Avaliação:  NOTA 4
 


Não se pode dizer que José Alvarenga Jr. seja inexperiente nos cinemas. Mas seria ainda mais inapropriado afirmar que ele é um bom cineasta. Reconhecido diretor de televisão da Rede Globo, Alvarenga iniciou há mais de 20 anos sua carreira no mundo da Sétima Arte e, pelo visto, ainda tem muito o que provar. Sua maior falha: decidir levar séries feitas para serem vistas em casa para a tela grande em adaptações que esquecem de ter suas linguagens modificadas. O mais estranho, porém, é que ele parece estar desaprendendo com o tempo.

Responsável por cinco filmes da trupe liderada por Renato Aragão, “Os Trapalhões”, o diretor obteve resultados satisfatórios com as obras, por mais que hoje elas provoquem mais nostalgia do que qualquer outra boa sensação. No entanto, foi com “Os Normais” que ficou explícita sua dificuldade em transformar televisão em cinema, falha que se repete em “Cilada.com”, teoricamente uma versão estendida de uma bem-sucedida sitcom estrelada e criada por Bruno Mazzeo.

“Teoricamente” porque pouco há da essência do original “Cilada” nesta adaptação. O que era uma comédia de costumes, que explorava embaraçosas situações do dia-a-dia (com um humor refinado, que bebia das fontes das stand-up comedies), vira uma comédia-romântica extremamente ruim, envolvida por piadas pontuais que apostam em um humor barato, as quais não possuem comprometimento algum com a história que acompanhamos. Alvarenga e Mazzeo, enfim, comercializam os valores cômicos da série em prol da pronta aprovação popular, o que certamente irá acontecer.

O fato é que o roteiro do próprio Mazzeo em parceria com Rosana Ferrão sabe como fazer a audiência dar altas gargalhadas. Por mais que algumas cenas soem repetitivas (como a das sombras, já muito bem utilizada em “Os Normais – O Filme”), o rol de comediantes e atores fazem-nas parecerem novas. O destaque aqui vai para Sérgio Loroza, intérprete do hilário cineasta experimental Marconha (sim, faça a associação que deve ser feita), que confunde garota de programa com diarista, em um exemplo das situações cômicas exaltadas pelo filme.

Diferente da sitcom, os diálogos bem trabalhados perdem lugar para as performances, que para satisfazerem a proposta do longa, quão mais exageradas estiverem, melhor. Até a talentosa Dani Calabresa surge em participação especial, mais parecendo estar em alguma esquete do “Comédia MTV” do que em um filme. 

Mas é a presença de Rita Elmôr, atriz de “Separação?!” e “Macho Man”, que nos dá a quase certeza de que Mazzeo e Ferrão aceitaram algumas questionáveis dicas de Alexandre Machado e Fernanda Young.

Para piorar, o roteiro insiste em um romance chato e conturbado, que sempre soa mais como uma falsa justificativa para gerar as inúmeras piadas que vemos adiante, especialmente as que giram em torno da temática “ejaculação precoce”. 

Não é raro, então, vermos a comicidade cessar por momentos para dar espaço para a relação entre Bruno (Mazzeo) e Fernanda (Paes Leme), em uma estranha mudança de tom que mais se assemelha a de uma telenovela. A péssima construção dos personagens, sempre exibidos como caricaturas de si mesmo, impede que se tenha qualquer afeição pelo casal, apesar de Alvarenga tentar fazer um encerramento à lá “Simplesmente Amor”.

O diretor, por sinal, trabalha no padrão dos seriados exibidos às sextas pela Globo. Não há qualquer aceleração de ritmo ou movimento de câmera diferenciado. Os cenários fechados, limitados a um apartamento ou escritório, dão a mesma sensação de que algum controle remoto está faltando.

Mesmo algumas sequências em coberturas de prédios ou em plena rua não fazem com que tal constatação se afaste. A má utilização da trilha sonora também contribui para o horroroso resultado técnico final da produção.

Deixando de ser uma admirável sitcom da Multishow, “Cilada” transforma-se em uma série global nas mãos de José Alvarenga Jr., Bruno Mazzeo e Rosana Ferrão, porém, também devem levar a culpa, especialmente o primeiro, ao destruir uma criação própria. Extremamente comercial, “Cilada.com” é comédia feita para aqueles sem qualquer tempo de sentar no sofá e zapear pelas boas produções televisivas nacionais, que nunca deveriam sair de onde estão.


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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.