O Adeus de Jim Morrison
Por Ben Fong-Torres
Há quatro décadas morria, aos 27 anos, o polêmico frontman do The Doors
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Jim morrison, um homem que cantou, compôs e bebeu excessivamente quando era vocalista do The Doors, morreu - em paz - aos 27 anos, em Paris.
A morte de Morrison, apesar (e por causa de) esforços estratégicos de sua esposa, Pamela Courson, e dos amigos, foi coberta de mistério. Ele morreu na madrugada de sábado, 3 de julho, mas só em 9 de julho, dois dias depois de ser enterrado em Paris, seu empresário divulgou a notícia à imprensa norte-americana.
Bill Siddons, 23 anos, empresário do The Doors, explicou em uma declaração: "A notícia inicial de sua morte e do funeral foi mantida em segredo porque aqueles de nós que o conhecíamos intimamente e o amávamos queríamos evitar toda a notoriedade e a atmosfera de circo que cercou a morte de Janis Joplin e Jimi Hendrix".
Siddons fez a declaração após voltar de Paris, onde ele, Pamela e três amigos foram ao enterro, no célebre cemitério Père Lachaise, onde estão enterrados nomes famosos das artes e das letras como Honoré de Balzac, Oscar Wilde, Molieri e Edith Piaf. Siddons afirmou que não haveria missas em Los Angeles, cidade onde Morrison frequentou por um tempo a UCLA (Universidade da Califórnia) e começou a cantar com o The Doors em 1965.
Segundo Siddons: "Jim foi para lá para escrever e descansar. Em Paris, encontrou alguma paz e felicidade e tirou Los Angeles de seu sistema. Pode ser difícil de entender, mas era difícil morar aqui [em Los Angeles] e viver o que todos pensavam que ele era. Não houve velório, o que deixou tudo melhor. Só jogamos algumas flores e terra e dissemos adeus." Sobre a falta de uma autópsia, Siddons justificou: "Simplesmente porque não queríamos fazer desse jeito. Queríamos deixá-lo em paz. Ele morreu em paz e com dignidade".
Mesmo assim, alguém estragou as coisas. Boatos vazaram de Paris a Londres naquele fim de semana dizendo que Morrison havia morrido, mas quando repórteres ligaram para o apartamento de Jim e Pam, perto da Bastilha, ouviram que Morrison "não estava morto, e sim muito cansado e descansando em um hospital". Em 8 de julho, depois do enterro do cantor-compositor-poeta, a redação da United Press International em Paris noticiou que Morrison estava "se recuperando e sendo tratado em um hospital ou clínica". Um jornal pop de Paris publicou uma foto de Morrison com a manchete: JIM MORRISON NÃO MORREU, novamente divulgando que ele estava "cansado" devido a "uma doença simples".
Sua morte foi mantida em sigilo. No entanto, na noite de sábado, um DJ de um clube noturno local a anunciou nos alto-falantes. Seu anúncio foi recebido com surpresa e silêncio. Uma pequena onda de conversas se espalhou e chegou até Londres naquela noite. Muitos ligaram para Paris para obter comentários e detalhes. Não houve nenhum.
A embaixada dos Estados Unidos só ouviu os rumores na segunda-feira. Finalmente, Pamela pediu a emissão da certidão de óbito na quarta-feira, listando Jim como James Morrison, poeta. A embaixada não percebeu isso até a sexta-feira, quando agências de notícia começaram a pressionar pela história de que o morto era Jim Morrison do The Doors.
Sabia-se que Morrison tinha um problema respiratório e que tossiu sangue por quase dois meses em Paris. Consultou dois médicos durante esse período, mas, até morrer, parecia forte e saudável. Ele e Pamela haviam viajado para Espanha, Marrocos e Córsega e, de volta a Paris, mantinham contato com amigos próximos, como o poeta Michael McClure, o fotógrafo Frank Lisciandro e também com o escritório do The Doors, por meio de cartões-postais, cartas e pelo telefone. Em diversas ocasiões, Jim falava sobre escrever um roteiro e poesias na França, e conversava com seu gerente de negócios, Bob Greene. Queria dinheiro para ficar até setembro.
Por volta das 4 da manhã de 3 de julho, Morrison acordou perturbado. Tossia de novo e, quando levantou, vomitou uma pequena quantidade de sangue. No entanto, conta Siddons, Jim disse a Pam que se sentia bem e que queria tomar um banho.
Pamela, de 25 anos, voltou a dormir. Então, decidiu ver como ele estava. Siddons recorda: "Jim estava morto na banheira. Tinha um meio-sorriso no rosto, e Pamela achou que ele estava brincando, aprontando alguma. Mas estava morto". Pam chamou os bombeiros para tentar a reanimação, e a polícia e um médico vieram depois - todos tarde demais.
A certidão de óbito menciona como a causa da morte um ataque cardíaco. Algumas notícias iniciais disseram que um caso repentino de pneumonia levou-o à morte. Siddons afirma que sabia a causa exata da morte, mas que não a podia descrever em termos médicos oficiais. Ele falou: "Foi uma espécie de insuficiência cardíaca, complicada por uma possível infecção pulmonar. O sangue provavelmente formou um coágulo, que viajou até o peito e bloqueou as válvulas do coração. E isso causou o ataque cardíaco".
Siddons atribui o coágulo sanguíneo a "abuso físico".
Morrison deixa os pais, o contra-almirante George e Clara Morrison, Andy, um irmão mais novo, e Anne, uma irmã mais nova e casada. Os pais moram em Arlington, Virgínia, um subúrbio de Washington, DC, onde o pai de Morrison trabalha no Pentágono. Siddons os avisou da morte do filho por telefone. "Sabíamos que ele estava em Paris", disse a mãe antes de receber o anúncio oficial, "mas não tínhamos falado com ele desde sua chegada." Ela e os outros filhos só souberam de Jim quando Siddons voltou do funeral para fazer o anúncio.
Em um testamento escrito em fevereiro de 1969, afirma Max Fink, advogado do artista, Morrison deixava tudo para Pamela. Seu patrimônio era considerável, incluindo royalties recolhidos pela editora musical Ascap, direitos autorais de músicas e investimentos feitos para ele por seu gerente de negócios. Morrison pode nunca ter sabido disso, mas era, entre outras coisas, proprietário de parte de um acampamento para trailers. Depois de Pam, Morrison nomeou seus irmãos como herdeiros.
Pamela retornou a Los Angeles com Siddons e, de acordo com relatos mais recentes, ainda está em choque. Os pais de Morrison também não estavam disponíveis para comentários depois de receberem a notícia. Baylor Brown, capitão da Marinha e amigo de longa data da família, atendia as ligações e dizia apenas que o almirante e a senhora Morrison estavam "extremamente tristes" e não planejavam nenhum memorial separado para o filho. "Eles acreditam que o filho foi enterrado em um bom cemitério em Paris", diz o capitão Brown.
A morte de Morrison ocorreu exatamente dois anos depois da de Brian Jones, guitarrista do Rolling Stones. Há nove meses, Jimi Hendrix e Janis Joplin morreram. Todos os três faleceram aos 27 anos - como Morrison. No entanto, embora as mortes de Jones, Hendrix e Janis fossem devido a overdoses acidentais de drogas, Morrison morreu de "causas naturais". Nenhuma droga, conhecidos e amigos enfatizaram, foi conectada à morte, e, de fato, Morrison admitia que bebia muito, mas que pegava leve com drogas pesadas desde os primeiros dias do The Doors na Sunset Strip.
Jac Holzman, presidente da Elektra Records, tinha a imagem de um Morrison satisfeito enquanto se preparava para encontrar Pamela em Paris. O último álbum do The Doors para a Elektra, L.A. Woman, havia entrado rapidamente para as paradas, e dois singles do trabalho, "Love Her Madly" e "Riders on the Storm", fizeram o grupo voltar às rádios AM pela primeira vez desde "Touch Me".
Holzman conta: "Na última vez em que vi Jim, conversamos sobre seus planos - o que ele queria fazer. Achou que gravar L.A. Woman no porão do próprio escritório tinha sido revigorante. Demos a ele um gravador de oito pistas e uma mesa de som. Falou sobre ter menos ambição e não se preocupar em vender muitos álbuns. Falava até em voltar para fazer apresentações [o último show do The Doors foi em Nova Orleans, em dezembro]. E também mencionou algo sobre escrever roteiros em Paris".
Outro projeto que ficou incompleto foi um disco de poesias. Morrison publicou um livro de poemas, The Lords and the New Creatures, e distribuiu volumes particulares de escritos entre amigos. "Ele escrevia suas poesias com uma noção de sua voz em mente", diz Holzman. "E música concreta - alguns efeitos musicais e sonoros", que seriam gravados nas ruas ou em uma praia ou qualquer lugar onde um acompanhamento adequado pudesse ser encontrado. "Ainda estava experimentando com a forma", conta Holzman. "Queria passar por isso e depois escrever roteiros."
Morrison gravou sete álbuns com a banda. A Elektra lançou uma compilação, chamada 13, e estava planejando montar uma segunda coletânea de grandes sucessos. Os outros três membros do The Doors - o guitarrista Rob Krieger, o tecladista Ray Manzarek e o baterista John Densmore - se recusaram a comentar a morte do vocalista, mas se sabe que eles vinham ensaiando como um trio no escritório/estúdio do The Doors desde a partida do cantor. Com L.A. Woman, o Doors cumpriu com suas obrigações com a Elektra e estava aberto a negociações com outras gravadoras quando Morrison embarcou para a Europa.
"Morrison me contou: 'Não tenho ideia de por quanto tempo vou ficar longe e os membros do The Doors não têm nenhuma obrigação uns com os outros'", falou Siddons. Então, ele começou a escrever um novo livro de poesias e a banda começou a ensaiar, por volta de abril, e compor algumas faixas novas.
"Os integrantes da banda não estavam preocupados com o cantor, só estavam fazendo música", Siddons disse. Agora, com a notícia da morte de Jim Morrison, os três pararam de trabalhar. "E não conversaram nada sobre um possível novo vocalista. É cedo demais", concluiu o empresário.
Mas a procura já começou. Na segunda-feira após o anúncio da morte, Siddons recebeu uma ligação no escritório do The Doors, de um promotor em Cleveland. "Tenho um cantor. É parecido com [Mick] Jagger e soa como Morrison. Quer?"
Você lê esta matéria na íntegra na edição 58.
FONTE: http://www.rollingstone.com.br/edicoes/58/textos/o-adeus-de-jim-morrison/
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