A Ressurreição de Steven Tyler
Por Brian Hiatt
Depois de anos de dependência, clínicas de reabilitação e problemas de saúde, o líder do Aerosmith encontrou o renascimento no lugar menos provável: a bancada de jurados do American Idol
Foto: Theo Wenner
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Por um instante, Steven Tyler quase fica sem palavras. Ele está parado na beira de um penhasco no Laurel Canyon, se extasiando com a paisagem de Los Angeles a seus pés, a cidade esparramada aos poucos dando lugar às montanhas de picos brancos no horizonte. À sua esquerda, depois das colinas verdejantes, uma gangue de nuvens escolheu o letreiro de Hollywood como alvo de uma rajada de chuva. Um vento repentino faz os cabelos de Tyler esvoaçarem enquanto ele recebe tudo de peito aberto. Um suspiro fundo de ar frio, e então ele retoma o monólogo que vem recitando desde que aprendeu a falar. "É tudo mágico", diz Tyler em sua voz rasgada e empolgada, apontando para a tempestade. "Hollywood está chorando, porque a cerimônia do Oscar acontecerá amanhã à noite - está triste por ver o ano terminar, mas também está derramando lágrimas de alegria, porque vai começar tudo de novo."
Tyler fala sério sobre tudo isso, e é capaz de fazer você acreditar também. Ultimamente ele está em um estado maníaco, místico de embasbacamento e gratidão, praticamente vibrando com doces emoções - daí a positividade inabalável que ele exala em seu novo trabalho como jurado do American Idol. "Não tenho certeza se vou ser um mago capaz de disparar bolas de fogo quando chegar aos 80 anos", diz ele, andando pelo topo da colina. "Tenho tido muita sorte atualmente", diz ele. "Estou no topo do mundo." Há quatro meses, o líder do Aerosmith havia se mudado de Boston para Los Angeles por causa do emprego em Idol, que mudou sua vida. Para isso, alugou uma casa neste bairro de Hollywood Hills, com sua fascinante beleza natural - um eco dos bosques de New Hampshire onde ele passou os verões de sua infância, subindo em árvores, tirando a pele de guaxinins e fazendo a história do rock and roll.
O Aerosmith não lança um álbum de músicas inéditas faz uma década - seu último sucesso de verdade, "Jaded", de 2001, foi há a tanto tempo que o clipe contava com a participação de Mila Kunis ainda adolescente. O único disco de estúdio que eles conseguiram lançar depois disso foi uma coleção de covers de blues, Honkin' on Bobo, em 2004. Nesse meio-tempo, Tyler recebeu um golpe duro atrás do outro: descobriu que tinha hepatite tipo C em 2002 e teve seu sistema imunológico devastado pelo tratamento; foi erroneamente diagnosticado com um tumor no cérebro; descobriu que tinha mais outra terrível, mas já resolvida, doença que ele não diz qual é; fez uma cirurgia a laser para tratar um problema na garganta que podia vir a ameaçar sua voz; sofreu com um problema no pé que podia tê-lo afastado dos palcos para sempre; voltou a se viciar em drogas - prescritas, em sua maioria; passou por uma tentativa de desintoxicação e duas passagens por clínicas de reabilitação; caiu do palco em frente a milhares de fãs em Sturgis, Dakota do Sul, durante "Love in na Elevator"; seus parceiros de banda o ameaçaram constantemente de demissão; sua esposa o deixou depois de 17 anos; sua mãe morreu; à certa altura, seus filhos estavam convencidos de que ele iria morrer também. "Eu estava um trapo", diz Tyler.
Mas a última reabilitação parece ter funcionado; ele engatou um namoro sério, com Erin Brady, de 35 anos; conseguiu a vaga em Idol e ter chegado ao fundo do poço só o ajuda a saborear seu atual momento, aqui no topo do mundo. "Se você está sóbrio há 20 anos, perde a sensação de recompensa de ficar sóbrio pela primeira vez", diz ele. "Ficar sóbrio pela primeira vez é quando você está com tudo. É um renascimento, totalmente. Então na vida o que seria do sim sem o não? O que é o inverno sem o verão?"
Ele está vestindo uma jaqueta de couro brilhante e texturizado do All Saints, uma camiseta laranja avermelhada estampada de batik, calças cargo de couro marrom e os mesmos tênis de corrida que usou na gravação de Idol na noite passada - as laterais são cortadas para acomodar seus pés danificados. Ele anda rapidamente, em passos constantes, e uma ligeira puxada a cada pisada. Há anéis grossos em dois dedos de cada uma de suas enormes mãos. Ele também usa vários colares, um deles adornado com o dente de um guaxinim que pegou quando tinha 18 anos. Os tempos difíceis não deixaram muitas marcas nele, rock star alienígena que é - nem jovem, nem velho. É impossível imaginar Tyler em qualquer outra profissão ou formar a imagem do vocalista vestindo gravata e cabelo escovinha - ele é o que é, em todos os universos possíveis. Suas feições vividamente exageradas parecem feitas de borracha, moldáveis, como se ainda estivessem negociando um formato final - o que combina com seu estado mental sempre em movimento. Seus dentes são tão brancos que até cegam. Seu cabelo é longo, grosso e castanho, com luzes loiras aplicadas e vários fios multicoloridos de qualquer coisa amarrados, à la Keith Richards.
No início do ano passado, no auge de uma pendenga de meses com a banda (eles ameaçaram substituí-lo por cantores como Lenny Kravitz e Paul Rodgers), Tyler procurava por um plano B: "Disse ao meu empresário: 'Foda-se, me arrume um emprego'". Acabou no American Idol, um programa a que não assistia.
Ele está longe da rigidez do ex-jurado Simon Cowell. "Não é como se eu estivesse julgando alguém que cometeu um crime, como um juiz de verdade!", conta Tyler. Mas, como ele pode ser o primeiro a contar, os Estados Unidos o amam em seu novo papel. Ele é levado às lágrimas tanto pelas histórias tristes quanto pelas performances dos concorrentes; é verbalmente criativo; consegue ao mesmo tempo flertar e ser paternal com as jovens mulheres participantes, sem horrorizar a nação. Parece manter uma paz respeitosa com a outra jurada novata, Jennifer Lopez, e tornou-se amigo do veterano Randy Jackson.
Tyler lançou em maio uma autobiografia, Does the Noise in My Head Bother You? , cheia de histórias imorais que não têm nada a ver com o Idol, e agora lançará o primeiro single solo de sua carreira, uma faixa exuberantemente pop chamada "Feels So Good". Mas ele tem uma preocupação infinita com a banda que ajudou a formar há 41 anos, especialmente quanto à sua relação conturbada com o guitarrista Joe Perry ("Meu outro eu, meu irmão demônio", diz ele no livro).
Tyler fala sério sobre tudo isso, e é capaz de fazer você acreditar também. Ultimamente ele está em um estado maníaco, místico de embasbacamento e gratidão, praticamente vibrando com doces emoções - daí a positividade inabalável que ele exala em seu novo trabalho como jurado do American Idol. "Não tenho certeza se vou ser um mago capaz de disparar bolas de fogo quando chegar aos 80 anos", diz ele, andando pelo topo da colina. "Tenho tido muita sorte atualmente", diz ele. "Estou no topo do mundo." Há quatro meses, o líder do Aerosmith havia se mudado de Boston para Los Angeles por causa do emprego em Idol, que mudou sua vida. Para isso, alugou uma casa neste bairro de Hollywood Hills, com sua fascinante beleza natural - um eco dos bosques de New Hampshire onde ele passou os verões de sua infância, subindo em árvores, tirando a pele de guaxinins e fazendo a história do rock and roll.
O Aerosmith não lança um álbum de músicas inéditas faz uma década - seu último sucesso de verdade, "Jaded", de 2001, foi há a tanto tempo que o clipe contava com a participação de Mila Kunis ainda adolescente. O único disco de estúdio que eles conseguiram lançar depois disso foi uma coleção de covers de blues, Honkin' on Bobo, em 2004. Nesse meio-tempo, Tyler recebeu um golpe duro atrás do outro: descobriu que tinha hepatite tipo C em 2002 e teve seu sistema imunológico devastado pelo tratamento; foi erroneamente diagnosticado com um tumor no cérebro; descobriu que tinha mais outra terrível, mas já resolvida, doença que ele não diz qual é; fez uma cirurgia a laser para tratar um problema na garganta que podia vir a ameaçar sua voz; sofreu com um problema no pé que podia tê-lo afastado dos palcos para sempre; voltou a se viciar em drogas - prescritas, em sua maioria; passou por uma tentativa de desintoxicação e duas passagens por clínicas de reabilitação; caiu do palco em frente a milhares de fãs em Sturgis, Dakota do Sul, durante "Love in na Elevator"; seus parceiros de banda o ameaçaram constantemente de demissão; sua esposa o deixou depois de 17 anos; sua mãe morreu; à certa altura, seus filhos estavam convencidos de que ele iria morrer também. "Eu estava um trapo", diz Tyler.
Mas a última reabilitação parece ter funcionado; ele engatou um namoro sério, com Erin Brady, de 35 anos; conseguiu a vaga em Idol e ter chegado ao fundo do poço só o ajuda a saborear seu atual momento, aqui no topo do mundo. "Se você está sóbrio há 20 anos, perde a sensação de recompensa de ficar sóbrio pela primeira vez", diz ele. "Ficar sóbrio pela primeira vez é quando você está com tudo. É um renascimento, totalmente. Então na vida o que seria do sim sem o não? O que é o inverno sem o verão?"
Ele está vestindo uma jaqueta de couro brilhante e texturizado do All Saints, uma camiseta laranja avermelhada estampada de batik, calças cargo de couro marrom e os mesmos tênis de corrida que usou na gravação de Idol na noite passada - as laterais são cortadas para acomodar seus pés danificados. Ele anda rapidamente, em passos constantes, e uma ligeira puxada a cada pisada. Há anéis grossos em dois dedos de cada uma de suas enormes mãos. Ele também usa vários colares, um deles adornado com o dente de um guaxinim que pegou quando tinha 18 anos. Os tempos difíceis não deixaram muitas marcas nele, rock star alienígena que é - nem jovem, nem velho. É impossível imaginar Tyler em qualquer outra profissão ou formar a imagem do vocalista vestindo gravata e cabelo escovinha - ele é o que é, em todos os universos possíveis. Suas feições vividamente exageradas parecem feitas de borracha, moldáveis, como se ainda estivessem negociando um formato final - o que combina com seu estado mental sempre em movimento. Seus dentes são tão brancos que até cegam. Seu cabelo é longo, grosso e castanho, com luzes loiras aplicadas e vários fios multicoloridos de qualquer coisa amarrados, à la Keith Richards.
No início do ano passado, no auge de uma pendenga de meses com a banda (eles ameaçaram substituí-lo por cantores como Lenny Kravitz e Paul Rodgers), Tyler procurava por um plano B: "Disse ao meu empresário: 'Foda-se, me arrume um emprego'". Acabou no American Idol, um programa a que não assistia.
Ele está longe da rigidez do ex-jurado Simon Cowell. "Não é como se eu estivesse julgando alguém que cometeu um crime, como um juiz de verdade!", conta Tyler. Mas, como ele pode ser o primeiro a contar, os Estados Unidos o amam em seu novo papel. Ele é levado às lágrimas tanto pelas histórias tristes quanto pelas performances dos concorrentes; é verbalmente criativo; consegue ao mesmo tempo flertar e ser paternal com as jovens mulheres participantes, sem horrorizar a nação. Parece manter uma paz respeitosa com a outra jurada novata, Jennifer Lopez, e tornou-se amigo do veterano Randy Jackson.
Tyler lançou em maio uma autobiografia, Does the Noise in My Head Bother You? , cheia de histórias imorais que não têm nada a ver com o Idol, e agora lançará o primeiro single solo de sua carreira, uma faixa exuberantemente pop chamada "Feels So Good". Mas ele tem uma preocupação infinita com a banda que ajudou a formar há 41 anos, especialmente quanto à sua relação conturbada com o guitarrista Joe Perry ("Meu outro eu, meu irmão demônio", diz ele no livro).
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