Daniel Filho mostra lado sério em 'Tempos de paz'
Diretor de 'Seu eu fosse você' volta às telas nesta sexta (14/08/09).
Drama traz Tony Ramos e Dan Stulbach no elenco.
Diretor e produtor de sucessos na televisão e no cinema, responsável por filmes como "A partilha"(2001), "Se eu fosse você"(2006) e "Se eu fosse você 2" (2008), Daniel Filho muda de estilo, pelo menos temporariamente, com o drama "Tempos de paz".
O filme, que entra em cartaz nesta sexta no país, adapta a premiada peça teatral "Novas diretrizes em tempos de paz", de Bosco Brasil, que assina o roteiro. Os dois atores principais, Tony Ramos e Dan Stulbach, interpretam no cinema os mesmos papeis que defenderam no teatro.
Ramos é Segismundo, um policial que se descobre sem função no dia em que o presidente Getúlio Vargas liberta todos os presos políticos, em 18 de abril de 1945.
Ramos é Segismundo, um policial que se descobre sem função no dia em que o presidente Getúlio Vargas liberta todos os presos políticos, em 18 de abril de 1945.
Stulbach interpreta Clausewitz, imigrante polonês que tenta entrar no Brasil e tornar-se agricultor - apesar de antes só ter trabalhado como ator.
A ação se passa quase o tempo todo no porto do Rio de Janeiro, onde funciona um centro de triagem dos imigrantes que vem fugindo das dificuldades geradas pela Segunda Guerra Mundial.
Segismundo é o responsável por decidir quem fica no Brasil. Quem é barrado, é obrigado a seguir adiante, para tentar ser aceito em outros países, continuando uma sofrida peregrinação.
Opostos
Opostos
Os dois homens têm experiências opostas. Segismundo passou a vida como torturador e interrogador, fazendo o serviço sujo do Estado Novo. Clausewitz, em seu país, era um famoso ator. O que os dois compartilham é a decepção com suas profissões, entrando em crise com a própria história pessoal.
Segismundo se acha injustiçado porque, no novo contexto político, mais liberal, gente como ele deverá desaparecer nas sombras - e, antes, queimar os arquivos.
Segismundo se acha injustiçado porque, no novo contexto político, mais liberal, gente como ele deverá desaparecer nas sombras - e, antes, queimar os arquivos.
A decepção do ator polonês é de outra ordem: ele deixou de crer na arte e na palavra depois de assistir, impotente, ao massacre de tantas pessoas por causa do nazismo. Inclusive de sua família.
Quando Segismundo decide interrogar Clausewitz - que já havia estudado um pouco de português -, inicia-se um duelo em que, inegavelmente, o ator corre mais riscos e sabe disto.
Sua única vantagem é perceber mais facilmente, por experiência profissional, como mexer com as emoções de seu público. E Segismundo, neste momento, é um espectador que o desafia a levá-lo às lágrimas como condição para liberar seu visto de entrada.
Personagens
O próprio Daniel Filho atua numa ponta, como um médico torturado por Segismundo que é solto e decide procurá-lo. No teatro, este personagem era apenas citado nas conversas entre os dois protagonistas.
Personagens
O próprio Daniel Filho atua numa ponta, como um médico torturado por Segismundo que é solto e decide procurá-lo. No teatro, este personagem era apenas citado nas conversas entre os dois protagonistas.
O personagem de Stulbach é nitidamente calcado no ator e diretor polonês Zbginiew Ziembinski (1908-1978). Ator consagrado em seu país, ele desembarcou no Brasil em 1941, sem falar português. Poucos anos depois, tornou-se também aqui ator e diretor consagrado, responsável, por exemplo, pela histórica primeira encenação de "Vestido de noiva", de Nelson Rodrigues, em 1943.
Ao final do filme, aliás, homenageia-se não só Ziembinski como diversos outros estrangeiros de várias profissões que acharam refúgio no Brasil fugindo do nazismo. Caso do escritor Otto Maria Carpeaux, da atriz Nydia Lícia e do crítico e teórico teatral Anatol Rosenfeld, entre outros.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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