Avaliação: NOTA  4
 
 

Já diz aquele velho ditado que tudo demais é veneno. Prova disto é este “Qualquer Gato Vira-Lata”, no qual é tudo muito exagerado, principalmente os personagens. Os babacas são extremamente babacas, a amiga excessivamente compreensiva, o biólogo é muito caricato e o roteiro conseguiu fazer com que a linda Cléo Pires se transformasse em uma namorada saída do inferno. Se o namorado não fosse um imbecil completo, dava até para dar razão a ele.

A trama é levemente baseada na peça “Qualquer Gato Vira-lata tem uma Vida Sexual Mais Saudável que a Nossa”, escrita por Juca de Oliveira. A trama é a seguinte: Tati (Pires) é uma jovem estudante de direito aparentemente independente que namora Marcelo (Dudu Azevedo), um rapaz que não trabalha, não estuda, passa o dia de papo para o ar e surfando e que ainda mora com a mãe rica. No dia do aniversário do “Bebezão”, Tati leva um fora homérico e surta, sendo abandonada pelo companheiro no meio da chuva, na frente de todos.


Por acaso, acaba indo parar na sala de aula de Conrado (Malvino Salvador), um professor de biologia que tem a polêmica tese de que as mulheres precisam ser menos agressivas para conquistar os seus amados. Após – mais um – surto de Tati, ela resolve seguir os conselhos do professor, que se torna seu tutor na reconquista de Marcelo. Mas, como se trata de uma comédia romântica, nem preciso dizer o que acontece, não é?

O grande problema do filme, principalmente por seguir a contento a fórmula estabelecida do gênero, é que aquelas figuras na tela jamais parecem dialogar com o público. Sim, a hipérbole faz parte do humor. A questão aqui é que o excesso acaba por destruir os personagens.

Tati é neurótica, dependente, indecisa, histérica e grudenta, incorporando praticamente o anticristo das mulheres modernas e o pesadelo de qualquer homem. Não importa quão linda e charmosa Cléo Pires seja, a personagem beira o insuportável, chegando à marca de psicótica em alguns momentos. Isso não é romantismo ou amor, é doença mesmo.

Marcelo é o típico macho alfa sem cérebro, o que nos leva a questionar mais ainda a sanidade de Tati ao começar a namorar com o idiota daquele calibre, com a interpretação de Dudu Azevedo causando mais vergonha alheia que risadas. E Conrado é simplesmente chato, com Malvino Salvador mais parecendo um robô em sua interpretação.

Entre os coadjuvantes, a coisa não melhora muito, não tendo desenvolvimento nenhum. Enquanto a melhor amiga de Tati, vivida pela novata Letícia Novaes, está lá apenas para dar à protagonista alguém com quem conversar. Álamo Facó interpreta o maior babaca que já tive o desprazer de ver em uma tela de cinema. O tal Magrão é um ser irritante e parasita, sendo um mistério como um cidadão desses consegue ter amigos. Não há uma só cena neste filme onde este cidadão não esteja fazendo alguma babaquice, chega a ser incrível.

Ainda temos uma “participação especial” de Rita Guedes como a ex-mulher de Conrado, que aparece apenas para ser o proverbial obstáculo para o professor e Tati, cuja função na trama se desenrola faltando apenas 15 minutos para o final da projeção. O pior é que jamais sabemos o porquê das ações da ex, se ela age por ainda estar apaixonada por Conrado, por ser uma megera…
Enfim, faltam explicações e contexto e sobram pontas soltas, algo que não deveria haver em uma produção deste gênero. A direção de Tomas Portella é até eficiente, com destaque para a cena de abertura do filme e a boa inserção da trilha sonora, embora a montagem peque com o excesso do uso de fade outs, o que atrapalha ainda mais o ritmo da fita.

O que causa realmente a ruína de “Qualquer Gato Vira-Lata” é que comédias românticas dependem excessivamente de seus personagens, e os dessa película são simplesmente insuportáveis, levando por terra o esforço dos profissionais envolvidos. Algumas gags até acertam o alvo, mas, como um todo, o longa é mais preocupante do que engraçado, transmitindo uma mensagem confusa, para dizer o mínimo.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.