Uma Longa Viagem, documentário de Lúcia Murat, narrado por Caio Blat
Dificilmente se vê um documentário tão criativo, original e emocionante
quanto este Uma Longa Viagem, que foi premiado no Festival de Paulínia
(pela crítica) e Gramado (Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Direção de Arte,
Prêmio do Júri Popular e Prêmio Estudantil).
Em geral todos os trabalhos da diretora Lúcia Murat tem um padrão alto de
qualidade e empenho, mas nunca como aqui, onde ela conta uma história
autobiográfica, relembrando sua própria vida e a de seus dois irmãos. Nos anos
70, Lúcia foi presa pela ditadura por seu trabalho de militante enquanto seus
dois irmãos tomam caminhos diferentes.
O mais curioso é o do caçula que foi vai para Londres em 1969, enviado pela
família para não entrar na luta armada seguindo os passos da irmã. Durante os
nove anos em que viaja pelo mundo, ele escreve cartas. O documentário prossegue
o release mostra os anos loucos, quando drogas, misticismo e
rock’n’roll andavam juntos pelas estradas mundo afora. Contrapondo-se
às cartas, os comentários em off da irmã e diretora, Lúcia Murat, o
irmão fica marcado pelo uso contínuo de drogas, mas não perde nem a
inteligência, nem a sensibilidade. Na verdade, ele é um incrível ator, no melhor
sentido, fazendo com que a gente ria com ele e não dele.
Lucia é a narradora principal, utilizando fotos e imagens antigas, mas
principalmente recriando as cartas e algumas situações através de sets e cenas
especialmente montadas, usando com criatividade a interpretação do sempre bom
ator Caio Blat. Não é como a maioria dos filmes um suceder de talking heads,
cabeças falantes que falam sobre os assuntos.
Tudo é revisto pela sensibilidade da diretora, auxiliada pela fotografia,
direção de arte, trilha musical. É uma revisão pessoal, mas também emocional e
coletiva de mais de uma geração, um filme sobre a memória, a vida, a morte, a
passagem do tempo. Um trabalho belíssimo e fora do normal que merece ser
prestigiado.
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