sábado, 23 de julho de 2011

23/07/2011 - 16:30

Amy Winehouse: a maior de seu tempo

A perda da cantora e a inevitável comparação com outros ídolos da música versus o apelo da mídia

Marcelo Ferla 
 
A inevitável relação da morte de Amy Winehouse com a de grandes artistas de outros tempos – de Hendrix a Cobain, só pra ficar em Seattle –, vai render (está rendendo, neste mundo tão instantâneo) obviedades, clichês e teorias conspiratórias, mas não há como evitar a comparação. A questão aqui é (tentar) acertar o foco e ser menos perverso do que a realidade. Como Janis Joplin, e Jim Morrison, e Kurt Cobain, Amy era acima da média. Era a maior cantora de seu tempo, tão grande que, mesmo que sua fragilidade tenha rendido uma obra escassa, e que seus últimos atos tenham sido vexatórios, revelando uma cover de si mesmo, ela conseguiu influenciar dezenas de garotas entusiasmadas com a soul music renovada que fazia. 

Como todos os seres humanos, Amy tinha problemas pessoais para resolver. Sua condição de grande artista fazia torná-los públicos. Muito por causa da mítica dos velhos ícones do rock, geniais, drogados e prostituídos por si mesmos, a indústria aprendeu e ajudou a fomentar que uma pessoa como ela é suficiente para vender, independentemente de seus dotes artísticos. Como a capacidade de Amy de gerar ou mesmo propagar sua arte estava prejudicada há tempos, explorar seu sofrimento sem constrangimento era a chance que restava de não perder esta fonte de lucro. E desde que fazer jornalismo e inventar celebridades é vendido como farinha do mesmo saco, ter um factoide humano deste nível à disposição é sempre bom negócio. 

Sendo assim, a morte de Amy Winehouse aos 27 anos não é surpresa nem novidade. Kurt Cobain, um heroi da geração MTV, também agonizou em praça pública e saiu de cena como quem denuncia que não é possível aguentar tamanha pressão (mais do que qualquer coisa, incapacidade de lidar consigo mesmo quando o mundo te idolatra). A morte de Amy, uma heroína dos tempos de twitter e facebook, repete a dose, mas não vai mudar a maneira de o mundo tratar deste tema. O próximo artista da fila vai ser ainda mais explorado. A perversidade da indústria faz com que o sofrimento de gente como Amy Winehouse se transformem em apelo midiático. Mas ela apelava pela própria vida.
Foto:  Getty Images
Amy Winehouse em um dos shows da turnê brasileira, no início deste ano

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