quinta-feira, 17 de março de 2011

Gnomeu e Julieta

O longa é uma boa diversão para os pequenos e uma ótima forma de apresentá-los às obras de William Shakespeare, mas não passa muito disso.
Avaliação: 6
 


Cada geração tem sua maneira de apresentar a história do amor condenado de entre Romeu e Julieta para as crianças. Pessoalmente, foi através de um muito reprisado episódio de “Chapolin” que descobri esse romance. Nesse sentido, “Gnomeu e Julieta” presta um bom serviço aos pequenos, despertando-lhes a curiosidade sobre a obra de Shakespeare enquanto os entretém com uma animação bem decente.

Não que o filme seja um primor de originalidade. Se utilizando do mesmo conceito de “Toy Story” (seres inanimados que ganham vida e personalidade quando os humanos não estão olhando), o longa pega esse mote para contar uma versão mais “bonitinha” da tragédia shakespeariana. Na trama, que se passa em algum subúrbio inglês, gnomos de jardins vermelhos (do quintal do Sr. Capuleto) e azuis (do quintal da Sra. Montéquio) vivem em uma constante rivalidade, emulando seus “donos”.

Certo dia, o aventureiro Gnomeu, filho da líder dos azuis, se aventura em território inimigo para se vingar de uma humilhação sofrida nas mãos do vermelho Teobaldo. Ele acaba se apaixonando por Julieta, a filha do chefe de seus inimigos. Com a ajuda do flamingo Featherstone e da rã Ama, os dois tentam viver sua história de amor, que parece condenada desde o início.

Comandada pelo diretor Kelly Asbury (“Shrek 2″), a animação não possui grandes pretensões. O visual é colorido e feito na medida para atrair a atenção dos pequenos, com algumas sequências de ação bem desenvolvidas, mas não chega perto do que a Pixar ou a DreamWorks PDI oferecem.

Isso não é um ponto negativo, pelo contrário. É interessante ver uma produção menos elaborada (leia-se, com menos verba) se esforçando para apresentar às crianças a obra do Bardo inglês de um modo dinâmico. O 3D é decente, melhor do que o apresentado por muitas superproduções por aí, mas não é algo que fará muita diferença no impacto da projeção.

O roteiro foi escrito por nove (!) pessoas e toma, obviamente, diversas liberdades com a história de Shakespeare para traduzi-la para os pequenos, mas é interessante notar que, ao mesmo tempo em que se assume como uma versão da história clássica do escritor, o filme também reconhece que a obra de Shakespeare existe em seu mundo, com uma participação do Bardo com sua estátua (dublada por Patrick Stewart).

Vale destacar o personagem de Featherstone, que possui o arco mais dramático do longa, embora seja claramente um coadjuvante. É uma pena que a película seja um pouco covarde com o destino do flamingo e de Teobaldo em seu epílogo, mas é compreensível, já que se trata de um filme voltado para crianças.

O elenco original de vozes é quase um “quem é quem” dos nomes da dramaturgia britânica. O casal principal tem as vozes de James McAvoy e Emily Blunt, com Maggie Smith e Michael Caine nos papéis de seus respectivos pais, o “mercenário” Jason Statham no papel do brucutu Teobaldo e Stephen Merchant, costumeiro parceiro de Ricky Gervais, como Paris.

Além disso, temos um destaque para as músicas do filme, cuja trilha fora composta por James Newton Howard e Elton John. As canções deste último embalam a fita e são responsáveis por chamar a atenção dos pais para a produção, tendo em vista que os adultos já viram aquela mesma história sendo contada milhares de vezes, seja na telinha ou na telona (algo que a própria película reconhece, aliás).

“Gnomeu e Julieta” não arrisca muito, mas cumpre o seu propósito de divertir as crianças e apresentá-las ao fantástico universo de William Shakespeare. Considerando a qualidade canhestra e o senso de humor duvidoso de muitas animações por aí (estou falando com vocês, filmes do “Garfield”), o que temos é um longa com uma meta extremamente nobre, alcançada com certo sucesso.
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Thiago Siqueira
é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

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