Avaliação: NOTA 7
 
 

O título original, “Os Românticos” (“The Romantics”), se encaixaria melhor ao propósito do filme que, em português, foi batizado como “O Casamento do Meu Ex”.  A classificação indicativa, uma comédia romântica, também carrega sua parcela de distorção, quando melhor seria considerá-lo um drama imaturo. Não confunda as bolas e pague pelo ingresso esperando por muitos motivos para gargalhar. Quem assumir o risco de assistir ao longa vai presenciar 90 minutos de um retrato mais ou menos impressionista de uma reunião de amigos, com seus conflitos internos e momentos de descontração característicos.

Como em uma pintura de Monet, a história é contada de forma visualmente agradável e limpa, esteticamente impecável e tradicional, sem grandes rompantes de inovação ou jogo hiper-elaborado de luz e sombras. Em “O Casamento do Meu Ex”, a composição dos quadros é singela e delicada, com iluminação distribuída nos lugares certos e pouco espaço para a distorção do escuro. É um filme branco, no máximo bege, o que de cara revela sua ambição de fugir do melodrama exagerado e das grandes atuações que fazem o time de atores verter litros de lágrimas e perder noites inteiras de sono. Aqui, tudo é equilibrado, desde a direção sem grandes inovações, até a atuação do elenco, formado por nomes que não figuram no Olimpo dos atores.

O cenário da trama, assim como o figurino de seus personagens, parece retirado dos quadros campestres do pintor francês, com seus grandes campos verdes e árvores altas que dão ao ambiente ares quase ornamentais. As mesas e suas toalhas impecáveis estão postas na área externa de uma grande casa de madeira branca e janelas de vidro. Em seu interior, papéis de parede com motivos florais e móveis rústicos não deixam escapar o clima que permeia toda a produção. O casamento de Lila (Anna Paquin) e Tom (Josh Duhamel) vai começar em instantes, e os convidados, com seus trajes que, por mais modernos e alinhados que possam parecer, não deixam de lembrar as figuras que ilustram quadros como “Madame Monet and her son” e “Balcony on the sea in St. Adresse”.

Em um filme morno, de cores pálidas e argumento sem força suficiente para sustentá-lo por muito tempo, foi decisão sábia limitar sua duração para pouco mais de 90 minutos. O espectador não corre o risco de ficar entediado com a “constância” da narrativa, executada em ritmo certo e com situações específicas que garantem outros bons minutos de história. Dois ou três dias são narrados em “O Casamento do Meu Ex”, desde a chegada do grupo de amigos ao local do casório até o momento de sua execução que quase consegue ser excitante.

Não há tempo suficiente para se aprofundar na personalidade de seus personagens, e talvez nem tenha sido esse o desejo da diretora Galt Niederhoffer, produtora de filmes com relativo sucesso de público e crítica e que não abandonou o ar do cinema dito alternativo. Aqui, tudo parece tão superficial que ninguém sentiria falta se retirassem, inadvertidamente, um ou dois personagens do grupo central de amigos. Em um das sequências da trama, é dito que todos do grupo viviam uma encenação e que ninguém ousava representar seu verdadeiro papel. A verdade é que nós também não conhecemos a verdadeira face daquelas pessoas. E isso está longe de ser um problema!

A trilha sonora do longa também está antenada ao que é esperado de filmes que procuram valorizar seu lado independente. Moderna, mas com características deliciosamente fora de moda, tem em sua lista nomes como os americanos do The Bird and The Bee, que encantam públicos de todo o mundo com sua mistura de cores, música eletrônica e jazz, e o Bedouin Soundclash, que deu uma nova roupagem ao reggae jamaicano.

É fácil perceber, durante toda a execução de “O Casamento do Meu Ex”, a presença de elementos clássicos aliados de forma ponderada ao novo. O resultado dessa mistura equilibrada é um filme de fácil digestão, sem grandes atuações ou sequências memoráveis, mas acima da média de qualidade dos outros filmes enquadrados na prateleira das comédias românticas. É aquele filme de qualidade que você ainda vê, vez por outra, na Sessão da Tarde.
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Jáder Santana é crítico no CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.