quinta-feira, 7 de outubro de 2010

The Killer Inside Me













Todo noir parte de uma perversão. O detetive que quebra seus códigos por paixão, a mulher que mata o marido por ganância. Os policiais baratos acabavam no balaio dos filmes B porque a Hollywood dos anos 40 não se permitiria dar status a essas histórias amorais. A questão no noir, portanto, é até que grau chegam as suas perversões.



Jim Thompson fazia o lado B do B. Adaptações ao cinema de suas obras incluem, nos últimos 20 anos, Os Imorais (1990), A Fuga (1994) e este The Killer Inside Me (2009). Marlon Brando e Marilyn Monroe o teriam encenado se ela não tivesse morrido em 1962. Stanley Kubrick, para quem Thompson adapou o roteiro de Glória Feita de Sangue, também tentou sem sucesso. Da primeira adaptação de O Assassino em Mim às telas, de 1976, poucos se lembram.



Michael Winterbottom (Código 46, O Preço da Coragem) faz questão de que a sua versão não seja esquecida tão cedo. O filme, que causou repulsa no Festival de Sundance, honrando uma tradição de 70 anos de escandalizações, exacerba a trama doentia de Thompson. Casey Affleck faz com gosto o xerife texano Lou Ford, espancador de mulheres. Lou tem o respeito das pessoas da cidade que vigia, mas se mete num imbróglio com uma prostituta (Jessica Alba) e com o filho do magnata da região. Mata ambos não por dinheiro, mas por compulsão - e o cerco começa a fechar.



Tradicionalmente, são as circunstâncias que despertam o mal nos personagens dos noir; o caso de Lou Ford, assassino por natureza, está mais próximo dos filmes de maníaco. Embora a ambientação e o texto sejam fieis ao romance de 1952 de Jim Thompson, o filme de Winterbottom está mais próximo da noção de neonoir que começou a se definir com Chinatown (1974) e chegou à plenitude com Veludo Azul (1986). São filmes que enxergam a perversão como um sadomasoquismo, a violência é correspondida com prazer.



Essa consciência do sadismo, que Thompson tinha, está implícita já no título de conotação sexual, "o assassino dentro de mim". Cineasta que passeia por gêneros distintos como o musical e a ficção científica, Winterbottom contribui com ironia ao exercício revisionista do noir. The Killer Inside Me provoca ojeriza, antes de mais nada, não por filmar o sangue de um jeito realista, mas por rir, com sua trilha sonora sulista ensolarada, desses esgichos de sangue. É um filme que faz do realismo uma caricatura.



Nesse sentido (e em outros também, mas não estraguemos as surpresas da trama), o longa se aproxima bastante de
Ilha do Medo. Winterbottom não tem o talento de Martin Scorsese para religar pontas soltas da história do cinema, mas, de seu jeito grosseiro, faz justiça àquilo que Jim Thompson tinha de vanguardista.



07 de Outubro de 2010

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