Tarantino finalmente apareceu e respondeu àquela minha dúvida essencial: em que ele estava pensando quando fez Bastardos Inglórios?
A resposta, eu deveria saber, era muito simples: em cinema. "Eu sempre fui fascinado com um subgênero dentro do cinema de guerra, o filme de missão, tipo Os Canhões de Navarone e Os 12 Condenados", ele me responde, todo sorridente, largos gestos. "Comecei a flertar com essa ideia de criar algo assim, mas revertendo toda a historia da guerra: judeus americanos derrotam o Terceiro Reich!! Todo mundo tem esse sonho de ter podido eliminar Hitler e toda aquela corja de uma vez só, não é? Além disso, achei que seria bacana que eles tivessem características da resistencia apache de Geronimo, atacando de emboscada, aterrorizando o inimigo. A partir daí, como sempre, os personagens apareceram e começaram a escrever o filme sozinhos, hahahahahahaha."
Muito bem, Quentin, Canhões de Navarone também é um dos meus filmes-pipoca favoritos, um marco da minha infância no Cine Arte de Teresópolis em incontáveis matinês barulhentas. Mas quando voce percebeu que havia outro filme dentro do seu filme, aquele sobre Soshana e o cinema em Paris? "Quando pensei na minha paixão pela pelicula cinematográfica, a verdadeira magia do cinema que é o modo como o filme, e só o filme, capta imagens em sequencia e nosso olhar cria o movimento. Detesto digital. Odeio digital. É video, para mim. É banal, sem magia.Não é possivel fazer nada além de novela com ele. Cinema de verdade é pelicula. E quando percebi que a película em si mesma podia ser uma arma.... foi meu momento-eureka. Incrivel! Não consegui mais dormir! De novo, o filme escreveu-se sozinho."
Quentin conta mais: a possibilidade de uma prequel é "muito alta. Já tenho quase tudo, só com o material que não entrou neste corte"; nunca houve problema de remontagem, "decidi afinar algumas cenas, apenas"; e sua maior frustração é "não ter sido um acadêmico. Larguei a escola no segundo grau. Mas tenho tamanho conhecimento sobre cinema, hoje, que acho que compensei por isso. Queria poder compartilhar isso com outras pessoas."
Não seja por isso, Quentin: o InFilm está montando um programa sobre e, se voce quiser, com você. Topa? (Estamos em negociações...)
Por Ana Maria Bahiana
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