terça-feira, 26 de julho de 2011

26 jul as 07h00
 
Trechos de letras de Amy Winehouse. Se isso não é depressão das pesadas, me contem o que é:

Tentaram me mandar para a reabilitação (Rehab)
Eu disse não, não, não
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber
Eu não tenho tempo
(de Rehab)
Eu me enganei
Sabia que me enganaria
Bem que te disse que eu era encrenca
Você sabe que não presto
(De You know I’m no good)
Eu e minha cabeça alucinada
E minhas lágrimas secas, continuo sem meu cara
Você voltou para o que já conhecia
Saindo para longe de tudo o que nós passamos
E eu trilho um caminho atormentado
Minhas chances são muitas, vou de novo cair na tristeza [...]
Nós só dissemos adeus com palavras
Eu morri centenas de vezes
Você volta para ela
E eu volto para a tristeza [...]
Te amo muito
Não é o bastante
Você gosta de cheirar e eu gosto de fumar
E a vida é como um cachimbo
E eu sou uma minúscula moeda rolando parede adentro.
(De Back to Black)
Tudo o que posso ser pra você
É a escuridão que já conhecemos [...]
Quando ele vai embora
O sol se põe
Ele leva o dia embora, mas eu sou crescidinha
E de um jeito ou de outro
Neste tom triste
As minhas lágrimas secam por conta própria
(De Tears dry on their own)
Para você fui uma chama
O amor é um jogo perdido
Um fogo de cinco andares quando você chegou
O amor é um jogo perdido
(De Love is a losing game)
Quando você fuma toda minha maconha, cara
Você tem de chamar o traficante, cara
Assim eu tenho a minha e você tem a sua
(De Addicted, ou seja, Viciado)
e que a consumiu
amy getty ok Amy Winehouse e o mundo que a gerou – e que a consumiu
Amy Winehouse parecia ter, dentro daquele corpinho frágil, quebradiço, uma negona americana, dessas que soltam o berreiro no gospel ou se esgoelam no melhor rhythm & blues.

Experimente ouvir de olhos fechados Mr. & Mrs. Jones, que está no álbum de maior sucesso dele, Back to Black (de 2006). E também Rehab. E tantas outras. Ninguém haveria de dizer que a voz vem de uma criatura tão esquálida, tão dramaticamente indefesa, tão desesperadamente carente – uma inglesinha criada num bairro periférico de Londres, de família de classe média baixa e limitadas perspectivas de vida.

Southgate, o bairro em que ela nasceu e que a explica bastante, a ela e à música dela, fica no norte de Londres, apesar deste South, Sul, aí do nome. Tem um setor agradável, arborizado, de casas afluentes, e um centro movimentado, de mistura étnica e atmosfera proletária.

O bairro tem sua peculiaridade no número de sinagogas (Winehouse era de origem judaica), de maçons, de indianos ricos e de pubs, e olha que estamos falando de Londres, a capital mundial dos pubs.

Andei pesquisando as fotos dela. Não há uma única em que ela apareça sorrindo de forma plena, espontânea. “A menina triste” (como a imprensa inglesa a chamou, nos necrológios prontos com enorme e previsível antecedência) não conseguiu suportar a luminosa explosão de seu próprio talento e o preciosismo radicalmente atormentado que, se serviu de alimento para sua feroz criatividade, também acabou por levá-la à autodestruição.

O bicho da depressão a comeu por dentro. E a exigência que ela – de aparência tão desleixada – tinha consigo mesma.

Amy Winehouse deixa obra pequena se comparada a outras estrelas pop que partiram cedo como ela, Jim Morrison, Kurt Cobain, Janis Joplin. Mas, na qualidade, faz parte do primeiro time.

Vermeer não chegou a pintar 40 quadros em toda a sua vida e os holandeses o colocam no mesmo nível de Rembrandt e de Van Gogh. James Dean fez três filmes, e está no panteão de Hollywood. Elizabeth Bishop desponta entre os três maiores poetas americanos do século 20 tendo escrito apenas 50 poemas.

Amy Winehouse nunca chegou a divulgar o tão prometido terceiro álbum.

A arte não se mede por centimetragem.


FONTE: http://noticias.r7.com/blogs/nirlando-beirao

Nenhum comentário:

Postar um comentário