Livro publicado nos EUA mostra os bastidores da venda de ingressos para shows e aponta por que eles custam tanto hoje em dia
Andre Penner/Associated Press |
Bono, vocalista da banda U2, canta em show em São Paulo, em abril
CAROL NOGUEIRA
DE SÃO PAULO
Nos anos 1970, o ex-beatle Paul McCartney pediu um favor à amiga Shelley Lazar. "Você consegue ingressos para hoje à noite?" Os bilhetes estavam esgotados, mas a esperta Lazar os conseguiu.
Na época, McCartney ficou incomodado e indagou: "Eu não entendo, Shelley, de onde esses ingressos vêm?". Ela apenas disse: "Bem, Paul, não existe essa coisa de show com ingressos esgotados".
A história acima é contada no livro "Ticket Masters: The Rise of the Concert Industry and How the Public Got Scalped" (a ascensão da indústria de shows e como o público foi lesado, em tradução livre), recém-lançado nos EUA.
A amiga de McCartney não trabalhava na indústria do entretenimento. De dia, era uma professora primária de Nova York e, à noite, cuidava da lista de convidados de artistas como os Rolling Stones. E sempre tinha ingressos para os shows mais badalados. Ela ainda não sabia, mas sua atividade noturna daria origem, décadas depois, a uma das maiores dores de cabeça de frequentadores de shows: os cambistas.
Os autores de "Ticket Masters", os jornalistas norte-americanos Dean Budnick e Josh Baron, argumentam que, com o tempo, essa prática se modificou e foi adotada pelas produtoras de shows e até pelos artistas.
Para eles, a fusão da Ticketmaster, maior companhia de venda de ingressos do mundo, com a Live Nation, maior produtora de shows no planeta, em 2009, piorou as coisas ainda mais.
"É um monopólio agressivo. Eles organizam e vendem os ingressos dos maiores shows, cobram o que querem e o público tem de aceitar", disse Budnick à Folha.
Segundo o autor, nos EUA, a Ticketmaster serve de "cambista" de seus próprios ingressos no site TicketsNow, que também pertence à empresa, mas é usado pelo público para vender ingressos que sobraram. "Os melhores lugares raramente estão à disposição do público", argumenta o autor.
A empresa aplicaria ainda um método pouco ortodoxo para descobrir quanto o público pagaria por shows concorridos, leiloando ingressos para shows de Madonna, Shakira, Red Hot Chili Peppers e Roger Waters.
A empresa foi muito criticada por essa prática, mas o ex-presidente da Ticketmaster Sean Moriarty, que renunciou em 2009, disse que a considerava justa.
AMÉRICA LATINA
Desde 2008, a Live Nation é representada pela Time For Fun (T4F), antiga CIE, no Brasil. Aqui, a Ticketmaster usa o nome Tickets For Fun. A empresa é responsável por trazer ao país shows de U2 (foto), Madonna e AC/DC.
"Nos tornamos dominantes num mercado do qual não participávamos e nem nos custou muito dinheiro", disse à "Billboard" o antigo CEO da Live Nation Jason Garner.
Hoje, a T4F atua ainda no Chile e na Argentina é a maior produtora de shows da América Latina, com lucro de R$ 569 milhões em 2010. Será que, no Brasil, acontece o mesmo que nos EUA?
"Descobrimos que essas práticas são aplicadas no mundo todo por grandes produtoras", disse Budnick. Procurada pela Folha, a T4F preferiu não se pronunciar.
TICKET MASTERS
AUTORES Dean Budnick e Josh Baron
EDITORA ECW Press
QUANTO US$ 15 (cerca de R$ 23, na Amazon.com)
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