Avaliação: NOTA 1


A série de terror criada pelo italiano Tiziano Sclavi em 1986 demorou para chegar às telonas, mas se aproveitou do atual momento da indústria em se apropriar de histórias conhecidas para movimentar o público no cinema. A despeito do debate sobre a fidelidade à obra original, a intenção é avaliar “Dylan Dog e as Criaturas da Noite” como produto cinematográfico. Nesse quesito, o longa se apresenta como uma promissora trama que se perde em alternativas infames de roteiro e de baixo orçamento, que atrapalha o desempenho do que deveria ser um ponto forte: os efeitos visuais.

A trama é focada no personagem do título, Dylan Dog (Brandon Routh), um detetive que hoje trabalha na resolução de casos para clientes ordinários. Seu passado, entretanto, volta à tona quando ele se depara com um caso envolvendo os chamados “monstros”. Relutante em se envolver novamente com vampiros, lobisomens e outras bestas, Dylan logo se entrega à investigação do assassinato de um homem misterioso, solicitado por sua filha Elizabeth (Anita Briem). Ao que parece, um lobisomem atacou o homem e está causando outras mortes em Nova Orleans. A investigação levará Dylan a um esquema bem maior de luta pelo poder e extinção das raças “fracas” em uma sociedade em que as pessoas escondem suas verdadeiras faces.

Em tempos em que “Crepúsculo” é uma das franquias mais exaltadas pelos jovens e que a concepção de seres especiais se distorce a cada dia com vampiros brilhosos e lobisomens fofinhos, “Dylan Dog e as Criaturas da Noite” tenta se aproximar um pouco mais da essência de séries como “True Blood” e “The Walking Dead”. Vampiros, lobisomens e zumbis convivem no meio dos humanos sem ao menos serem notados, e Dylan um dia foi o responsável por manter a paz entre esses povos. Com um passado enigmático que o afastou do cargo, o protagonista se torna agora um herói de jeans e terno para, com sua experiência sobre tais “monstros”, desvendar uma nova charada.

O primeiro grande problema do longa vem do roteiro escrito por Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer. Ao mesmo tempo em que eles vomitam informações de diferentes níveis ao espectador a cada cena, outras são escondidas de maneira infame, causando um caos no script que sempre parece estar enganando o espectador. Entretanto, quando o filme está pela metade, percebemos que de toda a mitologia criada e os conflitos gerados para o personagem são pouco aproveitáveis. Isso porque não há um bom trabalho na criação de uma esfera desse submundo prestes a estourar uma nova guerra. Não fica claro para quem devemos torcer, ou mesmo se devemos. Dessa forma, o espectador cria um distanciamento em que pouco importa o avanço ilegal de uma espécie em detrimento das outras.

O roteiro também se preocupa em criar um alívio cômico para Marcus (Sam Huntington), parceiro de Dylan. Ainda que o ator se esforce para desempenhar as piadas da melhor forma possível, os diálogos são poucos inspirados. Ao lado de Brandon Routh, que atua no automático e nunca deixa claro de onde vem todo o seu conhecimento sobre o submundo, já que é jovem e não vive por décadas como os vampiros, os dois compartilham sequências grotescas de humor barato. Aliás, a crise de Marcus durante a película tira o andamento, que já não estava tão positivo, da trama principal. O interesse amoroso do protagonista, vivido por Anita Briem, também se rende a uma reviravolta praticamente patética que, se não bastasse, ainda comporta uma outra reviravolta mais infantil ainda.

O diretor Kevin Munroe, responsável por “As Tartarugas Ninja – O Retorno” (2007), tenta driblar as falhas e os furos do roteiro, mas por mais competente que fosse não conseguiria esconder sua fragilidade. Da mesma forma agem a fotografia e a trilha sonora, que acabam caindo no teor genérico e pouco acrescentam à narrativa. Vergonhoso mesmo é o setor de efeitos especiais e visuais, que declaram o baixo orçamento do filme e a incapacidade de seus profissionais em gerar uma cena bem feita, onde seus monstros não apareçam borrachudos ou mesmo mascarados.

A maquiagem é outro setor que constrange, com conceitos pouco artísticos e que quase nunca causam impacto ou susto. A edição tenta a todo custo não diminuir o ritmo da trama, mas o dinamismo não aparece, muito menos ao usar o corte wipe repetidamente. Em alguns momentos, essa alternativa se torna risível e retira a pouca credibilidade que a história tenta manter.

Praticamente interminável, “Dylan Dog e as Criaturas da Noite” está para provar que, além de precisar uma equipe técnica competente para contar uma história fantasiosa, o baixo orçamento pode atrapalhar as grandes ambições de um estúdio que vê no mercado uma oportunidade de fixar no público jovem um herói cujo maior poder deveria ser a inteligência. Mais uma história promissora que se perde meio a tanto mau gosto. Em casos como esse vale agradecer o fato de que sempre teremos o material original para limpar uma experiência cinematográfica negativa.

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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.