Capitão América: aventura é a mais
divertida produção da Marvel Studios
Tendo em seu DNA a marca dos blockbusters oitentistas, esta versão para o cinema do Sentinela da Liberdade deixa o patriotismo ufanista de lado, conquistando o público com seu herói de matinê.
Avaliação: NOTA 9
Uma aventura no estilo clássico. Essa é a melhor maneira de descrever este “Capitão América – O Primeiro Vingador”. A palavra “América” no título, em tempos de pouca simpatia pelos nossos vizinhos do norte, tornou o filme a aposta mais arriscada da Marvel Studios até o momento, até por conta da lembrança do filme tosco dos anos 1990 estrelado pelo personagem. Felizmente, o diretor Joe Johnston tirou a naftalina das divertidas fitas de heróis dos anos 1980 e apresentou para o público um longa leve e divertido, embora com seus tons sombrios.
A história se passa (em sua maior parte) nos anos 1940, quando conhecemos o jovem Steve Rogers (Chris Evans), rapaz franzino, porém gentil e obstinado que, motivado pelos sacrifícios feitos por seus pais, quer se alistar e servir sua pátria durante a Segunda Guerra Mundial. Rejeitado repetidamente por sua constituição física frágil, Rogers acaba ganhando uma chance quando conhece o Dr. Abraham Erksine (Stanley Tucci), que o coloca como cobaia para um experimento que visa criar um soldado aprimorado, amplificando a níveis sobre-humanos não só a força e destreza do usuário, mas também aprimorando suas capacidades intelectuais.
A experiência dá certo, mas possui um fim trágico, fazendo de Rogers o único “super-soldado” dos EUA. Deixado de lado como mero instrumento de propaganda e ganhando o infame apelido de Capitão América, Rogers terá de provar o seu valor quando sua contraparte alemã, o deformado Johann Schmidt (Hugo Weaving) se apossa de um artefato de incrível poder, capaz de virar a maré da guerra não em favor dos nazistas, mas para sua própria facção, a Hidra.
Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely se aproveitam do fato de que já conhecemos bastante do Universo Marvel para inserir, sempre de maneira orgânica, detalhes dos demais filmes do estúdio dentro da narrativa. Assim, quando somos apresentados ao galanteador inventor Howard Stark (Dominic Cooper), sabemos logo a importância que o personagem terá no futuro. Além disso, o longa explica a origem do Cubo do qual Schmidt se apropria com um gancho em “Thor”, sempre deixando claro que não se trata de magia, mas de ciência, criando uma coerência nesse universo que teve sua pedra fundamental em “Homem de Ferro”.
Apesar desses detalhes que ligam a produção aos demais filmes da franquia Marvel Studios, o longa é o mais independente do estúdio apresentado até aqui, haja vista se passar quase que integralmente cerca de 70 anos antes dos eventos retratados em qualquer uma daquelas fitas. Deste modo, o foco é na jornada de Steve Rogers de um rapaz doente a herói americano, com Chris Evans tendo a responsabilidade de carregar o peso da película em seus ombros, não decepcionando em momento algum.
Evans conquista a plateia interpretando Rogers como um sujeito humilde e pacato, mas capaz de tudo para defender o que acha certo, combinando perfeitamente com a produção. Na primeira parte da projeção, realmente acreditamos na fragilidade do personagem, algo importantíssimo para que “compremos” a trajetória do protagonista, com os efeitos não funcionando como uma muleta para o ator, mas como uma verdadeira ferramenta. Destarte, quando o vemos no uniforme do Capitão América realizando suas proezas, o impacto dessas cenas fica bem mais acentuado.
O ator ainda interage com um elenco de apoio sólido. Hayley Atwell se sai bem como a superiora do Capitão, a inglesa Peggy Carter, sendo mais do que um mero rostinho bonito pelo qual Steve se apaixona. O veterano Tommy Lee Jones surge como o General Chester Phillips, se aproveitando de sua persona natural repleta de autoridade no personagem e até cede uma boa dose de humor. Dominic Cooper se apropria de alguns trejeitos de Robert Downey Jr. para o seu Howard Stark. Assim como Tony Stark, Howard tem muito do aviado Howard Hughes, em uma homenagem mais do que apropriada ao inventor (e uma referência espertíssima a “Rocketeer”, fita também comandada por Joe Johnston).
Stanley Tucci se sai bem como Erksine, que atua como uma figura paterna para Steve, sendo uma pena que saia de cena tão cedo. O mesmo pode ser dito de Sebastian Stan, cujo interessante e carismático Bucky possui seus ótimos momentos em cena, com seu destino sendo mostrado de maneira deveras abrupta.
O ponto fraco no elenco, infelizmente, vai para Hugo Weaving, mas não por sua culpa. Seu Johan Schmidt se mostra, de longe, o antagonista menos interessante dentre os apresentados nos longas da Marvel Studios, sendo bastante unidimensional, ambicionando o poder apenas pelo poder, com sua megalomania servindo como único elemento de destaque.
O ator até se esforça, dando imponência ao antagonista e criando tiques interessantes (note os momentos em que ele toca seu rosto), mas não é suficiente para tonar o Caveira Vermelha um vilão memorável. Toby Jones, que surge como o cientista nazista Arnin Zola, consegue ser mais dúbio e cativante que Weaving justamente por ter um personagem mais discreto.
Joe Johnston pode não ser fenomenal ao mostrar as cenas de ação, não saindo muito do proverbial “arroz com feijão”, mas o fenomenal design de produção da fita, com um quê retrô-futurista compensa esse detalhe, se utilizando de versões modificadas do maquinário e vestuário da época para compor o visual visto em tela. Além disso, o cineasta se utiliza muito bem do recurso das elipses para ilustrar as duas passagens de tempo inseridas na produção, tornando a evolução do Capitão muito mais crível.
O cinematógrafo Shelly Johnson, colaborador constante de Johnston, aposta em um nostálgico tom sépia para a primeira parte do filme e em uma fotografia mais acinzentada para as cenas de batalha, retratando bem o baque do Capitão (e por nós) ao passar para as frentes de batalha. O baque maior se dá no epílogo do filme, com o choque visual sofrido por Rogers após o clímax da produção, com a tonalidade das cores mudando radicalmente para ilustrar justamente isso.
Com direito a alguns easter-eggs para agradar os fãs da Marvel, “Capitão América – O Primeiro Vingador” se sai melhor ao lidar com a figura do seu personagem do que em mostrar o conflito deste com seu antagonista, sendo este seu calcanhar de Aquiles. No entanto, mesmo nesses momentos, o filme é uma aventura divertidíssima, que escapa da armadilha de cair no patriotismo ufanista com elegância e se mostra capaz de entreter plateias de todo o mundo.
P.S.: Após os créditos, há o teaser trailer de “Os Vingadores”, próxima participação do Capitão América nas telas.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
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