Avaliação: NOTA 8
 
 

No ano de continuações das grandes animações, o humor e a originalidade são deixados de lado. A ação e o drama assumem o lugar principal para exibir toda a imensa e impressionante técnica de seus realizadores, que rompem barreiras a cada novo trabalho. Não foi assim com “Rango”, preciosidade cinematográfica que ainda preza por uma boa comicidade (mesmo sendo tecnicamente estupendo). Mas foi assim com “Rio”, que exibe com grande entusiasmo a efervescência cultural da capital fluminense. E é assim com “Kung Fu Panda 2”, como deve ser também com as sequências de “Carros” e “Happy Feet”.

Se o roteiro não é a principal arma, a direção compensa (em parte), com um ritmo alucinante que transforma os longas em um entretenimento passageiro de qualidade. E é isso que a segunda parte da saga do urso-panda Po é:  acima de tudo um prazeroso passatempo. Dando pouco espaço para que o espectador respire, a animação sustenta-se em excelentes cenas de ação (que fazem bonito frente a obras live-action do gênero), sem esquecer de incluir pitadas de carisma em seu protagonista, característica que se destaca graças ao leve, mas simpático drama exibido.

Os roteiristas Jonathan Aibel e Glenn Berger retomam a parceria, trazendo uma trama ainda mais simples, na qual Po tem que enfrentar dois inimigos de uma só vez. Para combater o primeiro deles, o maléfico pavão Lorde Chen (que deseja dominar a China), o dragão guerreiro conta com a ajuda de seus habituais companheiros: Tigresa, Macaco, Garça, Louva-Deus e Víbora. Para o outro, no entanto, precisa agir sozinho. As origens do urso-panda passam a incomodá-lo, e agora ele precisa descobrir de onde veio para salvar o país oriental, assim como o kung fu.

Se ao ler a sinopse, você achou o filme extremamente didático, você não está completamente errado. “Kung Fu Panda 2” não é uma animação que pretende surpreendê-lo do ponto de vista narrativo. Mas é aceitando a sua limitação que o filme se torna bastante eficiente, provando que as fórmulas, quando bem trabalhadas, ainda funcionam. Aibel e Berger entregam um roteiro correto, sem grandes furos, que aposta em ação justificada e meticulosamente medida, jamais cansando os olhos do público.
 
À diretora Jennifer Yuh (que substitui Mark Osborne e John Stevenson), em sua primeira experiência na função nos cinemas, é concedida a principal responsabilidade. E ela a cumpre com imenso talento. Desde os primeiros minutos já somos surpreendidos com sequências de luta que esbanjam criatividade, as quais não têm medo de beber da fonte de verdadeiras produções orientais. Para nossa felicidade, elas permanecem até os últimos minutos de projeção, explorando todo o território chinês, indo de perseguições atrapalhadas a embates cheios de explosões e misticismo.

Como se não bastasse, Yuh ainda conta com um departamento de arte que não é apenas tecnologicamente bem dotado, mas também visualmente comprometido e engajado, montando cenas de grande beleza fotográfica, que exploram o vermelho em todas as suas potencialidades. Devem-se destacar também as escolhas feitas para remontar o passado do vilão, optando por saídas mais “artesanais” que apenas dão mais méritos à real textura da imagem, em um contraste que impressiona.

Mas nem só de técnica e ação vive o filme. O roteiro é inteligente ao buscar na história de vida de Po uma sensibilidade que desacelera, mesmo com moderação, o ritmo da trama. Os ótimos flashbacks dão uma dose extra de drama e “fofura” ao filme, além de aprofundar a bonita relação do protagonista com o seu pai adotivo. A opção dá ainda mais carisma ao urso-panda, que continua com piadas e frases cômicas na ponta da língua, bem como com uma incrível capacidade de destruir planos e pagar micos, mesmo que alguns soem demasiadamente infantis.

Desta vez, o roteiro concentra-se quase que exclusivamente em Po, já que os coadjuvantes pouco dizem a que vieram.  A chatice do Mestre Shiffu é felizmente limitada, bem como a participação dos cinco furiosos, reduzidos a meros assessores de combate donos de personalidades nada marcantes. O mesmo pode-se dizer de Lorde Chen, um vilão comum, de justificativas repetidas, ainda que visualmente bem resolvido. A descrição pode ser utilizada também para todo o filme, que mesmo sem ousar, incrementa e cresce onde já era bom (além de amenizar outros erros), superando o filme original e satisfazendo dos pequenos aos grandões com uma continuação muito bem vinda.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.