Avaliação: NOTA  8
 
 
O fundo do palco cai e lá está Bruno com uma loira fogosa em trajes mínimos. Uma senhora desmaia de susto. A namorada faz barraco, xinga, bate o pé e prepara uma vingança  mesquinha: divulga na rede um vídeo íntimo do casal que mostra uma certa… “agilidade extrema” do garanhão na cama. E Bruno, com seu círculo amplo de conhecidos e pinta de Don Juan dos trópicos, vira motivo de gozação no trabalho e entre os amigos.

Então, aquele colega sem noção, que todos temos e guardamos para a
quelas horas em que não vale a pena consultar nem o melhor amigo, dá a dica: que tal fazer um novo vídeo, com depoimento das ex-namoradas narrando um pouco da potência sexual do novo solteiro? E lá vai Bruno em sua jornada quase épica e sua lista de telefones, ligando para a casa de suas ex-conquistas nas sequências mais engraçadas do longa.

É evidente que as tentativas de melhorar a reputação deteriorada não vão funcionar tão cedo. Mais evidente ainda é que o rapaz não vai recuperar a ex-namorada no primeiro ato, mas ela estará lá, linda e com os olhos quase cheios d’água, no desfecho. Entre os dois extremos, cheios de situações nada originais e clichês que saltam da tela, o que mais diverte em “Cilada.com” são os coadjuvantes. Principalmente aqueles quase insignificantes. Afinal, o que é mais divertido no filme que a senhora que desmaia, os amigos que não cansam de fazer piada com a situação, as ex-namoradas com suas peculiaridades, o diretor de cinema trash, o amigo sem noção e a empregada falante?

O potencial cômico de tantas figuras (nem todas foram citadas nas linhas anteriores) não chega a ofuscar o humor dos protagonistas, que também sabem fazer rir. Bruno Mazzeo levou da televisão para os cinemas o jeito desengonçado de atuar e as piadas ágeis que consagraram seu estilo. Ele foi, ao lado da publicitária e escritora Rosana Ferrão, responsável pelo roteiro de “Cilada.com”, que é uma overdose de momentos engraçados capazes de arrancar reações que vão do riso amarelo ao gargalhar sonoro. E quando protagonistas e coadjuvantes estão afiados no humor de um roteiro sensato, o resultado não pode ser outro. Sorte nossa!

É injusto não atribuir parte dos méritos ao diretor José Alvarenga Jr., um veterano no comando de filmes e seriados que elevaram a qualidade do humor no cinema brasileiro, embora nem sempre tenham agradado aos críticos mais formais. Ele foi um dos responsáveis por grandes sucessos como “Divã”, “Os Normais”, “A Diarista”, “Minha Nada Mole Vida” entre outros. Certamente, Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Carol Castro, Fabiula Nascimento, Fulvio Stefanini e Sérgio Loroza não seriam tão engraçados sem a direção segura de alguém experiente como Alvarenga.

A trilha sonora de “Cilada.com” é atual e ágil para acompanhar a velocidade da edição e o humor frenético das situações. A música tema é “Por Tudo o que For”, do Lobão, em uma versão cantada especialmente para o longa. Por funcionar como uma comédia romântica, ou um romance de comédia, como o trailer faz questão de deixar claro, o filme consegue equilibrar suas músicas modernas com canções de fundo que fortalecem o clima retrô daquilo que nunca sai de moda: o final feliz. Então, surgem nomes como Karina Buhr e Tiê, representantes da nova geração da MPB que insistem em manter um pé no tradicional.

“Cilada.com” é o desmembramento do seriado “Cilada”, exibido pelo canal de TV paga Multishow, e do quadro de mesmo nome exibido no “Fantástico”. Em ambos os programas, Mazzeo vivia situações corriqueiras que ganhavam ares de tragédia por algum motivo insignificante. Agora, nas telonas, o ator provou que seu talento está em constante expansão. Todos saiam da frente!

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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.