terça-feira, 26 de julho de 2011

Assalto ao Banco Central: 

um constrangimento sem limite

Filme de Marcos Paulo passa longe de mostrar a genialidade dos bandidos que realizaram o maior roubo a banco do Brasil.

Avaliação:  NOTA 2
 
 

Em 2005, o assalto ao Banco Central parou o País e repercutiu no mundo inteiro. A audácia e a inteligência da quadrilha que roubou cerca de R$ 164 milhões e deixou um buraco subterrâneo em Fortaleza (CE) se tornou inesquecível na memória popular. Até que demorou para a Globo Filmes se apropriar da história e levá-la ao cinema, até mesmo porque o caso ainda vive suas brechas. A ficção criada a partir do livro homônimo mostra que a pretensão pode render um longa completamente incapaz de fazer jus a esse grande evento, oferecendo apenas um desfile de caricaturas e, principalmente, constrangimento.

A trama ficcional é focada em Barão (Milhem Cortaz), o chefão do crime e idealizador do assalto. A ideia era ficar rico da noite para o dia, por mais que isso lhe custasse muito dinheiro, uma equipe altamente preparada e meses de trabalho sujo. Ao lado de sua namorada Carla (Hermila Guedes), eles convocam uma comitiva para pensar como entrar no Banco Central de Fortaleza sem deixar pistas, burlando a vigilância eletrônica e sem disparar um tiro sequer. Ao lado de Mineiro (Eriberto Leão), os contatos são feitos e uma equipe inteligente entra para o grande roubo. A recompensa de cada um é a quantia singela de R$ 2 milhões, sendo irrecusável para aquelas personas corrompidas.

Logo no início, somos apresentados à formação da quadrilha de uma forma bastante didática.  O roteiro de Renê Belmonte, um dos autores do livro, nos força a engolir as competências dos envolvidos, sem nem dar um background mínimo sobre suas personalidades e a importância de integrarem a equipe. Nem mesmo Barão consegue justificar seu poder aos olhos do espectador, o que piora pela atuação caricata de Milhem Cortaz, que sempre aparece em momentos chave proferindo uma frase de efeito e embalado por uma trilha sonora de ameaça. Ingenuidade das mais antigas achar que uma personalidade se constrói apenas por isso.

As falhas do script continuam. Com a equipe formada, lá para as tantas começa uma montagem paralela que mistura o planejamento do assalto e as investigações pós assalto, com os interrogatórios dos criminosos. O resultado, que era para ser positivo, não exprime nenhuma importância da escolha desse tipo de montagem, muitas vezes se confundindo entre si e não criando grandes panoramas do que aconteceu em Fortaleza. A partir desse ponto, temos dois arcos narrativos, o que envolve os assaltantes e as investigações. Ao invés de somarem, disparam para a falta de harmonia na contação da trama.

O diretor Marcos Paulo, que faz sua estreia no cinema, demonstra vulnerabilidade em achar que apenas dessa forma construirá aquele universo pretensioso do assalto, mas acaba não passando segurança alguma em sua estratégia. Paulo é um diretor de televisão sem igual, tendo realizado ficções históricas como “Roque Santeiro”, “Dancin’ Days” e “A Indomada”, e assumiu o filme em uma fase difícil da sua vida. Entretanto, ele mostra o tipo do cineasta brasileiro influenciado por produtoras de grande poderio, no caso a Globo Filmes, que autoriza seus “diretores” a realizar uma série ou uma novela e vender como cinema. A linguagem adotada aqui é extremamente novelesca, sem investir em planos ou movimentações de câmera consideráveis. Até mesmo as locações parecem mais saídas de um sitcom, o que prejudica, por exemplo, ao reproduzir a imensidão do túnel criado pelos bandidos.

Então daí por diante, a narrativa se desgasta de forma irrecuperável, optando por diálogos infames, cheios de frases de efeito e personagens estereotipados. Talvez quem mais sofra com isso seja Hermila Guedes, fantástica atriz que despontou com “O Céu de Suely”. Ser femme fatale é fácil para ela, mas o texto a idealiza com tanta falsidade que, em uma determinada cena, é quase impossível não rir enquanto sua personagem Carla visita o túnel de salto alto nos pés. Cortaz, como foi falado, tenta incorporar o vilão canastrão, bem vestido e supostamente inteligente. Sua única dimensão vista é patética. Há uma tentativa em americanizá-lo, talvez uma espécie de Anton Chigurh, de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, sem sucesso.

O pior mesmo é ver o experiente Lima Duarte ser inserido em conflitos clichês e forçado a reproduzir os diálogos pouco inspirados do roteiro. A maravilhosa Giulia Gam se perde na tentativa de mostrar a nova geração de investigadores, antenada nas novas tecnologias e sem muito tempo para a vida pessoal. Outro clichê pouco tragável. Ainda vale citar Vinícius de Oliveira, que encantou o mundo ao lado de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”, ao interpretar de forma amadora o irmão religioso de Carla, cheio de tiques e tremeliques cartunescos.
Não há uma liga que sustente “Assalto ao Banco Central” como uma boa produção do cinema brasileiro, não suprindo as expectativas lançadas na mídia. É lamentável ver uma história realmente de cinema se perder em uma experimentação pífia, que não empolga no drama ou sequer na ação. Que fique claro que o fracasso não é por ser cinema brasileiro, que tem realizado melhores produções para circuito fechado do que para bilheterias estrondosas. O fracasso é por não ser cinema em momento algum. É apenas uma experiência de constrangimento sem limite.

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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.

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