SUPER 8
Nota Cineclick
Heitor Augusto
Com direção assinada por J.J. Abrams, Super 8 traz muito do entendimento de cinema de seu principal produtor, Steven Spielberg: um entretenimento digno que não decide anular as possibilidades do filme permanecer no imaginário do espectador um pouco mais após o final dos créditos. No mar medíocre que caracteriza a produção americana recente, ver um filme que não se esgota na última pipoca mastigada ou no derradeiro refrigerante sorvido é motivo para festa.
Se fosse um filme de Michael Bay, as explosões e a tecnologia seriam as protagonistas. O monstro que assusta os pré-adolescentes duma pequenina cidade de Ohio, seria explicitado, mostrado em primeiríssimos planos, em close-up. O animal seria mais humano que os próprios seres humanos. Que bom que Super 8 não parou no colo do diretor de Transformers, o senhor Pirotecnia.
A diferença nesses dois tipos de cinema está no que se privilegia. Por isso Super 8 coloca as explosões em segundo plano. Num cenário de ficção científica, já que estranhos eventos acometem a comunidade, o que importa é a jornada humana que lida com o inexplicável. Tem algo mais “spielbergiano” do que isso?
Como indica o título, o fazer cinematográfico é peça-chave neste filme, ambientado em 1979. A título de curiosidade, ano em que Spielberg lançara 1941 – Uma Guerra Muito Louca, na qual personagens histéricos se preparam para uma suposta invasão japonesa, e dois anos depois de Contatos Imediatos de Terceiro Grau, quando o realizador lida com criaturas não-terrestres. Mas chega de falar do Spielberg.
Nesse cenário do enredo escrito por J.J. Abrams, seis amigos entram na adolescência compartilhando a convivência diária, comandados por Charles (Riley Griffiths), o gordinho que dirige um filme de zumbis rodado justamente em super-8, bitola que naquele momento estava em extinção.
Curioso observar que, enquanto lá o super-8 era brinquedo na mão de moleques curtindo a ociosidade da pós-infância, no Brasil foi arma para os cineastas anarquistas botarem para quebrar, de Jomard Muniz de Britto a Edgar Navarro, de José Agrippino a Jairo Ferreira. Lá, o desejo juvenil de brincar, enquanto cá, o frisson adulto de arrebentar.
Na noite em que vão filmar a despedida do casal fictício na estação ferroviária da cidade, algo inexplicável acontece: a colisão de um trem com um carro. Os pacatos moradores pensam trata-ser de um acidente, menos os garotos, que não só presenciaram a tragédia, mas também a filmaram. O que realmente aconteceu?
Este é o mote que deve prender o espectador. Aqui está a sua porta de entrada para o entretenimento, bem cuidada e com perfeição técnica, como é muito comum da produção contemporânea de Hollywood. A diferença é a pretensão do filme em ser um pouco mais do que isso.
Num primeiro momento, Super 8 se desenvolve como um mero filme de ficção científica, trazendo, inclusive, as convenções do gênero nos anos 1950, entre elas o Exército como instituição bruta, acéfala e meramente dispensável na resolução do mistério - nada contra a esse posicionamento.
No eficiente trabalho para a criação do suspense, os efeitos sonoros desequilibram positivamente, proporcionando uma interessante atmosfera. Isso numa primeira camada, a do puro entretenimento, pois ainda existem outras portas de entrada.
Por exemplo: o que garante que o monstro que assusta os garotos, capturado pela câmera super-8 de Charles e compreendido pela inteligência de Joe (Joel Courtney) não é uma metáfora de como lidar com o desconhecido? Não como elemento externo (eu e o outro, na referência claríssima a E.T. - O Extraterrestre), mas do sujeito com ele mesmo? Quem disse que ele não poderia representar um medo que temos de nós mesmos?
Ainda mais por se tratar de adolescentes que começam a entender o peso dos adultos em suas vidas e as dificuldades de largar a zona de conforto. Nesse sentido, Super 8 fica ainda mais interessante por tratar de sentimentos comuns.
O senão nesse tratamento é a superficialidade e o tom ligeiro de um roteiro que moraliza o fechamento de todas as pontas: temos sensações delineadas, mas jamais aprofundadas. Ou, pior, soterradas por soluções edificantes, o que enfraquece o potencial do filme em ser algo a mais e desenvolver com mais veracidade um interessante desenvolvimento dramático: se em Trabalhar Cansa, o surgimento de um monstro revela a podridão do comportamento de seus personagens, em Super 8 é janela para uma nova chance rumo ao diálogo.
Se estendermos um pouco mais as comparações, existe também a própria transformação da bitola como referência à idade adulta. Se na adolescência usar o super-8 foi experiência para esses meninos, quando crescidos – entre eles, imagino, gente da geração de J.J. Abrams – migraram para a película como algo sério, de gente grande.
Tudo isso para dizer que num ano medíocre do cinema americano, Super 8 é um filme respeitável, uma ficção científica que abre portas para desdobramentos minimamente austeros.
Se fosse um filme de Michael Bay, as explosões e a tecnologia seriam as protagonistas. O monstro que assusta os pré-adolescentes duma pequenina cidade de Ohio, seria explicitado, mostrado em primeiríssimos planos, em close-up. O animal seria mais humano que os próprios seres humanos. Que bom que Super 8 não parou no colo do diretor de Transformers, o senhor Pirotecnia.
A diferença nesses dois tipos de cinema está no que se privilegia. Por isso Super 8 coloca as explosões em segundo plano. Num cenário de ficção científica, já que estranhos eventos acometem a comunidade, o que importa é a jornada humana que lida com o inexplicável. Tem algo mais “spielbergiano” do que isso?
Como indica o título, o fazer cinematográfico é peça-chave neste filme, ambientado em 1979. A título de curiosidade, ano em que Spielberg lançara 1941 – Uma Guerra Muito Louca, na qual personagens histéricos se preparam para uma suposta invasão japonesa, e dois anos depois de Contatos Imediatos de Terceiro Grau, quando o realizador lida com criaturas não-terrestres. Mas chega de falar do Spielberg.
Nesse cenário do enredo escrito por J.J. Abrams, seis amigos entram na adolescência compartilhando a convivência diária, comandados por Charles (Riley Griffiths), o gordinho que dirige um filme de zumbis rodado justamente em super-8, bitola que naquele momento estava em extinção.
Curioso observar que, enquanto lá o super-8 era brinquedo na mão de moleques curtindo a ociosidade da pós-infância, no Brasil foi arma para os cineastas anarquistas botarem para quebrar, de Jomard Muniz de Britto a Edgar Navarro, de José Agrippino a Jairo Ferreira. Lá, o desejo juvenil de brincar, enquanto cá, o frisson adulto de arrebentar.
Na noite em que vão filmar a despedida do casal fictício na estação ferroviária da cidade, algo inexplicável acontece: a colisão de um trem com um carro. Os pacatos moradores pensam trata-ser de um acidente, menos os garotos, que não só presenciaram a tragédia, mas também a filmaram. O que realmente aconteceu?
Este é o mote que deve prender o espectador. Aqui está a sua porta de entrada para o entretenimento, bem cuidada e com perfeição técnica, como é muito comum da produção contemporânea de Hollywood. A diferença é a pretensão do filme em ser um pouco mais do que isso.
Num primeiro momento, Super 8 se desenvolve como um mero filme de ficção científica, trazendo, inclusive, as convenções do gênero nos anos 1950, entre elas o Exército como instituição bruta, acéfala e meramente dispensável na resolução do mistério - nada contra a esse posicionamento.
No eficiente trabalho para a criação do suspense, os efeitos sonoros desequilibram positivamente, proporcionando uma interessante atmosfera. Isso numa primeira camada, a do puro entretenimento, pois ainda existem outras portas de entrada.
Por exemplo: o que garante que o monstro que assusta os garotos, capturado pela câmera super-8 de Charles e compreendido pela inteligência de Joe (Joel Courtney) não é uma metáfora de como lidar com o desconhecido? Não como elemento externo (eu e o outro, na referência claríssima a E.T. - O Extraterrestre), mas do sujeito com ele mesmo? Quem disse que ele não poderia representar um medo que temos de nós mesmos?
Ainda mais por se tratar de adolescentes que começam a entender o peso dos adultos em suas vidas e as dificuldades de largar a zona de conforto. Nesse sentido, Super 8 fica ainda mais interessante por tratar de sentimentos comuns.
O senão nesse tratamento é a superficialidade e o tom ligeiro de um roteiro que moraliza o fechamento de todas as pontas: temos sensações delineadas, mas jamais aprofundadas. Ou, pior, soterradas por soluções edificantes, o que enfraquece o potencial do filme em ser algo a mais e desenvolver com mais veracidade um interessante desenvolvimento dramático: se em Trabalhar Cansa, o surgimento de um monstro revela a podridão do comportamento de seus personagens, em Super 8 é janela para uma nova chance rumo ao diálogo.
Se estendermos um pouco mais as comparações, existe também a própria transformação da bitola como referência à idade adulta. Se na adolescência usar o super-8 foi experiência para esses meninos, quando crescidos – entre eles, imagino, gente da geração de J.J. Abrams – migraram para a película como algo sério, de gente grande.
Tudo isso para dizer que num ano medíocre do cinema americano, Super 8 é um filme respeitável, uma ficção científica que abre portas para desdobramentos minimamente austeros.
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