Avaliação: 6


O cinema de suspense e terror não é mais o mesmo. Os sustos e a apreensão são jogados na tela sem muitos critérios, alterados pelo som exagerado. Não que isso seja ruim, quando a proposta é bem desenvolvida. O trash nunca foi tão atual. Mas de vez em quando (ou quase sempre), dá saudade de um terror mais clássico, baseado no psicológico e não somente no susto. O medo sempre se instala com mais facilidade naquilo que não podemos ver ou mesmo vemos com precaução. A nova produção de Guillermo Del Toro (“Mutação” e “O Labirinto do Fauno”) chega com essa proposta: resgatar um pouco da psicologia do medo por meio de uma história simples. Simples até demais.

Baseado em uma série de TV datada de 1973, o roteiro de Del Toro em parceria com Matthew Robbins mostra logo no prólogo o mistério que cerca a casa que, anos depois, será habitada por Alex (Guy Pearce) e Kim (Katie Holmes). A velha trama da casa mal assombrada é onde moram criaturas diabólicas fanáticas por crianças, que começam a se manifestar quando a filha de Alex, a pequena Sally (Bailee Madison), vai morar com ele. A casa, até então pacífica, começa a ser alvo de movimentações estranhas, sussurros e ameaças após a descoberta de um porão, onde mora o perigo que cercará os personagens.

O longa trabalha muito bem a proposta de seu título, sendo coerente em arrancar frio na barriga do público ao usar a iluminação, mais precisamente a falta dela. O diretor Troy Nixey transforma a mansão em um ambiente assustador e usa as sombras e os ruídos para criar tensão, além de realizar sequências interessantes.  Em uma determinada cena envolvendo uma colcha de cama, por mais que o espectador saiba o que vai acontecer, é quase impossível não ficar apreensivo com a agilidade do plano. O problema principal do longa não é o razoável desempenho de Nixey, que chega a homenagear seu mentor Del Toro em diversos momentos da película, mas sim a ausência do próprio Del Toro na direção que certamente recriaria um mundo bem mais interessante de se ver.

Del Toro como roteirista opta por estratégias perigosas, das quais a maior dela é mostrar suas criaturas (uma espécie de diabretes evoluídos vistos escritos por J.K. Rowling em “Harry Potter”) com muita antecedência, estragando a surpresa e cortando o suspense a partir do segundo ato. Os monstros não são assustadores ao ponto de manter em suspensão sua ameaça. Outro erro é não explicar com lógica a origem das criaturas, muito menos da mansão em que os personagens vivem. Os roteiristas optam pela velha estratégia do “procure na biblioteca” para tentar dar credibilidade aos eventos do longa, querendo apenas fazer o público acreditar que “as coisas são assim porque têm que ser”.

Com tantos conflitos mal desenvolvidos em cena, resta se encantar com o desempenho do elenco, principalmente da pequena Bailee Madison, que promete ser uma das grandes promessas de Hollywood. Tendo passado por besteiróis como “Esposa de Mentirinha” e dramas como “Entre Irmãos”, a atriz mirim incorpora com maturidade a pequena Sally, dividida entre o mistério da casa com supostas “fadas” que na realidade querem se desfazer dela. Madison convence em todos os momentos e não interpreta apenas a garota que grita com medo do fantasma. Ela transmite uma densidade psicológica marcante e sustenta a maior parte do filme sozinha.

Guy Pearce interpreta no piloto automático o pai descrente que duvida dos eventos que a filha passa,  mas sua química com Katie Holmes o fortalece. Aliás, Holmes cresce no decorrer da película, tendo um desfecho bastante curioso. O texto não ajuda os coadjuvantes, dispensando sem nenhum critério os empregados da mansão, que poderiam ser usados como escape para uma linha dramática paralela que simplesmente inexiste e faz falta.

Se perdendo meio a uma proposta inicialmente interessante, Del Toro oferece apenas um filme comum que resgata com eficiência um suspense mais tradicional, mas que se sabota por não ter material suficiente que possa ser classificado como inteligente. O visual macabro da película aumenta a tensão junto à trilha sonora constante, o que causa apreensão no espectador. Mas ao fim da sessão o que fica é a sensação de que nada demais foi visto no filme e que Del Toro já assinou produções melhores.
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Diego Benevides
é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.