Avaliação: NOTA 4
 


Parece que Hugo Carvana não soube bem qual era o seu objetivo ao realizar este “Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo”. O longa tenta prestar uma homenagem aos atores da velha guarda, quando se fazia o riso pelo riso. Nesse ponto, até que se sai bem. O problema é quando mescla essa homenagem (agridoce por natureza) a uma trama aborrecida e contada por um personagem chato, interpretado por um ator que parece não ter entrado de cabeça em campo.

O título do filme é um bordão repetido pelo ator Ramon Velásquez (Tarcísio Meira) para o filho Lalau (Gregório Duvivier) ao fazer suas burradas. Os dois viajam o Brasil inteiro com um stand up de comédia meio mambembe, com a dupla recebendo mais problemas que qualquer outra coisa graças aos esquemas que Ramon arma para ganhar dinheiro e financiar um sonhado espetáculo ao lado do rebento.

No entanto, Lalau, que já foi uma estrela promissora no mundo das novelas, já está cansando da vida de cigano ao lado do pai. Certo dia, ele recebe uma proposta irrecusável da bela jornalista Flora (Flávia Alessandra) para incorporar um guru indiano capitalista para um workshop motivacional para o grupo da empresária Carol (Ângela Vieira). A partir daí, o rapaz entra em uma barca furada e sua única chance de escapar dela está no talento e na malandragem do velho Ramon.

A película tem algum ritmo quando Tarcísio Meira entra em cena. Canastrão e malandro, seu Ramon é uma figura maior que a vida, daquelas que iluminam a tela só ao aparecer. A questão é que o protagonista do filme é Lalau e Gregório Duvivier não consegue segurar as pontas. Ele adota um tom monótono ao narrar a trama em flashback, não dando nenhum senso de urgência à história, algo que se torna necessário, considerando a metalinguagem que começa a se desenrolar em meio à projeção.
Mesmo fora da narração, o personagem Lalau não consegue decolar ou convencer como cômico. Suas cenas como o Guru Bob são gags tiradas diretamente de “Zorra Total”, sem nenhuma originalidade. Até a história de se passar por guru indiano se mostra um chavão antigo e não muito bem utilizado. A graça da maioria das piadas simplesmente morre antes de chegar ao público.

No elenco secundário, Herson Capri parece ter nascido para o papel de executivo corrupto e ameaçador , já sendo parte da persona do ator de tanto viver esse tipo de personagem na telinha. Na ala feminina, Ângela Vieira convence mais como femme fatale do que Flávia Alessandra, que é linda, mas simplesmente não transmite nenhuma emoção ou carisma, sendo incapaz de estabelecer alguma química com os demais membros do elenco.

Tecnicamente, o filme não é nenhum primor, sendo uma daquelas produções que mais parece um especial de fim de ano da Globo do que uma produção para o cinema. A montagem derrapa feio em algumas elipses constrangedoramente truncadas. Note bem que alguns diálogos parecem parar por vários minutos para que os personagens se desloquem para um cenário completamente diferente e recomecem a falar do mesmo ponto em que haviam parado.
O próprio diretor Hugo Carvana faz uma ponta como o mentor de Lalau, advogando pelos artistas veteranos, em uma cena até tocante. Mas os discursos de “como é difícil fazer arte no Brasil” e de pedir “respeito aos mais velhos” acabam caindo no vazio, desacompanhados de uma história pungente.

Felizmente, Tarcísio Meira consegue salvar a produção do fiasco total ao fazer uma divertida versão tupiniquim de Perry Mason no último ato da produção, nos melhores momentos da fita. Mas é difícil sair do cinema com uma imagem positiva quando o último frame antes dos créditos é um egocêntrico zoom no diretor, que parece não reconhecer quem evitou que sua produção fosse um desastre maior.
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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.