Avaliação: nota 7
 
 


Em 2006, Julie Gravas trouxe aos cinemas sua primeira colaboração artística, o excelente “A Culpa é do Fidel”. Filha do cultuado cineasta grego Costa-Gavras, Julie logo foi vista como uma cineasta em potencial, mas demorou cinco anos para realizar um segundo filme. “Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim” aborda a questão da velhice, ou melhor, da passagem do tempo e das mudanças causadas na vida de um casal. Protagonizado por Isabella Rossellini e William Hurt, a dramédia peca por não ter justamente tal apuro técnico ou mesmo de pesquisa que a obra anterior da cineasta trouxe. Aqui, não há situações que fogem do comum ou que diferenciem o longa de alguma forma.

Na trama, Mary (Rossellini) tem um lapso de memória e logo desconfia que pode ter Alzheimer. O médico, entretanto, aconselha-a apenas a fazer exercícios físicos para melhorar a harmonia com o corpo. Quando ela se dá conta de que já está próxima dos 60 anos, passa a viver de uma forma diferente. Mary adapta a casa onde vive com Adam (Hurt) com um telefone cujos números são grandes, para quando a visão começar a falhar, ou mesmo uma banheira com apoios de mão, já que não é tão fácil se levantar dela.

Adam não recebe as novidades tão bem, já que acha que a esposa está exagerando e antecipando a velhice, e que eles não precisam de tantas mudanças assim. A ruptura de interesses, com Mary tentando aceitar a velhice e Adam fugindo do tempo, faz com que a família fique abalada e uma separação parece inevitável. Os três filhos assistem de camarote as estripulias do casal, que refletem se a idade psicológica é mais importante ou não do que a idade que está registrada na certidão de nascimento.

A partir disso, o roteiro assinado por Julie em parceria com Olivier Dazat tenta a todo custo fazer humor com a situação vivida pelo casal. O problema é que os conflitos do script são comuns demais. O público espera que os protagonistas se interessem por pessoas mais novas e que tenham uma provação de vida e do amor que eles sentem, por exemplo. Além disso, a narrativa se utiliza de várias tramas paralelas, como a participação dos filhos, da mãe de Mary e dos relacionamentos extraconjugais, e alguns não são resolvidos por completo. Em determinado momento da projeção, as reclamações dos protagonistas podem soar repetitivas ou até mesmo forçadas, revelando, talvez, a pouca pesquisa dos roteiristas para implementar uma história diferente e que aproveite com sucesso o talento de seu elenco.

Aliás, as atuações de Isabella Rossellini e William Hurt são o que seguram o interesse pelo filme. Rossellini, sempre bela não importa quanto tempo passe, vai do humor ao drama em poucos minutos, tendo em seu tom cômico o diferencial do longa. Ela se dá bem com as gags do roteiro e é impossível não compreendê-la, mesmo de uma forma tão exagerada. Hurt faz um bom contraponto com Rossellini, tendo momentos bastante inspirados em que discutem a relação como dois jovens imaturos. Vale ressaltar também a performance de Joanna Lumley como Charlotte, amiga de Mary, que tem uma função essencial para a epifania dos protagonistas.

Na direção, Julie Gavras não impressiona. Se em “A Culpa é do Fidel” ela fez um trabalho marcante, aqui ela aparece pouco inspirada. Logo na primeira sequência, a diretora dá a impressão que vai investir em algum recurso estético ou em uma fotografia bem elaborada, mas não vai além. Julie roda a história no automático, sem aquele brilho de sua obra anterior, onde conseguiu fortalecer uma trama política pelos olhos de uma criança, sem ao menos ter a intenção de fazer um filme infantil. Em “Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim”, parece que a cineasta deu tanto espaço para o seu elenco brilhar que ela esqueceu de manter o nível de sua filmografia.

Dessa forma, a produção passa despercebida justamente por oferecer o mais do mesmo do que se pode esperar de uma história que discute a chegada da melhor idade para um casal. Longe de ser um filme ruim, já que conta com atuações competentes, o longa dá a sensação de que tudo que nos é apresentado já foi visto anteriormente e que Julie Gavras esqueceu de dar o seu toque a uma trama que é longe de ser criativa. Uma dramédia divertida, mas que não é obrigatória.

Esse filme foi visto durante a programação do 8º Amazonas Film Festival, em novembro de 2011.
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Diego Benevides
é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.