“O que te traz aqui, Natalia?” É mais ou menos assim que começam as consultas de Natalia com a sua terapeuta Dra. Frida na série “Adorável Psicose”, exibida no canal Multishow. Psicótica confessa, Natalia busca em cada episódio compreender um pouco mais sobre a sua relação com o mundo. Aos 26 anos e nenhum namorado no histórico, a roteirista começou a contar suas paranoias em um blog e logo foi convidada a estrelar o próprio programa de televisão.

Roteirista há três anos, tendo colaborado com os humorísticos globais “Zorra Total” e “Junto e Misturado”, Natalia é formada em Rádio e TV. Com a oportunidade de protagonizar a série, ela descobriu o prazer também pela interpretação. Afinal, ninguém melhor do que ela para interpretar a si mesma, construindo aquela personalidade peculiar. Após duas temporadas de sucesso e atualmente filmando a terceira, Natalia Klein conversou com exclusividade com o Cinema com Rapadura sobre seu processo criativo de um universo psicótico.

A fonte de sucesso de “Adorável Psicose” não é só a empatia do elenco, mas principalmente a sinceridade com que as situações são abordadas. A inspiração vem da vida pessoal de Natalia, que transpõe para os roteiros um pouco do que viveu ou imagina viver. “Eu escrevo sozinha, tanto o blog como os roteiros da série. Penso em encontrar alguém para escrever comigo, mas essa busca é tão difícil quanto achar a pessoa certa no campo afetivo. Requer química, ritmos parecidos, senso de humor compatível… Meu processo criativo é caótico, mas por enquanto tem funcionado”, afirmou a atriz.

Inspirações
As referências para a criação do sitcom são “várias, tipo várias”. Ao ser questionada se “Sex and the City” seria uma das inspirações, a autora negou. “Apesar de ter assistido a todas as temporadas de ‘Sex and the City’, eu não me identifico com o humor mulherzinha-de-sapatos-Manolo-Blahnik. 

Na verdade, não acredito em humor mulherzinha. Acho que já deu disso. Nem as mulheres aguentam mais serem lembradas de que gostam de sapatos e roupas. Quero fazer um programa divertido, que fale sobre aquilo que me interessa, do meu ponto de vista – que, por coincidência, é o ponto de vista de uma mulher”, afirmou. Mesmo assim, não se pode negar que “Adorável Psicose” também discute relacionamentos e é fashionista, galgada na cultura vintage dos anos 40, 50 e 60, mas com muitas cores e estampas. “No dia-a-dia eu uso roupas muito semelhantes [com as usadas na tela], tanto que as duas primeiras temporadas foram feitas basicamente com meu guarda-roupa”, confessou.

Natalia também levou para a ficção seus melhores amigos na vida real, Carol (Carol Portes) e Diogo (Raoni Seixas). Já Dra. Frida (Juliana Guimarães) e Beth (Regiana Antonini) são inspiradas em terapeutas e chefes que ela já teve. “O cara de bigode é o único personagem 100% inventado. Ele deve representar o tipo de homem que me atrai, o cafajeste charmoso. Já o Zingo deve representar a minha esperança de encontrar o cara certo. Não é à toa que ele é imaginário…”, completou.


Exposição
Pelo caráter tão pessoal que narra suas histórias, a inspiração vira exposição. Isso não é problema para a autora, já que gera identificação imediata do público com os casos do dia.  “Me exponho bastante na série, sem dúvida. Mas também se não fosse por essa posição vulnerável em que me coloco, ‘Adorável Psicose’ não teria o mesmo apelo. Claro que não se trata da exposição de um reality show. 

Até porque muita coisa do que escrevo é inventada. A exposição se dá pela franqueza com que expresso minhas inseguranças, meus medos. Esse é todo o diferencial da série. É isso que a coloca acima dos clichês desse tipo de temática”, pontuou a atriz. Desse jeito meio maluco e muito sincero, a vida de Natalia começou a fazer parte de psicóticos do Brasil inteiro. O alcance da série ultrapassou a exibição no Multishow e já está disponível na íntegra no canal de seu namorado imaginário, Zingo Schneider, no Youtube.

A roteirista atribui a repercussão positiva do sitcom justamente por essa troca estabelecida com o espectador. “É muito bacana ver que o público se identifica com as minhas paranoias. Bom saber que não estou sozinha no mundo, que existem outros paranoicos e complexados por aí. Normalmente, não tenho muita dimensão do alcance da série. Até hoje me choco quando as pessoas vêm falar comigo. Sempre as olho com uma cara de ‘sério mesmo que você me assiste?’. Mas compreendo a identificação. Falo de uma maneira muito honesta, tanto no blog como na série. E essa franqueza provoca uma empatia imediata no espectador”, contou.

Cinema
Sobre a possibilidade de adaptar o sitcom aos cinemas, ela dá boas notícias. “A ideia é que o longa saia. Estamos todos trabalhando para que isso aconteça, já existe até um argumento. Vai ficar um pouco diferente da série, que é uma sitcom. O ritmo do filme será outro, mas sempre com os mesmos elementos que cativaram o espectador”, garantiu. A preocupação de que o longa realmente ganhe linguagem cinematográfica é essencial para dissociar outras adaptações de séries de TV que praticamente criaram um episódio mais extenso para suas versões no cinema.

Nova temporada
Para os fãs que se sentem órfãos de novos episódios, Natalia contou que a terceira  temporada está prevista para estrear em abril. As gravações já estão acontecendo e diversão não falta nos sets de filmagem. Em seu Twitter pessoal, a autora publica fotos e novidades sobre os próximos episódios. Ela já afirmou que uma novo personagem integrará a trama e deve disputar o seu amor com o Cara de Bigode. Esse cara novo se chamará Cara Novo.

Apaixonada pelo que faz, Natalia não consegue apontar seus episódios favoritos. “Seria como escolher um filho preferido. Mas essa temporada nova tem episódios bem bacanas, incluindo os dois últimos, que sáo uma sequência com parte 1 e 2, com um clima de mistério e investigação”, disse. Veja abaixo algumas fotos das filmagens divulgadas no perfil da atriz:

 
Novo visual de Natalia Klein.


 
Personagens Carol e Diogo no consultório da Dra. Frida


 
Personagens Givanchir, Dra. Frida e Beth


 
Natalia Klein ao estilo “Bonequinha de Luxo” e ao lado do elenco da terceira temporada.


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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.