Avaliação:  NOTA 5
 
 

A nova empreitada do rei das caras e bocas do humor norte-americano atesta o dom extraordinário colocado em suas mãos: não importa o filme, não importa a classificação indicativa, não importa o nível das piadas, Jim Carrey sempre terá um público fiel que dará risada de suas graças como se elas fossem o que há de mais cômico nos últimos 30 anos. 

Conclusão feita logo no primeiro parágrafo, não há muito o que se argumentar. Vá ao cinema sabendo exatamente o que te espera e, por favor, não se assuste com a reação desmedida do seu vizinho de poltrona quando o protagonista levar uma bolada nas partes baixas, em mais uma reprodução da piada mais humanamente reproduzida na história do humor no cinema.

Mas, afinal, quem quer saber de originalidade quando os anseios para o final de semana incluem necessariamente algo bobo o suficiente para fazer rir sem a necessidade de algum esforço intelectual? E levando em conta os motivos que encontramos para rir nos últimos tempos, um grupo sapeca de pinguins parece a maior das graças. “Os Pinguins do Papai” são bobos, meigos, infantis e dotados daquelas feições que causam grunhidos comovidos em quem vê: “owwwnnnn”.

É bem verdade que sem o auxílio da computação gráfica, talvez, eles não fossem dotados do mesmo potencial carismático que exibem em toda a duração do longa, mas isso não importa quando se esparramam em fofura ao lago de Carrey.

Carrey é Carrey. Nunca vai mudar. E depois de tanto tempo, tantas repetições e tantos dólares no bolso, parece óbvio que ele não queira. Afinal, foi aquela salada mista de trejeitos e caretas que colocou mais de US$ 20 milhões em seu cofrinho por um único filme, o irrisório “O Pentelho”, de 1996. É verdade que seu cachê vem caindo filme após filme – a realidade é essa para a maioria dos grandes astros de Hollywood – e agora sua conta bancária talvez não esteja tão pomposa quanto esteve nas últimas duas décadas, mas Carrey está lá, de peito empertigado e honradas rugas de sabedoria, fazendo o que faz de melhor (ou pior): caras e bocas.

Sua originalidade se limita ao contexto em que seu personagem se insere, o de pai de família que convive com a culpa por não ser mais próximo dos filhos. Até bem antes de seu último filme, “O Golpista do Ano” (2009), Carrey não havia se envolvido em outro projeto de cunho familiar. O último, e talvez único até então, havia sido “O Mentiroso” (1996), cuja história já é conhecida daqueles que gastaram tardes inteiras na frente da TV nos primeiros anos da década passada.

Em “Os Pinguins do Papai”, todo o exagero cênico do astro é inserido em um contexto tragicômico, em que pequenos problemas familiares são tratados como dramas épicos. E tudo parece teatral demais, desde a filha adolescente, dissolvida em lágrimas pela cafajestice do pretendente, até a esposa do protagonista, tocada em seu íntimo pela lição de vida retirada dos pinguins.

Todos os exageros parecem evaporar quando Carrey entra em cena como o papai pinguim preocupado com os ovos da ninhada. Em um dos momentos mais constrangedores de sua carreira, o ator deita, rola, reza e chora por um ovo irremediavelmente gorado. Que me desculpem os ovosensíveis, mas essa é a verdade…

Capitão, Fedor, Lesado, Galã, Matraca e Bicão. Atores desconhecidos do grande público. Guarde esses nomes e perceba como são eles que oferecem ao público as melhores atuações do filme. Capitão exibe uma desenvoltura raramente vista em cena, com um perceptível instinto de comando sobre o restante do elenco. Fedor, com sua veia cômica, conseguiu reviver o humor escatológico de um John Waters em “Pink Flamingos”.

E falando em humor, repare no trabalho de Lesado, um fiel representante da comédia pastelão de Chaplin e “O Gordo e o Magro”. Galã, além de bonito, parece crescer como ator cena após cena. Tem tudo para roubar o próximo papel de Clooney ou Depp. O grande destaque de Matraca é sua potência vocal, o que sinaliza um possível convite para os próximos musicais de Rob Marshall. Bicão exibe aquela rusticidade charmosa de Marlon Brando, Jeff Bridges e Clint Eastwood. Cuidado com o coração!
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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.