Quero Matar Meu Chefe:
o bom humor do primeiro ato que se perde em seguida
Que meu chefe não me leia...
Avaliação: NOTA 6
As possibilidades são muitas quando o assunto é conviver com alguém que oferece, diariamente, todas as chances para o crescimento – ou decadência – profissional de um subordinado na hierarquia interna de uma empresa. Chefe e funcionário podem desenvolver uma relação de confiança e interdependência, e nesses casos uma promoção costuma ser a recompensa mais adequada.
Por outro lado, descobrir que seu chefe é um tirano enrustido em peles de beato é uma possibilidade no mínimo desesperadora. “Quero Matar Meu Chefe” brinca com encantadores ambientes de trabalho que revelam outras verdades entre as quatro paredes das salas de diretoria.
É verdade que não se esbarra todo dia com chefes tão malignos. Assumir o posto de vice-liderança para, por exemplo, cortar o barato do melhor funcionário da empresa, é algo que foge do imaginável. Assim como encontrar seu superior cheirando pó no banheiro do corredor.
E o que dizer daquelas que apalpam seu traseiro e soltam piscadelas maliciosas em momentos inesperados? As peculiaridades dos meus chefes ainda passam longe disso, mas não é raro encontrar histórias que beiram o absurdo. Há alguns anos, uma dona de restaurante norte-americana foi denunciada por assédio sexual contra um cozinheiro e justificou suas atitudes por uma lei perdida no tempo que garantia aos chefes o direito de fazer qualquer coisa com seus subordinados. E tudo é possível.
No caso dos chefes de Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day, todas as justificativas para o crime parecem completamente aceitáveis e plenamente passíveis de realização. Mas essa colocação em prática dos planos mirabolantes é assunto para outros parágrafos. Na verdade, o melhor de “Quero Matar Meu Chefe” são as sequências do primeiro ato, quando o público conhece as manias e vontades dos três chefes: o excelente Kevin Spacey, Colin Farrell e Jennifer Aniston. É na primeira metade do filme que assistimos ao acelerado processo de sedução da dentista sobre o assistente, ao herdeiro que pede ao empregado que demita o cadeirante do escritório e ao diretor que gargalha quando escuta o apelido carinhoso da vó falecida de seu subordinado.
E então, quando a paciência dos três protagonistas chega ao fim e o filme entra na onda do cinema de humor-ação que virou moda nos últimos anos, sua qualidade cai. As boas piadas são enterradas, a tensão dos escritórios é deixada de lado e tudo converge para um único propósito: a elaboração de um plano capaz de acabar com a vida dos três chefes. A partir daí, o longa entra em uma fase em que o que prende o espectador na poltrona é a curiosidade pela conclusão dos planos – e nesse ponto sua construção foi satisfatória, já que nossas suspeitas sobre o destino dos chefes são derrubadas a cada momento.
A relativa não previsibilidade do roteiro de Michael Markowitz, um veterano escritor de episódios para seriados, é um ponto forte que não consegue recolocar o filme no topo de qualidade que assumiu em seu início. A falha é muito grande para ser contornada.
Parte da culpa deve ser atribuída ao diretor Seth Gordon, do sem graça “Surpresas no Amor”. Apesar de carregar em sua bagagem experiências com a direção de alguns episódios da série “The Office” – e talvez isso explique seu excelente trabalho na primeira metade do filme, com a criação de um ambiente hostilmente cômico – o que assistimos na maior parte de “Quero Matar Meu Chefe” é uma sucessão de momentos exaustivamente explorados por produções do gênero.
Qualquer resquício de uma originalidade inteligente foi deixado de lado para dar lugar ao ritmo frenético de perseguições em alta velocidade, cenas de espionagem e piadas prontas. Como diretor de cenas de ação, Gordon não convence.
Caso optasse por desenvolver melhor e em mais tempo as situações vividas entre as paredes dos escritórios, com a tensão características das relações desiguais entre cargos de comando e subordinados, o resultado final de “Quero Matar Meu Chefe” seria superior. Pelo pouco que assistimos, o diretor pareceu suficientemente capaz de carregar uma hora e meia de um bom filme, original e engraçado. Sua opção não foi a melhor.
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Jáder Santana é crítico no CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.
Jáder Santana é crítico no CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.
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