sábado, 24 de outubro de 2009

Novidades No Amor


"Se eu fosse diagnosticar o filme com algum problema médico, diria que este sofre de transtorno bipolar. Alternando de uma maneira absolutamente inorgânica de ritmo e de humor, a fita possui alguns bons momentos que são eclipsados por outros de total mediocridade"

Vamos colocar logo uma coisa bem clara: o título nacional deste longa, “Novidades no Amor”, é bem inapropriado, já que a maioria dos grandes clichês de comédias românticas estão presentes, embora seja acrescentado um fator diferencial na história, o qual comentarei depois. Originalmente intitulado “The Rebound” ou, em bom português, “O Rebote”, tal termo é a gíria estadunidense para aqueles relacionamentos tampões, que servem só para quebrar o trauma de um rompimento recente.

E “rompimento” é a palavra certa para descrever o que houve com Sandy (Catherine Zeta-Jones), uma linda mulher de 40 anos que descobre que seu marido está tendo um caso. Dedicada inteiramente à sua família desde que saiu da faculdade, ela resolve pegar os filhos, sair dos subúrbios americanos e voltar para a cidade grande. Nova York, para ser exato. No entanto, ao voltar a trabalhar, ela acaba precisando da ajuda para cuidar dos rebentos.

Entra em cena a segunda metade do romance, o jovem Aram (Justin Bartha). Após ser largado por sua esposa francesa (que dele só queria o Green card para ficar no país), ele se vê sem rumo na vida, com sua mãe controladora lhe empurrando empregos para os quais ele não se sente apto. Ao conhecer Sandy e começar a trabalhar de babá para os filhos dela, Aram finalmente começa a se sentir vivo, sensação partilhada por ela. Juntos, os dois começam a redescobrir o significado de amor, embora a diferença de idade entre os dois comece a ser um obstáculo.

Escrito e dirigido por Bart Freundlich, que também foi o responsável pela comédia romântica “Totalmente Apaixonados”, o filme tenta emular um pouco o estilo de Judd Apatow de realizar comédias românticas, incluindo algumas situações mais apimentadas na fórmula. Isto seria geralmente ótimo, se não fosse o fato de que várias dessas tentativas de um humor um pouco mais pesado envolvam os filhos de Sandy.

Embora seja louvável a idéia de colocar em voga relacionamentos com mães solteiras, incluir crianças em gags sensuais não é a melhor idéia para se ganhar um filme. Tanto que a questão das crianças funciona quando colocada em um contexto mais sério dentro do próprio longa, resultando em algumas boas (e raras) cenas.

Além disso, temos algumas tentativas de humor que simplesmente não funcionam e são claramente arrancadas de outros filmes ou mesmo da própria fórmula de comédias românticas. Temos o desastroso primeiro encontro de Sandy após o divórcio, envolvendo uma gag ridícula sobre germes, o melhor amigo tarado de Aram e o obstáculo entre a felicidade do casal e a idade dos dois, algo que já fora melhor tratado no bom “Terapia do Amor”.

Mas destaco especialmente as cenas entre Aram e seus pais. Tais sequências parecem mais uma paródia ruim dos filmes de Woody Allen. Aliás, o que diabos Art Garfunkel está fazendo como o pai do protagonista masculino, um completo zero à esquerda, dominado pela esposa e que parece ter a capacidade intelectual de um Ozzy Osbourne aos 80 anos? Garfunkel, você é um dos maiores músicos dos anos 1970, tenha um pouco mais de respeito próprio na hora de pagar o aluguel!

Já no casal principal, Catherine Zeta-Jones está muito bem, incorporando a mulher que, outrora submissa, dá a volta por cima e reconquista sua vida após um casamento fracassado. Justin Bartha, em contrapartida, está completamente perdido no filme. Do mesmo modo que seu personagem parece não encontrar um rumo na vida, ele aparece sem norte no filme, sem saber que tom utilizar para compor seu personagem. Apesar de ter uma boa química com Zeta-Jones, o rapaz simplesmente não se sustenta quando aparece sozinho.

Já Bart Freundlich conduz o filme de um modo estranho. Embora acerte ao compor uma narrativa em paralelo no início para apresentar seus protagonistas, os tons colocados nas duas linhas até elas se cruzarem são tão diferentes que parecem dois filmes distintos. Apostando no feijão-com-arroz, após os pombinhos do longa se encontrarem, ele peca ao tentar desviar um pouco do visual convencional das comédias românticas.

Não que inovar nesse gênero seja ruim, pelo contrário, é absolutamente necessário em um ramo cinematográfico repleto de lugares-comuns, mas ainda estou tentando entender o que o diretor queria quando colocou um plano tombado em um ângulo de 90º. Acho que não foi caso de inovação, mas de torcicolo temporário mesmo.

Para piorar, só nos seus últimos 15 minutos, o longa resolve inserir um obstáculo para o casal ficar junto, algo que, normalmente, acontece no final do segundo ato de uma fita desse gênero. Percebendo que não daria tempo de resolver o problema em 10 minutos, apela-se para uma montagem e um salto de tempo incompreensível, forçado e cheio de problemas de direção de arte (em cinco anos, não houve uma só evolução tecnológica ou estética visível fora mudar os atores-mirins?).

Pensando bem, mandar o público para casa com um final apressado após uma montanha russa fílmica com poucos altos e repleta de baixos pode ter sido a melhor saída para a salada apresentada nos 90 minutos de projeção.

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