Avaliação: nota  7
 
 


A tecnologia tem possibilitado experiências visuais e estéticas cada vez mais apuradas no cinema. Talvez por isso os realizadores estejam obcecados pela ideia de que releituras de clássicos produzidos no cinema podem chamar atenção mais uma vez do público. Nem todos conseguem fazer jus ao material original, reverenciar a película outrora lançada ou trazer algo novo para o cinema. Ainda que a questão da fidelidade à obra adaptada seja sempre levada em conta, um filme deve ser analisado per si e precisa se sustentar em sua proposta.

O cineasta Paul W.S. Anderson sabia que podia contar com a tecnologia atual a seu favor, mas entrou em uma armadilha ao aceitar o comando a nova versão de “Os Três Mosqueteiros”. O clássico de Alexandre Dumas, o Pai, data de 1844, e já teve alguns experimentos no cinema (em 1993, lançado pela Disney, além das ótimas versões de 1948 – com Gene Kelly – e 1973 – com Cristopher Lee) e na TV (como a série animada da HBO produzida por Hanna-Barbera em 1968). O trunfo de Anderson não foi apenas usar o 3D, mas um orçamento gigantesco para suas acrobacias tecnológicas. O resultado foi um filme divertido, ainda que incomode os fãs mais tradicionais que talvez não compreendam que universo o cineasta quis construir nessa releitura livre de Dumas.

Na trama, D’Artagnan (Logan Lerman) conhece os lendários mosqueteiros Athos (Matthew Macfadyen), Aramis (Luke Evans) e Porthos (Ray Stevenson) após vários desentendimentos. Eles acabam caindo em uma nova aventura que pode ameaçar uma nova guerra entre França e Inglaterra e precisam unir forças para evitá-la. Entre os empecilhos estão a espiã Milady de Winter (Milla Jovovich), Duque de Buckingham (Orlando Bloom), o corrompido Cadeal Richelieu (Christopher Waltz) e seu agente Rochefort (Mads Mikkelsen). Em uma mistura de pitadas de humor, lutas de espadas e batalhas aéreas, os personagens precisam provar que a bravura está acima de qualquer dificuldade.

O roteiro de Alex Litvak (“Predadores”) e Andrew Davies (dos dois “Bridget Jones”) toma total liberdade para recontar a história de Dumas. Para isso, eles se atualizam em um prólogo interessante envolvendo as desenhos de Leonardo para uma espécie de navio voador, que pode servir de estratégia de guerra para as nações. Enquanto traições são arquitetadas, os mosqueteiros precisam, acima de tudo, encontrar um novo motivo para viver uma aventura e, estimulados pelo jovem D’Artagnan, aceitam resgatar uma joia que pode comprometer as relações entre França e Inglaterra.

O argumento, na realidade, é tratado quase como uma desculpa para que espadas sejam cruzadas. Isso quer dizer que não há muita profundidade naquilo tudo que nos é apresentado, com a única intenção de dar espaço para a ação. O roteiro acerta principalmente no alívio cômico, definindo seus personagens. As batalhas quase épicas, principalmente no ato final, retomam constantemente o fôlego do espectador, que se vê imerso em diversão pura. Afinal, “Os Três Mosqueteiros” sempre foi, acima de qualquer bravura que quisesse expor, uma diversão.

Para que a diversão seja bem desenvolvida, Anderson contou principalmente com efeitos visuais grandiosos. Ainda que seja possível perceber a presença exagerada do kroma key, as sequências são auxiliadas por uma direção de arte impecável assinada pelo supervisor Nigel Churcher, que conta em sua bagagem com “Amélia” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, além de já ter trabalhado com Anderson em “Resident Evil 2” e “Corrida Mortal”

O figurino de Pierre-Yves Gayraud, o mesmo de “Perfume – A História de um Assassino”, é cheio de glamour. Não se pode dizer o mesmo da trilha sonora, sempre exagerada e que não consegue discernir entre som direto, edição de som e trilha instrumental.

Sobre o elenco, questionável desde o anúncio da refilmagem, o quarteto principal encarna com vigor os seus personagem, destoando de uma Milla Jovovich caricata e um Orlando Bloom canastrão. Não ver Christopher Waltz brilhar incomoda, mas como uma sequência é praticamente certa (visto o gancho ao final do filme), talvez seu Cardeal consiga crescer mais nas próximas aventuras.

O uso do 3D não impressiona, se resumindo praticamente a enfiar espadas no rosto do público. Ainda que muito seja observado do Anderson que dirigiu “Resident Evil” e inspirações inevitáveis em “Piratas do Caribe”, este novo “Os Três Mosqueteiros” pelo menos traz o que faltou em alguns blockbusters deste ano: entretenimento, mesmo que passageiro.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.