Avaliação:  NOTA 7
 
 
Quando lançou “O Planeta dos Macacos”, em 1963, o escritor francês Pierre Boulle movimentou a sociedade literária europeia com sua crítica social disfarçada em forma de ficção científica. A mensagem não passou despercebida e bastava aguçar os sentidos para perceber que o território dominado pelos símios superdesenvolvidos funcionava perfeitamente como uma alusão ao totalitarismo político e escassez intelectual das nações. Como uma fábula futurista, aos moldes de “Laranja Mecânica”, “A Revolução dos Bichos” e “Admirável Mundo Novo”, o sentido crítico original de suas páginas acabou perdendo espaço para o apelo pop que a obra representou e para todas as possibilidades que seu texto sinalizava. Foi assim que, cinco anos depois, foi lançada a primeira adaptação cinematográfica do livro, com Charlton Heston no papel principal.

Mantendo certa distância dos escritos originais – com a liberdade criativa permitida aos realizadores da Sétima Arte –, o diretor Franklin Schaffner acrescentou alguma agilidade e dinamismo à trama, garantindo o êxito comercial do filme. A crítica social ainda estava lá – muitos analisaram a película como um grito contra a Guerra-Fria –, embora encoberta por detalhes que fugiam completamente da história original. O projeto teve quatro sequências até 1973 e originou uma série de animação, além de inúmeros especiais reprisados até hoje pelas emissoras de TV. Em 2001, Tim Burton lançou sua visão da história, conformada ao seu estilo peculiar e com doses ainda mais imperceptíveis de crítica social. Finalmente, em 2011, chega aos cinema “Planeta dos Macacos – A Origem”, uma releitura que, além do título, pouco carrega da ideia criada por Boulle.

Na verdade, o diretor Rupert Wyatt pode ter levado a cabo seu projeto sem ter lido uma página sequer do texto francês. Aqui, temos uma visão que foge em absoluto da proposta inicial de apresentar ao público um novo mundo dominado por macacos, em primeiro lugar porque esse mundo sequer existe. O mundo é humano, é o nosso mundo, com seus prédios opulentos, trânsito caótico e pequenos prazeres. Os macacos estão lá por acaso e em lugares bem determinados: no zoológico, em centros de captura e laboratórios de estudos químicos. Nesse filme, o protagonismo não é deles. Os símios são acessórios colocados à disposição dos humanos e do cientista Will Rodman (James Franco), que pesquisa a cura para o Alzheimer. Will registrou grandes avanços com a aplicação de certo composto em macacos, mas uma experiência mal sucedida acabou minando seus planos. Seu único consolo foi levar para casa o filhote primata de uma de suas cobaias.

Batizado de César, uma alusão ao protagonista do quarto filme da série iniciada em 68, o macaquinho logo demonstra uma aptidão inata para atividades que outros primatas de sua espécie não conseguiriam desenvolver. Além de criar, junto ao seu dono, estratégias exclusivas de comunicação, César realiza movimentos que ultrapassam as possibilidades símias. Após um acidente, o macaco é levado para um abrigo de animais e passa a conviver com seus semelhantes. É lá que começa a revolução, quando resta pouco mais de 40 minutos para o final do filme.

Deixada em segundo plano, a revolta dos macacos funciona como válvula de escape para acelerar a longa introdução da trama, que de tão longa talvez nem possa ser classificada de tal forma, estendida em aproximadamente 50 minutos de um filme que tem pouco mais de uma hora e meia. Não que possa ser tomada como um ponto negativo. Ela é tão interessante quanto os momentos finais da narrativa e, sob certos pontos de vista, até superior, visto que se desenvolve sem pressa rumo ao final. Os personagens são bem elaborados – os atores estão excelentes – e o público pode conhecer as motivações e necessidades de cada um deles. A exceção é a namorada do protagonista, vivida pela atriz indiana Freida Pinto, mais deslumbrante do que nunca. Sem tempo para ser desenvolvida, a personagem de Freida poderia ser retirada tranquilamente da trama.

Em observação geral, o grande problema de “Planeta dos Macacos – A Origem” é a velocidade do seu segundo ato, que contrasta de forma negativa com um primeiro momento belamente desenvolvido. Os clichês do gênero, a falta de inovação na direção, as mudanças no roteiro e até as risíveis cenas de diálogo entre macacos só reforçam o clima atemporal de uma história que ultrapassou quase cinco décadas. Com muito, muito esforço, é até possível vislumbrar alguma crítica social no meio daqueles primatas todos…
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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.