Avaliação: NOTA 8
 
 
“Crazy, Stupid, Love”. Este é o título original deste filme e como deveria realmente ser entendido. O amor pode causar os mais inimagináveis atos de loucura e estupidez. De bebedeiras inveteradas a declarações em pleno pátio do colégio. De surtos de “galinhagem” a um instantâneo compromisso e fidelidade. Os personagens de “Amor a Toda Prova” são totalmente reféns desse sentimento. Alguns demoram a perceber, mas todos, sem exceção, precisam ser correspondidos e notados. São como crianças querendo chamar a atenção dos pais. E dessa forma, as mais estranhas reações e situações surgem, compondo a história de um dos mais simpáticos longas do ano.

O roteirista Dan Fogelman constrói uma teia de engraçadas tramas românticas que vai aumentando e se entrelaçando à medida que a história se desenvolve. Uma única família serve como núcleo para que acompanhemos como cada um é afetado pelas dores e felicidades resultantes de meras paixonites a um grande e duradouro amor. Do pai ao filho pré-adolescente, a atração afetiva capta a todos. No entanto, mais do que interessantes escolhas narrativas, o filme dá a cada um de seus personagens uma agradável autenticidade. O cômico está sempre presente, mas é o trágico que faz de todos eles grandes acertos.

O principal é Cal (Steve Carell), um homem que vê sua vida afetiva desmoronar depois que sua esposa Emily (Julianne Moore) pede o divórcio em pleno jantar a dois. A partir de então, começa a agir da forma mais infantil possível, embriagando-se diariamente e fazendo questão de espalhar aos céus que sua mulher o traiu com um tal de David Lindhagen, nome que você não se cansa de escutar durante a exibição. Sem esconder sua fragilidade, o protagonista conquista a audiência por jamais negar seus sentimentos e deixar-se levar, mesmo que temporariamente, por seus instintos masculinos, quando sempre foi parceiro de uma só mulher.

A tônica se repete com o restante dos personagens, jamais soando cansativa. Eles fazem o que têm vontade, dizem o que vem a cabeça. Enfim, são pessoas verdadeiras, extremamente comuns e, por isso mesmo, cheias de defeitos. Afastam-se de qualquer clichê do gênero. Se soam como estereótipos inicialmente, os dois atos seguintes revelam quem são de fato. Dessa forma, somos apresentados a Jacob (Ryan Gosling), um autêntico representante dos “pegadores” que evitam qualquer envolvimento, além do sexual, com as mulheres. Ele chega até a dar aulas de conquista para o inexperiente Cal. Mas é Jacob quem se rende ao amor quando uma carismática advogada chamada Hannah se põe em seu caminho.

A troca da transa por uma mera conversa é o suficiente para que ele revele-se um homem mais complexo do que aparentava. A cena, por sinal, é uma das melhores de todo o filme ao exibir diálogos sensíveis e cômicos, mostrando o início de uma relação marcada pela falta de vergonha e preconceito, permitindo uma descontração que só os aproxima. Se estão aos beijos, uma repentina experiência hilária na poltrona de massagem ameniza o clima, mantendo o tom leve da trama. Boa parte do convencimento desse recente carinho advém de Hannah. A doçura, misturada com uma engraçada imaturidade, da menina-mulher é realmente conquistadora.

Os méritos também devem ser concedidos à interpretação de Emma Stone, uma das mais agradáveis revelações de Hollywood nos últimos anos. Se em “A Mentira” a atriz teve todo um filme para demonstrar sua veia cômica perfeita para o gênero, aqui ela precisa de poucos minutos para fazer o mesmo. Quem também chama a atenção apesar de ser coadjuvante é Marisa Tomei, como a ex-alcoólatra professora que passa a atormentar a vida do protagonista. Steve Carrel, por sua vez, volta a provar que tem total controle sobre sua inegável comicidade, ao deixá-la de lado em alguns momentos para dar lugar ao drama. Já Juliane Moore leva à tela grande a competência de sempre.

Complementando o elenco de renome estão Ryan Gosling e Kevin Bacon, este como o citado David Lindhagen. Eles se juntam a Jonah Bobo (como Robbie) e Analeigh Tipton (como Jessica), respectivamente, o menino que curte o seu primeiro amor e a babá da família que vê em Cal alguém bem mais do que um simpático patrão. Todos eles repartem sequências, recebendo a devida atenção da edição, quesito importante em longas com tramas múltiplas. Apenas soam equivocadas as coincidências apresentadas no desfecho do filme, numa desnecessária busca por risos e surpresas.
Glenn Ficarra, em seu primeiro trabalho na função, e John Requa (“O Golpista do Ano”) dividem a direção de “Amor a Toda Prova” dando à narrativa um ritmo que nunca desacelera e utilizando com esperteza a trilha sonora comum, que se torna especial pelo tom romântico e denso que conseguem incluir em diversas sequências. Mas são o roteiro e o elenco os grandes responsáveis pelo trunfo que é o filme, transformando-o em uma leve história de fácil identificação, que toca o coração e faz rir nas mesmas proporções. Afinal, quem nunca fez uma loucura ou estupidez por amor?
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema