quarta-feira, 28 de outubro de 2009

BIG RIVER MAN


Na minha opinião, o que define um bom documentário é o interesse que o personagem desperta. A imprevisibilidade do comportamento humano é algo que, quando capturado diante das telas, coloca o documental em uma posição muito além do argumento meramente proposto. Um sujeito que é ex-viciado em jogo, professor de violão flamenco, enólogo nas horas vagas, figurante em filmes de ação, garoto-propaganda e jurado de concurso de beleza já reúne predicados suficientes para ser objeto documental. Melhor ainda se for um nadador nato, recordista mundial de grandes travessias. O esloveno Martin Strel é tudo isso, além de já não ser tão jovem, estar acima do peso e não abrir mão de uma cerveja gelada.

O foco de Big River Man é a tentativa de nadar toda a extensão do Rio Amazonas. Porém, basta deixar a câmera ligada para se ter uma ideia de quem é Martin Strel: um esloveno humilde, porém famoso em sua cidade natal, e que goza de certo prestígio entre chefes de estado e políticos influentes. Quase sempre calado e com um largo sorriso no rosto, é saudado por onde quer que passe. Não é multado quando estaciona em local proibido e nem é importunado pela polícia quando dirige embriagado. Tem contratos vitalícios para frequentar um moderno parque aquático e dirigir um carro importado.

Com braçadas fortes, nadou os rios Danúbio, Mississippi e até o poluído Yangtzé, em jornadas que duravam cerca de dois meses. O motivo, alegava, era chamar a atenção das pessoas para as causas ambientais. Portanto, o Rio Amazonas, além de significar a quebra de seu recorde pessoal, também se encaixa perfeitamente na proposta ecológica.

O filme se torna mais denso e interessante quando o espectador percebe que nem ao mesmo a equipe que acompanha Strel sabe quem ele realmente é e quais são os verdadeiros motivos que o levam a arriscar a vida nadando. Muito mais do que uma aventura aquática, a travessia do Rio Amazonas se transforma em uma jornada de grandes proporções, guardando surpresas - nem sempre agradáveis - para todos que embarcaram nela.

Posso afirmar, sem dúvida, que se trata de um dos melhores e mais insólitos documentários dos últimos anos.

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