sábado, 20 de março de 2010

George Michael - 'Live In London' - Uma comemoração digna




















George Michael é um artista que tinha tudo para dar errado: começou a sua carreira nos anos 80 em uma dupla - Whan! - com um repertório tenebroso, se envolveu em diversas confusões com a polícia, teve crises de depressão, se envolveu com (muitas) drogas, gravou discos irregulares... Entretanto, apesar de tudo isso, George Michael sempre foi visto com muito respeito, até mesmo por quem não é seu fã.

O seu novo DVD (que também saiu em Blu-Ray) "Live In London" talvez explique o motivo desse "respeito" em cima do nome de George Michael. Filmado no Earl's Court, o vídeo traz a última apresentação da turnê "Twenty Five", segundo o cantor, a derradeira de sua carreira. Na turnê, George Michael promoveu a coletânea "Twenty Five", que contava com os seus sucessos acumulados em 25 anos de carreira. Como o roteiro dos shows foi centrado nesse álbum, não tinha erro: sucesso atrás de sucesso para deleitar a massa.

Como George Michael já havia mostrado em outras turnês - quem viu os seus shows no Rock in Rio de 1991, sabe muito bem disso -, a construção do roteiro de um espetáculo é uma de suas especialidades. Em "Live In London", o cantor alterna momentos dançantes com baladas com tamanha naturalidade, de forma que não há cortes bruscos, tão comuns nesse tipo de show. Tudo bem que faltou algo realmente diferente no repertório ("Calling You", que fazia parte da turnê de 1990/91, cairia muito bem, por exemplo), mas George Michael soube dosar, com maestria, os seus maiores sucessos com canções que não freqüentaram muito as rádios.

Assim, você pode matar saudades de joias do pop, como "Father Figure", "Faith", "Spinning The Wheel", "One More Try", "Outside", "Amazing", "Fastlove", "Freedom '90" (em versão arrasadora, que encerrou a apresentação), e também conhecer lindas canções obscuras como "Wasting (Reprise)" (que abre o show), "Feeling Good", "Flawless (Go The City)" e "You Have Been Loved". Ah, e como o show era comemorativo mesmo, George Michael ainda abriu espaço para algumas bobagens como "Everything She Wants" e "I'm Your Man", ambas dos tempos do Whan! - e acompanhadas em coro pela plateia. E, lógico, "Careless Whisper", uma das baladas de gosto mais duvidoso da história do pop, também teve o seu lugar garantido no farto roteiro de 23 números, sem contar os três presentes nos extras - "Precious Box", "Jesus To a Child" e "First Time Ever" - e o documentário "I'd Know Him a Mile Off!".

A direção de Andy Morahan foi extremamente feliz ao dosar imagens de George Michael, de sua banda e do público, de maneira igualitária. E é impressionante notar porque George Michael, apesar de todos os pesares citados no início desse texto, é um dos grandes artistas do pop. A sua presença de palco é absurda, e a sua postura, única.

O cenário é um espetáculo a parte, com um gigantesco telão que se arrasta pelo chão do palco, apresentando imagens multicoloridas, além dos antigos videoclipes de George Michael. A iluminação também é perfeita: econômica e classuda nas baladas, e espalhafatosa (sem ser cafona) nas canções mais agitadas. No Blu-Ray (apesar de o áudio pouco diferir do DVD), as imagens ficam ainda mais nítidas, do jeito que esse "Live In London" merece.

Só resta saber se George Michael acha que seus fãs merecem, ao menos, mais um álbum de músicas inéditas. Levando-se em conta a sua visível felicidade em cima do palco do Earl's Court, fica difícil acreditar que Georgios Kyriacos Panayiotou encerrará a sua carreira tão cedo.

Cotação: ****1/2

Luiz Felipe Carneiro

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