quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Crítica: Tropa de Elite 2
















































A diversão está garantida e com algo a mais


O Capitão Nascimento (Wagner Moura) está de volta. Mas passados quase 15 anos da primeira vez que o acompanhamos morro acima, ele agora não comanda mais a ação no campo, colocando sua cara para bater - ou, no caso, para levar tiro. Ele agora é Tenente-Coronel Nascimento, continua no BOPE e lidera os Caveiras, mas quem está na rua é o Capitão Matias (André Ramiro), que há muito tempo deixou de ser o ingênuo aspira lá de trás. O cenário é crítico: Bangu 1 foi tomado e só a Tropa de Elite pode resolver a situação. Mantendo sua posição de que bandido bom é bandido morto, Nascimento quer mais é que eles acabem uns com os outros lá dentro. Mas no seu caminho está Fraga (Iradhir Santos), um ativista dos Direitos Humanos, que vê os métodos "não convencionais" dos Caveiras com um olhar crítico - e ele tem o apoio do governador do estado do Rio de Janeiro, que não quer repetir Carandiru e assim minguar suas chances em ano de eleição. E aí o bicho pega!



Esses são apenas os minutos iniciais de Tropa de Elite 2 (2010), filme que dá sequência à trajetória de enorme sucesso de um personagem que não vive para meios tons, que faz de tudo para cumprir sua missão e, se precisar, até bota na conta do Papa. O primeiro Tropa virou assunto primeiro por ter vazado e rapidamente virado ganha-pão dos pirateiros que vendem DVDs nas ruas. Depois, pela forma explícita como trata temas como tráfico de drogas, tortura e execução dos que não trabalham do lado da lei. Desta vez, o diretor José Padilha e seu comparsa de roteiro Bráulio Mantovani continuam atirando primeiro e perguntando depois.



Mas o alvo agora é outro ou, como diz o subtítulo do filme: "O Inimigo Agora é Outro".
Nascimento virou subsecretário de segurança do Rio de Janeiro, o grande responsável pela inteligência do lugar, comandando grampos e investigações. Era o lugar mais alto que um Caveira já tinha chegado, mas ele sabe que só chegou ali porque em época de eleição político nenhum quer ficar contra o povo... e o povo está do lado dele. Com esse poder nas mãos, ele consegue dar um jeito no tráfico da capital fluminense, mas isso não quer dizer que acabou a bandidagem. As pessoas logo descobrem outras formas de ganhar dinheiro e surgem assim as milícias, ainda mais lucrativas do que a "mesada" que antes vinha dos traficantes e como bônus também servem de cabo eleitoral, afinal, quem não quer sua morada livre das drogas?


E assim Tropa 2 continua violento, continua polêmico, continua pingando limão na ferida. O novo filme deixa de apontar o dedo na cara do playboy e dizer que é a maconha que ele compra que financia e mata gente no morro. O alvo da vez são os políticos e demais corruptos, que se beneficiam de toda e qualquer situação para ganhar sempre mais dinheiro e poder. .



O filme deixa também de ser a história do Matias, para ser a do Nascimento. Antes narrador, o personagem agora é também o protagonista e muita coisa vai acontecer nas quase duas horas de duração. E Wagner Moura está lá de novo para mostrar o lado humano do personagem, dar textura e profundidade ao personagem duro que sai para as ruas para combater o crime e volta para casa com os ombros cada vez mais caídos, como se estivesse carregando sozinho todos os problemas que existem no mundo. Mas ele não brilha sozinho. Se os personagens de André Ramiro, André Mattos (Fortunato) e Sandro Rocha (Russo) adicionam dramaticidade e canastrice à trama, cabe ao Fábio interpretado por Millhen Cortaz algumas das frases desde já candidatas a novos bordões, como "Cada cachorro que lamba a sua caceta", "Quer me foder, me beija" e "Tá de pombagirice?!".



Mas os momentos de alívio cômico só funcionam tão bem porque o restante do filme é bastante recheado de ação e tensão. Padilha e seu montador (Daniel Rezende, indicado ao Oscar por Cidade de Deus) te levam pela mão até onde querem e te largam lá, com o coração batendo forte e rápido como as balas que saem das metralhadoras. E não se engane imaginando que as balas dali são cegas como as dos filmes hollywoodianos. Tal qual o BOPE, Padilha não poupa seus personagens e quem tiver que morrer para dar realismo à trama, não vai durar na tela.



Fascista, aproveitador, maniqueísta... todos os termos já devem ter sido utilizados para descrever Nascimento, Padilha e o filme. E as críticas continuarão, porque o BOPE está na área e não vai facilitar para ninguém. A diversão do povão está garantida e aqueles que quiserem ainda poderão levar para casa alguns pensamentos sobre a atual situação política brasileira.



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