Avaliação: nota 5
 


A cada intrigante data proporcionada pelo fim do século e o começo do novo, surge um filme de terror em Hollywood. “Fim dos Tempos”, no ano “diabólico” de 1999, deu início a essa mania que felizmente não se repete com tanta frequência e que vem provocando cada vez menos fascínio no público. Extremamente dependentes de ousadas campanhas publicitárias, essas produções optam por fortes temáticas religiosas que não hesitam em colocar o futuro da humanidade em questão. Com “11-11-11” não é diferente. Alucinações, inúmeras presenças demoníacas e coincidências cabalísticas de fundamental importância para o mundo cristão retornam à tela grande neste tenso e datado longa-metragem de roteiro falho.

Como de praxe, uma figura masculina é a responsável por afastar qualquer ameaça à “harmonia” universal. Desta vez, trata-se de Joseph Crone (Timothy Gibbs), um escritor de sucesso que, devido à trágica morte da esposa e do filho, tornou-se um ateu convicto, mas ainda atormentado. Nos últimos dias, sonhos perturbadores e recorrentes aparições do horário 11:11 também passaram a intrigá-lo. É exatamente nesta hora que ele sofre um inexplicável acidente automobilístico que não o causa qualquer sequela.

Um telefonema do irmão mais novo, Samuel (Michael Landes), informando sobre o péssimo estado de saúde de seu pai, leva Joseph a Barcelona, onde as alucinações ganham enorme intensidade, assim como torna-se visível a relação ruim que possui com seus familiares mais próximos. Inquieto, o escritor, então, realiza diversas pesquisas que parecem explicar quase tudo e o alertam para a chegada do dia 11.11.11, quando todas as manifestações buscarão cumprir seu mais terrível objetivo.

Escrito e dirigido por Darren Lynn Bousman (“Jogos Mortais II”), o filme tem um início promissor. Ter um protagonista adulto já soa como um bom sinal em um gênero dominado atualmente por jovens imaturos, mas é o tom sério da narrativa em seus primeiros minutos que agrada. Centrado no drama desse homem de destino trágico que possui pesadelos com a morte da mulher e do filho e que frequenta grupos de ajuda para tentar superar o luto, o roteiro dá uma falsa impressão de que não é tão comercial como a ideia que o concebeu.

A falta de crenças (e não de fé) de Joseph não só é bem justificada como transmitida. Trata-se de um homem instruído, inteligente e cheio de argumentos difíceis de serem questionados. Seu isolamento em uma cidade bastante populosa só é quebrado pelos bons diálogos com Sadie (Wendy Glenn), a amiga do grupo de ajuda que reparte com ele a forma com que superou sua tristeza. No entanto, a ânsia por introduzir o sobrenatural em cena limita as pretensões dramáticas da narrativa, que logo são substituídas pelo desenvolvimento de um cenário de expectativa que desagua em um desfecho decepcionante.

A verdade é que, ao levar seu protagonista para Barcelona, Bousman concede a ele dias pouco originais e particulares como os que os antecederam. “11-11-11”, enfim, torna-se um terror comum com direito a uma casa amedrontadora dona de papel de parede ridículo, estátuas não menos medonhas e símbolos religiosos que se espalham por todo o seu ambiente escuro. Até mesmo a difícil relação de Joseph com o irmão e o pai vai para um segundo ou terceiro plano quando os sustos passam a ser a meta principal do diretor.

Em seu propósito clichê, vale dizer, porém, que o cineasta realiza um bom trabalho atrás das câmeras. Contando com a colaboração da angustiante trilha sonora de Joseph Bishara, o diretor é competente em manter a tensão em alta e esforçado na construção de aparentes planos-sequência, os quais fazem o espectador não tirar os olhos da tela um só segundo. Mas assim como todo o filme, Bousman vacila no desfecho ao não chocar como deveria e também ao colaborar com uma falsa ambiguidade criada pelo roteiro.

Sem revelar muito, basta dizer que, assim como na maioria dos filmes de terror, “11-11-11” prejudica quase que completamente seu resultado final ao apresentar uma recorrente reviravolta (que de tão utilizada, surpreende exatamente quando não acontece) sem embasamentos. É incapaz ainda de responder a alguns mistérios exibidos ao longo de seus 100 minutos de duração, fazendo da produção um razoável entretenimento que dificilmente intrigará até os mais supersticiosos, muito menos se conferido em data posterior ao nome que carrega.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.