segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Fazendo as pazes com Harry Potter







Não que eu tenha brigado com ele. Pelo contrário - foi ele que brigou comigo. Ou melhor, foram alguns fãs mais zelosos que protestaram alto quando falei da última vez sobre o personagem mais bem-sucedido da ficção literário deste século.

E só porque eu cometi a infâmia de “ser apresentado” a Harry Potter não pelos livros, mas pelos filmes. Não importava que no post seguinte eu descrevesse a minha experiência da leitura de “Harry Potter e as relíquias da morte”. Nem que eu elogiasse o maravilhoso efeito colateral de todos os livros de J.K. Rowling ao fazer uma legião de adolescentes se interessar por algo tão “estranho” e “anacrônico” (preciso explicar as aspas?) como o hábito da leitura.

O veredicto desses fãs - que muito provavelmente leram os dois post mais apressados do que passaram pelas orelhas de todos os livros do pequeno mago - era que, já que não fiquei tão encantado quanto eles com o “conjunto da obra”, minha condenação estava decidida: “Bombarda Maxima!”…

Magoei… Decidi deixar Harry Potter de lado - até porque, como já havia escrito anteriormente, quanto a histórias de jovens com poderes que ele ainda não controla e que precisa de um mestre para desenvolvê-las e evitar que ele caia para o lado do mal (não sem antes enfrentar terríveis perigos e monstruosidades), eu já havia sido muito bem servido na minha adolescência com uma outra saga chamada “Guerra nas estrelas”…

Mas aí veio mais um filme da série extremamente lucrativa: “Harry Potter e o enigma do príncipe” - e não resisti. Resolvi reatar meus laços com o herdeiro de toda a magia que é possível aprender em Hogwarts. Assim, no sábado (18), na sessão da meia-noite, num cinema num shopping center no Rio de Janeiro, fui assistir de boa vontade essa superprodução.


Não é perfeita - e se você já quiser escrever o seu comentário para me desacreditar agora mesmo, nem precisa ir adiante para saber porquê. Mas pelo menos eu posso dizer que foi um dos filmes com “nosso herói” que mais me divertiram. E isso apesar de - e aqui listo alguns dos obstáculos que impedem a adaptação de ser perfeita - o roteiro trazer pouca ação (a única verdadeira “pirotecnia” é na hora que Potter e Dumbledore vão atrás de um “horcrux” (por favor, não exagere… isso não é um “spoiler”…); apesar de a trama explorar um pouco além da conta os hormônios dos estudantes de magia que já estão começando a se manifestar na adolescência (será que não existe um feitiço para isso, tipo “controliarmus libidinus”?); e apesar de, mais do que qualquer outro filme de Harry Potter que eu vi, a história deste depender de você já conhecer bem o que veio antes; e apesar inclusive do sono inevitável que tive de combater por ter escolhido assistir “O enigma do príncipe” numa sessão tão tarde - apesar de tudo isso, eu gostei bem do filme.

Não é fácil comentar um produto cultural onde qualquer coisa que você diga pode ser usada contra você numa acusação de ter arruinado o prazer de quem ainda não assistiu (você achou que eu estava brincando quando me defendi que o que havia escrito no parágrafo acima não era um “spoiler”?Acredite, para alguns fãs mais radicais o simples fato de você mencionar que quem faz o papel de Potter é o ator Daniel Radcliff já é uma transgressão no sentido de “queimar os segredos do filme…”).

Mesmo assim, vamos tentar - e se você tem horror de ser surpreendido com um suposto “spoiler”, pare a leitura por aqui.

Rapidamente então: Draco Malfoy recebe uma missão “do mal”. Deve eliminar alguém para satisfazer o Senhor das Trevas! Para isso, vai contar com a ajuda de uma passagem secreta mágica, que promete deixar Comensais “invadirem” Hogwarts. Dumbledore sente o perigo e, em mais um período letivo, decide que é hora do garoto saber mais alguma coisa sobre o passado sombrio da luta entre o bem e o mal. Para isso, ele precisa convencer o professor aposentado Horácio Slughorn a voltar a lecionar na escola de magos… No meio disso tudo, como já citei, Potter & Cia. descobrem os hormônios da adolescência (aliás, fui só eu que reparei em como Emma “Hermione” Watson ficou bonita?). Assim, como em qualquer festa adolescente, a confusão está montada.

Contei de maneira “leve” esse esboço de argumento, mas “O engima do príncipe” é, sem dúvida nenhuma, o mais sinistro - se não macabro - de todos os filmes que já vi da série (o que só me faz salivar de antecipação com relação ao que ainda vem pela frente!). Praticamente monocromático na escolha de matizes de luz, as imagens correriam o risco de beirar a monotonia - não fosse a exuberante direção de arte. Disso tudo, a lembrança que ficou é de uma beleza diferente - que aliás, desconfio ter sido do inteiro agrado dos fãs mais jovens de Potter (mas que satisfez, com louvor, este quarentão que vos escreve).

Os diálogos são bons (um pressuposto, claro, já que o material original não decepciona - a filha de 17 anos de uma amiga minha, que leu todos os livros no original e assistiu “O enigma do príncipe” duas vezes seguidas no dia da estréia no Brasil, disse que essa é até agora a adaptação mais fiel de todas - e quem sou eu para discordar?), e os atores, depois de terem feitos já tantos episódios encarnando aqueles personagens, parecem tão mergulhados em seus personagens que a certa altura me ocorreu que eles jamais serão capazes de interpretar outros papéis. E não estou falando só do elenco jovem… Como encarar Maggie Smith novamente sem lembrar de Minerva McGonagall? E acho que esse foi o principal motivo de as duas horas e meia de filme terem passado sem muito sacrifício (descontando, como já alertei acima, o fato de eu ter saído do cinema quase às três horas da manhã…).

Por isso, faço este post breve (estou saindo de viagem para voltar na sexta, 24, - não, ainda não é para o “No Limite”), apenas para me redimir quanto à minha opinião sobre “nosso” herói. Não que o cardápio de filmes da temporada ofereça competição muito ferrenha, mas nesse fim de férias - especialmente nesses dias mais nublados que o inverno traz, sobretudo para o sul do nosso país - eu diria que não tem maneira melhor de você gastar uma tarde no cinema (ou mesmo uma madrugada, como foi meu caso), na companhia de Harry Potter.

E já estou quase lamentando que a saga (que já se concluiu nos livros) tenha também um ponto final na grande tela…


ZECA CAMARGO

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