terça-feira, 29 de março de 2011

CRÍTICA 

IRON MAIDEN

Em noite nada memorável, banda faz show protocolar


Zanone Fraissat/Folhapress

O vocalista Bruce Dickinson durante show da turnê ‘The Final Frontier’ no Morumbi

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA



Poucas bandas tratam seus fãs tão bem quanto o Iron Maiden. Eles sempre fizeram questão de creditar seu sucesso e a renovação de seu público à relação próxima que tem com os fãs.

"Não tocamos muito em rádio, por isso dependemos de nossos shows para atrair um público mais jovem", disse recentemente o guitarrista Adrian Smith.

A julgar pela apresentação do grupo no sábado, no Morumbi, abrindo sua nona turnê pelo país, a tática tem funcionado: impressionava a quantidade de adolescentes e até de crianças acompanhadas dos pais no show.

É fácil entender por que jovens são atraídos pelo Iron Maiden: a banda faz um rock pesado, mas acessível. Seus shows têm uma estética própria, que mistura imagens de horror, guerra e futurismo.

Eddie, o mascote do grupo, já virou um ícone de várias gerações de fãs.

Para os admiradores mais antigos -e havia muitos quarentões e cinquentões espalhados pelo Morumbi-, o show é uma catarse proustiana, um retorno a uma adolescência perdida.

Foi bonito ver grupos de amigos na plateia, relembrando os bons tempos de cabelos compridos.

Quem foi ao Morumbi esperando grandes novidades se frustrou. Aliás, uma das razões do sucesso do grupo é exatamente não arriscar muito e dar aos fãs exatamente o que eles esperam.

No show, a banda britânica bem que tentou trazer algo de novo, tocando cinco faixas de seu disco mais recente, "The Final Frontier".

Mas o público só vibrou mesmo com os grandes sucessos, como "The Trooper", "Two Minutes to Midnight" e "Fear of the Dark", esta cantada em coro, como se fosse uma missa campal.

Não foi uma noite particularmente memorável da banda. Bruce Dickinson parecia cansado e chegou a se irritar com um fã que insistia em importuná-lo com uma caneta de laser. O grupo tocou 16 músicas em pouco menos de duas horas.

O show foi protocolar e, em alguns momentos, até frio. Mas terminou animado, com três clássicos das antigas: "The Number of the Beast", "Hallowed Be Thy Name" e "Running Free".

Numa última prova de que o Iron Maiden realmente respeita seus fãs, o show acabou a tempo de todo mundo voltar para casa de ônibus ou de metrô. Até que enfim alguém pensa nisso.

IRON MAIDEN
AVALIAÇÃO regular





NOTAS DO METAL

FAMÍLIA
Fãs veteranos aproveitaram a noite para introduzir os filhos no mundo do metal. Lucas Trevisan, 9, montado nas costas do pai e com o punho em riste, cantou as músicas com Bruce Dickinson: "É demais", disse o garoto, que já foi a shows de Sepultura e Hammestein.

SEPULTURA
Como Cavalera Conspiracy, Max e Iggor Cavalera empolgaram mesmo ao interpretarem hits do Sepultura, como "Troops of Doom". Na mesma onda familiar do público, terminaram o show chamando os filhos ao palco.

GALERA "GENTLEMEN'
Por trás do visual desgrenhado dos metaleiros, há uma personalidade meiga: não batem nem empurram, levam os filhos ao show e protegem as namoradas. Comparados aos fãs de Madonna, são "gentlemen".

ESTRUTURA
O analista de informática Marcio Cordeiro Cajão, 23, reclamava das condições precárias do banheiro químico da área "premium", que estava sujo, sem local para lavar as mãos. Homens iam ao banheiro feminino.

VOLTA PRA CASA
A saída do Morumbi continua um suplício: poucas opções de transporte público; trânsito travado; taxistas com tarifas abusivas e longas caminhadas até achar um meio de voltar para casa.

(ADRIANA FERREIRA SILVA)
 

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