A Inquilina: suspense investe em fórmulas fracas e não impressiona
Bom elenco é desperdiçado por história morna.
Avaliação: NOTA 4
Na indústria cinematográfica, os argumentos dos filmes têm se reciclado com o passar dos anos. São poucas as tramas que conseguem se opor ao clichê de uma forma realmente original, que causa impacto pela ousadia ou pretensão benéfica. Por um lado, os realizadores sabem o que o público quer ver, e contnuam batendo nas mesmas fórmulas. Não é questão de qualidade, mas basicamente de mercado mesmo.
O suspense passa um pouco por essa crise, ainda que minimizada pelas produções alternativas e independentes que chamam mais atenção do que a indústria americana. Em “A Inquilina”, vemos mais uma trama clichê se utilizar do bom talento de seu elenco para contar uma história simples sem sair da zona de conforto. O longa, vendido como um suspense sexy e avassalador, dá espaço para mais uma experimentação comum, sem grandes destaques.
Na trama, Juliet (Hilary Swank) é uma médica que passa por um momento difícil. Após encontrar seu companheiro com outra na cama, ela tenta recomeçar a vida longe dele. Então, Juliet decide procurar um novo apartamento que a faça se sentir em casa. Ela recebe uma ligação com uma oferta inacreditável em um prédio antigo. O dono do local, Max (Jeffrey Dean Morgan), acolhe a nova inquilina. Nas primeiras noites, Juliet percebe que o apartamento é estranho, já que barulhos a assustam. Com o tempo, ela descobrirá que o flerte com Max pode ser algo perigoso para aquela mulher fragilizada.
O roteiro de Antti Jokinen e Robert Orr não perde muito tempo colocando sua trama em suspensão. Já no começo, ficamos sabendo que Max está obcecado pela moça, que o considera um amigo, mesmo com a tensão sexual visível. Optar por esclarecer rapidamente as intenções da história é um risco, já que o roteiro não traz nenhuma outra reviravolta até o desfecho do longa. Assim como a protagonista, o público se torna impotente ao saber que Max é estranho e observa a heroína o tempo todo, mas o cara nunca tem o seu passado explorado para compreender que o tornou um homem perigoso.
De toda forma, alguns méritos existem. Antti Jokinen também ficou responsável pela direção, sempre bem cuidadosa nas cenas de tensão. Auxiliado pela direção de fotografia de Guillermo Navarro, excelente em “Um Drink no Inferno” e “O Labirinto do Fauno” e medíocre na saga “Crepúsculo”, algumas sequências geram certa tensão com a trilha sonora discreta, mas isso não supre a necessidade narrativa da geração dos conflitos. O público fica esperando o momento em que, obviamente, Juliet descobre tudo e tenta fugir do maluco.
Com dois Oscar na estante, a atriz Hilary Swank tem se perdido em sua filmografia por ser sempre boa demais para personagens menos complexos. A ingenuidade de Juliet não combina com o porte de Swank, deixando-a fora de contexto. Seu parceiro de tela, Jeffrey Dean Morgan, ator da segunda temporada de “Grey’s Anatomy” e de “Watchmen”, até esboça de maneira convincente a obsessão pela protagonista e a sua perversão, mas o roteiro nunca deixa claro os motivos dele.
A participação de Christopher Lee aparentava ser uma grande chave para o enredo, mas o ator é desperdiçado em poucas cenas significativas. O companheiro de Juliet, vivido por Lee Pace, também seria outra alternativa para apimentar a história, mas não tem tantas oportunidades. Dessa forma, o diretor nos leva a uma trama morna, sem grandes reviravoltas que empolguem ou que sequer faça o espectador se importar com o drama de Juliet.
“A Inquilina” é um suspense mais do mesmo, sem grandes intervenções ou descobertas. A forma passiva em que é visto pelo público chega a incomodar, mas não o faz um filme extremamente ruim. Apenas faltou boas ideias para uma produção da Hammer Films, que um dia nos trouxe produções de Drácula e Frankenstein, como “Drácula” (1958) e “A Maldição de Frankenstein” (1956), além de “O Fantasma da Ópera” (1962). Parece que os bons tempos demoram a voltar.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.
Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.
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