quinta-feira, 17 de março de 2011

Jair Naves

Você já deve ter visto Jair Naves rolando pelos palcos a frente da extinta banda Ludovic. Depois de uma pausa de 2 anos, Jair retorna com projeto solo, trocando as distorções por um instrumental detalhista e sutil. A poesia e melodia agora são mais cativantes e agradam fácil aos ouvidos mais delicados. Se existe um candidato a “Renato Russo 2″, Jair ultrapassa todos os requisitos. (Felipe Eterno)

Entrevista por Felipe Eterno e Vinicius Paes


Você tem algum parentesco com os “Irmãos Naves”? A polêmica dos irmãos ocorreu em Araguari, servindo até de tema para o filme “O Caso dos Irmãos Naves”. Você tem sobrenome Naves e passou sua infância em Araguari, é pura coincidência?

Não sei, não sei mesmo. Perguntei sobre isso para alguns parentes mais velhos e o máximo que eu consegui descobrir é que havia alguma proximidade entre a família de Sebastião e Joaquim (os tais “irmãos Naves”) e a da minha avó paterna. Por tudo o que você ressaltou na pergunta, acho muito provável que exista alguma espécie de parentesco sim, mas não posso afirmar nada. Independentemente disso tudo, mesmo na hipótese dessa coisa do sobrenome ser uma imensa coincidência, é uma história muito forte, que não pode ser esquecida, muito representativa no que diz respeito às inúmeras monstruosidades cometidas na época da ditadura militar. Além disso, o filme do Luis Sérgio Person sobre o ocorrido me influenciou imensamente quando eu estava escrevendo as músicas desse EP. Perdi as contas de quantas vezes assisti “O Caso dos Irmãos Naves”, e toda vez que o revejo me surpreendo com a elegância e a sensibilidade com que eles conseguiram contar um dos episódios mais escabrosos da história do Brasil. Está na minha lista de dez melhores filmes nacionais de todos os tempos, sem dúvida alguma.

Na musica que dá nome ao EP “Araguari I (Meus amores Inconfessos)” você canta: “saudade da nossa banda e dos palcos que pisei”, essa banda é o Ludovic? 

É inegável que se trata de uma referência a essa e a outras bandas em que eu toquei, mas a idéia para esse verso não veio somente daí. Tenho amigos que já trabalharam com música e que em determinado momento se viram inclinados a abandonar essa atividade, como se isso representasse uma espécie de ritual de entrada na vida adulta, sabe como é? Como se de repente chegasse a hora investir em casamento, filhos, um emprego “de gente grande” e desistir da fantasia que querer ser reconhecido por seus dotes artísticos, como se insistir nisso fosse um sinal de adolescência tardia. O curioso é que quase todos esses meus conhecidos parecem meio amargurados, alguns até falam da época em que tocavam com um saudosismo de cortar o coração. Como essa música é basicamente sobre saudade, sobre travar confrontos com aspectos mal-resolvidos do passado, achei que seria interessante falar também sobre isso.

Nos shows você será acompanhado pelos mesmos músicos que gravaram o EP? Eles também são de Araguari? 

Não. Como meus planos de contratar músicos araguarinos não vingaram, tive que me contentar com pessoas de outros lugares (risos). Bom, sobre a banda que vai me acompanhar, infelizmente não poderei contar com todos que me ajudaram nas gravações, mas a espinha dorsal daquela equipe continua comigo: Marco Paschoal (bateria), Alexandre Xavier (piano) e Júlia Frate (voz). Completam a banda Ali Junior (baixo) e D. Guedes (guitarra).

Hoje vemos inúmeros músicos de bandas nacionais e internacionais se dividindo entre a suas bandas e seus projetos solo como Chuck Ragan (Hot Water Music), Greg Graffin (Bad Religion), Marcelo Camelo, Carlos Dias (Polara) ,Tor (Zumbis do Espaço), onde apresentam uma sonoridade bem diferenciada que varia entre o rock e o folk/country sucessivamente. No seu caso a idéia de um projeto solo já existia durante o Ludovic ou surgiu somente após o término da banda? 

Eu nunca tinha cogitado a possibilidade de trabalhar dessa forma, foi preciso que a banda terminasse para que eu considerasse esse caminho como uma opção. Até então eu jamais tinha sequer pensado em mim mesmo com um “artista solo”, continua sendo um pouco estranho me enxergar dessa maneira. Decidi tentar continuar por conta própria para evitar alguns dos problemas que eu tinha enfrentado enquanto líder ou integrante de outras bandas, situações problemáticas que eu também vejo acontecer com enorme freqüência em grupos de conhecidos.
E qual a diferença entre estar em uma banda e tocar um projeto solo? 

Ainda é um pouco cedo para dizer, já que nem começamos a fazer show com esse projeto. Por enquanto, está sendo ótimo. É uma exposição bem maior, isso me desagrada um pouco, mas tudo funciona de forma bem mais prática. A responsabilidade pelo trabalho é praticamente toda sua, você se sente muito mais a vontade para explorar o tema que bem entender e há uma abertura maior para colaborações com terceiros. Definitivamente não me arrependo de ter seguido por esse lado.

No Ludovic todo o sentimento estava presente de forma mais agressiva e agora continua presente de maneira mais suave e harmônica. Isso já aconteceu com muitos dos grandes ícones musicais, você acha que está seguindo o mesmo trajeto de um grande nome da música naturalmente? 

Não sei, sinceramente. Eu tento fazer o melhor possível dentro das minhas limitações, fico feliz em ver que consigo evoluir de uma maneira ou de outra e que existem pessoas que acolhem com carinho minhas músicas. Acho que ainda tenho muito que melhorar, sempre penso que a minha melhor música ainda está por vir.

A internet foi um grande trampolim para o reconhecimento do Ludovic, porém mesmo com grandes seguidores, a banda manteve-se dentro do eixo underground. Com a carreira solo já percebemos que você também estará usando a internet como forma de divulgação. Você tem a intenção de atingir um público diferenciado ou mesmo até ser inserido comercialmente no meio musical? 

É muito difícil prever quem vai gostar do que você escreve, toca ou canta. Eu nem me preocupo muito a esse respeito porque acho que é prejudicial ao processo de composição, cai numa mentalidade de “agora eu tenho que fazer as coisas de tal forma que eu consiga agradar mais gente e ganhar dinheiro” e etc. Eu só posso torcer para que outras pessoas além de mim gostem das coisas que eu escrevo, não me importo se é alguém entendido em música ou não.

Você já tem em mente algum roteiro de vídeo clipe para uma dessas musicas?

Tenho algumas ideias sim, mas não sei se faremos um clipe para alguma dessas quatro ou para uma das faixas que estamos gravando atualmente. Seja como for, a intenção é lançar um clipe ainda nesse semestre.

Gravar 4 músicas acaba deixando todo mundo com gostinho de quero mais, além desse EP já existem novas composições a caminho? 

Sim. Já estamos gravando material novo, se tudo correr conforme o previsto ainda em 2010 sai um disco “cheio”, que deverá ter de 10 a 12 músicas inéditas.

Outra coisa que destaca muito na beleza do “Araguari” são as letras de cada faixa. O que você lê que te inspira tanto assim? 

Obrigado pelos elogios, fico realmente feliz em saber que você gostou. Essa é sempre a parte que mais me preocupa, onde eu mais perco tempo e que mais me dá dor de cabeça. Sou mais preguiçoso do que eu deveria para escrever as letras, então eu fico rascunhando durante um tempão e só finalizo na véspera de gravar as vozes – em muitos casos, já terminei somente alguns minutos antes da gravação. Não acho que livros, filmes e discos funcionem exatamente como fonte de inspiração, eu diria que eles influenciam mais na parte de construção do texto e lapidação das idéias do que exatamente no tema ou no sentimento que os versos transmitem. A inspiração vem especialmente da convivência com outras pessoas, de conversas, histórias, situações marcantes e coisas assim.

Respostas Rápidas:
Amor: O que faz todo o resto valer a pena.
Morte:
Um assunto enlouquecedor, sobre o qual eu prefiro não pensar muito.
Filhos:
Responsabilidade demais. Não recomendo para todo mundo, sinceramente.
Ludovic:
Um grande aprendizado.
2010:
Muito, mas muito trabalho.
Palco:
Quase dois anos longe dos palcos. Não vejo a hora de voltar.
Melhor amigo:
Essa é difícil. Teria que ser no plural, eu acho. 

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