À base de lágrimas e de uma exemplar interpretação de Vivianne Pasmanter "Quase um tango...", de Sérgio Silva, abriu a seleção competitiva de longas-metragens nacionais do 37º Festival de Gramado chancelado pela emoção. Diretor do fraco "Noite de São João" (2003), Silva demonstrou maturidade na condução das ferramentas narrativas do melodrama.
É comum aos filmes gaúchos que giram por Gramado um retrato caricato das relações humanas, além de um excesso de personagens cheios de tiques e cacos. Silva escapou desta armadilha auxiliado pela segurança com que Vivianne se relaciona com a câmera de cinema.
- "Quase um tango..." é um filme sobre a simplicidade da vida, o cotidiano. É um filme sobre os medos. Tem gente que tem medo da morte, tem gente que tem medo da febre amarela e tem gente que tem medo do Sarney - brincou Silva no palco do Palácio dos Festivais.
Em "Quase um tango..." Vivianne se divide em quatro diferentes personagens, oferecendo à cada uma um leque de sentimentos distintos como fargilidade, confiança e sensualidade. A trama, embalada pela bela música de Leo Henkin, tem como protagonista o agricultor Marcelino "Batavo", interpretado por Marcos Palmeira.
Acostumado à vida do interior e a sua plantaçção de espigas de milho, "Batavo", que é assolado por sonhos com uma provocante mulher (Vivianne) alivia o peso do dia-a-dia em um bordel, no qual é cliente vip.
Nem precisa explicar que sua garota de programa preferida é interpretada por Vivianne, não é? Apesar dos prazeres que tem no cabaré, "Batavo" deseja um amor para chamar de seu materializado na figura de Marialva (adivinha?,,,Vivianne é claro). Seu casamento dura pouco.
Marialva acalenta o projeto de viver em cidade grande e acaba chutando o marido para conseguir o que quer. Desolado, "Batavo" muda-se para Porto Alegre, monta uma quitandinha e acaba se casando de novo com a doce Letícia, quarta e mais azeitada encarnação de Vivianne, mas nem tudo serão flores em seu caminho.
Na condução dos espinhos, que machucam a alma boa de "Batavo", o diretor dá margem a algumas soluções de roteiro frouxas. Por pouco nãõ derrapa em diálogos esquemáticos. Mas apesar de certas derrapadas, o filme passa pela tela com elegância, mostrando núcleos humanos que o cinema brasileiro pouco explora fora do ambiente das comédias, como é o caso dos profissionais agrícolas representados por "Batavo".
Assim como Leandra Leal abriu Gramado 2008 credenciando-se ao Kikito de melhor atriz por "Nome próprio", filme ganhador do festival passado, Vivianne habilita-se desde já ao prêmio caracterizado com a sorridente imagem do deus sol gaúcho.
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