infelizmente o roteiro não sabe construir o personagem dela.

No caso, Lucia, uma professora de piano que ficou viúva, teve que deixar sua vida de classe média e se mudar para a periferia com o rapaz. Sem dinheiro, o problema se agrava quando o filho (feito por um ator bem fraco) se envolve num racha onde provoca acidente e mata uma pessoa a tiros.

Vai preso, mas ai já é tarde. O comportamento dele é injustificável e já o classificou na cabeça do público como caráter fraco (não há como se identificar ou torcer por ele).

O mesmo erro vai suceder com essa heroína que irá trabalhar para uma advogada corrupta (Denise Weinberg, que se torna a figura mais marcante do filme) ligada ao partido e que começa a utilizá-la.

O problema mesmo é que o público não aceita Lucia tendo um romance imediato com o professor, que se revela o chefão de toda gang de prisioneiros e que é apresentado como um rapaz bonitão, musculoso e inteligente. Tudo demais.

O ator também não é muito convincente, mas ela ter um caso sexual com o professor é difícil de engolir, inverossímil e principalmente inadequado. Ainda mais quando ela fica com uma maleta com os milhões dele, usando inclusive de maneira discutível.

Se a trama central não funciona, se os dois protagonistas não conquistam a plateia, nos resta assistir um tradicional filme de prisão, com diálogos menos realistas que similares, com cenas menos fortes e marcantes.

Depois, custa muito a chegar ao clímax tão esperado e nunca chega a ter presenças ou figuras mais memoráveis. Não consegue ser o grande filme que prometia.
Rubens Ewald Filho
Crítico de cinema

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