sábado, 26 de março de 2011

Sexo Sem Compromisso

Nada de novo no front nesta comédia romântica...

Avaliação: nota 5
 

Nas críticas sobre comédias românticas que já fiz para o Cinema Com Rapadura, já citei a famosa fórmula do gênero: casal se conhece, fica junto, briga e depois vive o famigerado “felizes para sempre”. Bom, esta nova produção de Ivan Reitman, “Sexo Sem Compromisso”, não foge à regra, sendo formulaico até dizer chega.

O longa segue as desventuras de Adam (Ashton Kutcher) e Emma (Natalie Portman). Os dois se encontraram algumas vezes por acaso, quase sempre quando um deles estava passando por maus bocados, mas nunca ficaram juntos. Um dia, após ser largado pela namorada do pior jeito possível, um embriagado Adam resolve ligar para todas as mulheres que conhece para uma noitada.

Nisso, ele e Emma acabam “consumando” a sua não-relação. No entanto, a pragmática Emma não deseja nada sério, querendo apenas uma relação carnal, sem sentimentos envolvidos. Adam concorda com as regras estabelecidas pela bela médica, mas até quando os dois poderão continuar juntos até se apaixonarem?

Bom, é impossível não notar as semelhanças do roteiro com outras produções. Fãs de “Seinfeld” lembrarão do final da segunda temporada da série, quando Jerry e Elaine estabelecem uma série de regras para transarem sem comprometer a amizade dos dois. Até mesmo o recente (e superior) “Amor e Outras Drogas” possui um plot semelhante até certo ponto.

Nesse sentido, “Sexo Sem Compromisso” passa longe de ser original, alternando sequências de humor embaraçoso com as (não tão) apimentadas cenas de sexo dos protagonistas. Temos alguns momentos bacanas, como o “mix menstrual”, mas as piadas em geral não passam muito do lugar-comum do gênero.

Os personagens coadjuvantes ficam realmente de fundo aqui. Os inevitáveis amigos dos protagonistas, apesar de interessantes, aparecem muito pouco. Gostaria de ter visto um pouco mais de Kevin Kline no longa. O veterano ator, que interpreta o pai de Adam, está ótimo como um mulherengo e festeiro astro de uma sitcom que parece nunca ter crescido (qualquer semelhança com Charlie Sheen é mera coincidência).

O diferencial do longa é a química entre Ashton Kutcher e Natalie Portman. Nunca fui muito fã do primeiro, que quase nunca consegue sair do estereótipo do garotão meio lento com bom coração, mas Kutcher se esforça para compor um personagem que se relaciona fácil com o público e até que consegue.
O arco pelo qual Adam passa ajuda o ator, tendo em vista que o rapaz evolui de um cara imaturo que não sabe lidar com os obstáculos no seu caminho (a cena com o balão é emblemática nesse sentido) para alguém que se esforça em sair da sombra de seu pai e conquistar seu espaço em sua vida.

Já Natalie Portman, fora de seu ambiente natural, usa de toda a sua graça e beleza para conquistar a audiência com sua Emma, já que a personagem é tratada com certa injustiça pelo roteiro. Pragmática e clara em suas intenções iniciais para com Adam, a transição dela para apaixonada arrependida é feita de maneira brusca demais. Portman faz milagres para dar um pouco mais de tridimensionalidade à Emma, tirando leite de pedra.

“Sexo Sem Compromisso” é uma diversão interessante para uma tarde preguiçosa, nada mais do que isso. É uma pena que Ivan Reitman tenha se acomodado tanto nos últimos anos. Não vemos na película um plano mais ousado, ou alguma decisão mais arriscada… Todo o filme parece ter sido feito seguindo a receita de bolo do gênero.

O diretor, que já foi responsável por clássicos como “Os Caça-Fantasmas”, se tornou tão acomodado que parece que passou todo o seu talento para o filhão Jason Reitman (“Amor Sem Escalas”). O cineasta faz uma ponta no filme como o diretor de uma série de TV aos moldes de “High School Musical” e os números musicais falsos são o mais próximo que Reitman chega de arriscar algo novo.

___
Thiago Siqueira
é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário