sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CRAZY LEGS






















Por: Adriano Moralis






Fotos: Carlos Egry e Crazy Legs


















Se a transgressão da juventude começou com jaquetas de couro, topetes, carros, motocicletas e boas doses de rebeldia, para desespero de uma sociedade que passava a conhecer o "diabo" em forma de música, para uma geração isso significava o nascimento não só de um estilo musical, mas de um estilo de vida.












Isso aconteceu há pelo menos 50 anos, quando o rebolado de Elvis era profano, o casamento de Jerry Lee Lewis com sua sobrinha de 13 anos era o fim dos tempos, e tantas outras coisas eram consideradas subversivas, principalmente tudo que tinha rock como sobrenome. É nesta época de transgressão que encontramos os elementos de um dos gêneros mais instigantes e que até hoje conquistam o público por onde passam, o nome desse filho do blues e do country, chama-se rockabilly.


















E para retratar esse estilo, nada mais justo do que apresentarmos uma das bandas brasileiras mais importantes do gênero, o Crazy Legs. Entre carros antigos, pin ups maravilhosas, esses rapazes do Crazy Legs conseguem o feito de em pleno 2004 soarem como típicos músicos de rock americano dos anos 50, seria mais ou menos como se tivéssemos congelado o DNA de alguma banda para descongelarmos nos dias de hoje, ou melhor, seria como se todos nós tivéssemos um dia de Marty McFly em "De volta para o futuro", e pudéssemos viajar no tempo para assistirmos o bom e velho rock n' roll. Com quatro álbuns, várias participações em coletâneas, inclusive fora do país, o Crazy Legs segue sua trajetória musical como referência internacional quando o assunto é rockabilly. Formada no meio dos anos 90 em São Paulo, hoje a banda é composta por Joe Marshall (voz e guitarra), Sonny Rocker (baixo) e McCoy (bateria), com quase uma década de carreira, a banda segue com honestidade e atitude, onde principalmente em cima do palco a coisa pega fogo, em tempos de loops eletrônicos e artistas virtuais, nada como o velho Sr. Rock n'roll para injetar adrenalina nas veias, pegar a estrada e aumentar o volume.


















Fizemos uma entrevista por e-mail com o baterista McCoy, onde falamos de rock, Johnny Cash, influências e outros assuntos que fazem parte do mundo do Crazy Legs. Como diria Mick Jagger, é apenas rock n' roll, mas eu gosto e você também vai gostar!






Muzplay: O rock n'roll já foi "assassinado" várias vezes, sempre que algum estilo novo surge, os críticos enterram o rock. Vocês acreditam que o rock tenha morrido em algum momento? Como vocês analisam a trajetória do rock até os dias de hoje?












McCoy: Eu não acredito que o verdadeiro rock'n'roll tenha morrido, posso dizer que por algumas vezes ele ficou em coma, pois nada de legal apareceu. Quanto à trajetória do rock, eu acho tudo meio cíclico, por exemplo, o punk rock apareceu nos anos 70 para devolver a rebeldia que havia se perdido nos anos 60 e 70, com conjuntos que queriam fazer músicas de 15 minutos para viajar com ácido e outras baboseiras. Nos anos 80 rolou muita coisa legal, já nos anos 90 surgiram algumas modinhas que rapidamente desapareceram, foi assim com o grunge... O verdadeiro rockabilly e rock'n'roll nunca morreu e é muito atual até os dias de hoje.






Muzplay: O Crazy Legs é uma referência quando se fala em rockabilly nacional, sendo reconhecidos inclusive no exterior. Existe algum intercâmbio entre vocês e o pessoal das bandas, rádios e revistas estrangeiras?












McCoy: Sempre procuramos fazer um intercâmbio com as bandas e DJs do estilo para poder divulgar nosso trabalho. Através desta divulgação primeiramente com músicos, que surgiu o interesse nas revistas e mídia especializada no estilo.


















Muzplay: Muitos de seus ídolos já morreram, se vocês pudessem ressuscitar apenas um, quem vocês ressuscitariam e porque?












McCoy: Grande parte já morreu ou esta em vias de morrer logo (rs). Eu ressuscitaria o Johnny Cash, pois ele é um cara que falou de modo ímpar sobre as coisas da vida como sexo, alcoolismo, prisão, adultério, romance e não era um cara brega. Sobrava atitude em Johnny Cash.












Muzplay: Além de referências musicais como Eddie Cochran, Johnny Cash, The Clash e Stray Cats. O que mais influência a banda na hora de compor (músicas, filmes, etc)?












McCoy: Acho que tudo que está a nossa volta nos influência, desde filmes, artistas que gostamos. Outra coisa que também usamos muito em nossas músicas são nossas próprias experiências de vida ou de pessoas que conhecemos.












Muzplay: Assim como o Punk, o Rockabilly também se misturou com outros estilos criando novos gêneros, um deles é o psychobilly, que tem como grande expoente o The Cramps. O que vocês acham dessas "misturas" entre estilos?












McCoy: Eu acho estas "misturas" super saudáveis, desde que não descaracterizem a essência da música. Geralmente as "misturas" são frutos das influências do músico, mas deve se ter o cuidado de sempre criar uma coisa legal, que tenha alma.


















Muzplay: Um estilo que sofre um preconceito enorme no Brasil é o country americano, lendas como Johnny Cash e Hank Williams passam batidos por aqui. Hoje muitas bandas americanas resgatam um pouco dessa sonoridade, mas a fonte mesmo acaba sendo ignorada. O rockabilly de alguma forma tem um pouco dessa influência, principalmente nos timbres utilizados. Como vocês utilizam essas influências do country e até mesmo do blues no rockabilly?












McCoy: O rockabilly é um fruto da mistura do rhythm'n'blues com country e hillbilly. Temos muita influência do verdadeiro country music. Usamos muito os timbres do country, mas isto soa muito natural para nós. Sempre buscamos ouvir as influências que nossos ídolos tinham. Grande parte dos artistas de rockabilly eram sulistas e cresceram ouvido country, bluegrass e R'n'B no rádio.












Muzplay: Vocês andaram tocando com o Kid Vinil, no projeto Kid Vinil Experience. Qual a proposta desse projeto? Vocês estão gravando algum material juntos?












McCoy: Neste projeto somente eu e Sonny (nosso baixista) estamos envolvidos. Tocamos músicas da época do Magazine e covers de punk rock. Pretendemos começar a escrever novas músicas em breve. No momento não estamos gravando nada com esta banda.












Muzplay: Muitas vezes vocês dividem o palco com bandas de hardcore. Qual é a reação do público em relação ao som de vocês? E quais as bandas que vocês mais gostam deste cenário?












McCoy: Gostamos de tocar com bandas de outros estilos, pois nossa proposta é levar o verdadeiro rockabilly para todos, sem ficarmos confinados somente a nossa cena. O público hardcore sempre nos recebeu muito bem e valorizam muito nosso trabalho. No começo esta galera ficava meio assustada, ao ver apenas três caras no palco, com baixo acústico, uma bateria super simples e guitarra vintage. Depois que a gente começava a tocar a galera de deixava envolver... apesar de não conhecermos muito sobre HC, gostamos muito de bandas como Street Bulldogs e outras como Zumbis do Espaço, Forgotten Boys, Flicts, etc...












Muzplay: Vocês também costumam tocar covers em seus shows, cujas versões sempre são ótimas, vocês já pensaram em lançar esse tipo de material ou disponibilizar em mp3?












McCoy: Em nosso CD ao vivo gravamos muitos covers dos nossos artistas e bandas preferidos. Temos um projeto de um dia lançar um CD apenas com covers.












Muzplay: Falando em mp3, algumas bandas estão lançando seus álbuns inteiros na internet, enquanto outras ficam desesperadas quando alguma coisa vaza na rede. Como vocês analisam a troca de arquivos pela rede? Vocês acham realmente que isso prejudica a banda?












McCoy: Não acho que chega a prejudicar a banda, pois a internet é um veículo para buscar informação. Eu acho que a grande maioria das pessoas ficam sabendo das novas bandas na rede e depois se gostam do trabalho de alguém compram o disco. No cenário independente o preço dos CDs não é salgado e ninguém tem interesse nesta fatia de mercado para piratear. Entretanto, isto não se aplica a bandas gringas que o CD aqui ainda é caro.












Muzplay: Vocês costumam se interessar por bandas novas como The Strokes ou White Stripes, ou vocês se concentram apenas no bom e velho rock n' roll? O que vocês estão ouvindo ultimamente?












McCoy: Nós não temos muito interesse em bandas como Strokes, por exemplo. Se aparece alguma banda nova e a mesma despertar nossa curiosidade, nós ouvimos. Por outro lado, estamos sempre atentos aos novos talentos da cena rockabilly e do country alternativo.






Muzplay: Hoje a internet nos dá acesso a um grande material que antes era inacessível no Brasil, somente importando discos e revistas que tínhamos acesso a este material. Vocês costumam pesquisar bandas, músicas e outras coisas do estilo? Alguma dica para quem quer se iniciar no mundo rockabilly?












McCoy: Desde moleques procurávamos entrar em contato com o que havia de mais recente e também coisas esquecidas dentro do rockabilly. Sempre pesquisamos muito sobre rockabilly e country. Para quem quiser iniciar no estilo, acho que deve se começar por: Elvis Presley, Carl Perkins, Gene Vincent, Johnny Cash, Eddie Cochran. Ou seja, os caras que criaram este estilo.


















Muzplay: O Crazy Legs logo vai completar 10 anos de carreira. O que vocês aprenderam durante esse tempo, quais as maiores dificuldades e o que vocês pensam do futuro?












McCoy: Aprendemos a driblar as dificuldades de grana para gravar um material de qualidade, agendar shows em lugares que ofereçam um mínimo de condições para se realizar um bom show e que sempre devemos nos unir para criar um cenário rock forte. Dificuldades ainda existem, por exemplo, para agendar um tour no exterior e pretendemos no futuro continuar fazendo o que mais gostamos, que é tocar e fazer rockabilly, de uma forma honesta e com muita atitude.

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