Dirigido por Shane Acker, o curta-metragem de 2005 traz como personagem principal 9, o boneco de pano e de olhos de luneta que leva o nome da película. Habitando um mundo destruído, cercado de muitas pedras, artefatos sem utilidade e brinquedos quebrados, 9 vagueia pela área lembrando da trágica morte do amigo 5 e do enfrentamento com uma máquina exterminadora.
No filme, não sabemos em que universo eles estão, o que os trouxe à vida e nem chegamos a conhecer a personalidade de outros bonecos, apenas temos conhecimento de sua existência. Muitas perguntas ficam no ar. E foi com o objetivo de responder a essas questões que Shane Acker resolveu fazer um longa contextualizando e aprofundando a pequena história que chamou a atenção de grandes nomes do cinema de Hollywood.
“9 – A Salvação” já tem início com algumas explicações sobre a trama. Acompanhamos o nascimento do personagem-título, ainda sem o dispositivo de fala acionado, mas já exalando coragem e atitude. O número nas costas o identifica, o que indica que ele não é o único brinquedo da mesma natureza a ter adquirido vida.
“9 – A Salvação” já tem início com algumas explicações sobre a trama. Acompanhamos o nascimento do personagem-título, ainda sem o dispositivo de fala acionado, mas já exalando coragem e atitude. O número nas costas o identifica, o que indica que ele não é o único brinquedo da mesma natureza a ter adquirido vida.
Logo na sua primeira incursão pelos terrenos devastados da região, 9 conhece 2, boneco bem mais velho e experiente do que ele, assim como uma grande máquina cheia de garras e de fúria sem igual. Ambos são atacados e 2 acaba sendo capturado pela chamada “Fera”. Posteriormente, os caminhos o levam a esbarrar com 5, 1, 8 e 6, que podem ser caracterizados, respectivamente, como o amigo, o líder prepotente, o “bruta-montes” e o louco.
Ansioso para tentar recapturar 2, número 9 é contido temporariamente por 1, que procura alertá-lo sobre o mundo em que está vivendo: a guerra entre homens e máquinas destruiu a todas as representações de vida na Terra, deixando apenas escombros e corpos, além de um céu eternamente escuro. A única máquina que resistiu foi justamente aquela que eles vão perseguir nos próximos dias. Mas, em vez de apenas destruí-la, os bonecos fazem nascer acidentalmente uma outra ainda maior, capaz de matá-los em questão de segundos. Apenas a revelação do passado de 9 pode salvá-los do extermínio e o planeta do domínio das máquinas.
O que mais impressiona em “9” é a direção segura de Shane Acker. Mesclando cenas lentas de escassos diálogos com eletrizantes sequências de ação, o cineasta impõe um ritmo irresistível para a narrativa, sempre se utilizando da ótima trilha sonora composta por Deborah Lurie, a qual conta ainda com temas de Danny Elfman, tradicional parceiro de Tim Burton. Se falta um pouco de imaginação para desenvolver criativos cenários sombrios, sobra intensidade. As panorâmicas dão o tom, sempre focando a paisagem devastadora do território. No total, são cerca de seis embates entre bonecos e máquinas durante o longa-metragem, crescendo em qualidade à medida que acontecem.
No entanto, são duas cenas poéticas as melhores de todo o filme. Na primeira delas, os personagens principais festejam a vitória de uma batalha ao som de “Somewhere Over The Rainbow”, enquanto o vilão ressurge das cinzas, voltando a atacá-los. O contraste entre felicidade e horror dá o tom em uma das sequências mais belas de películas de animação dos últimos anos. Na segunda, a fita revela a sua real intenção ao falar das temáticas amizade e morte de maneira madura e arrebatadora, mantendo o desfecho original do curta-metragem, mas deixando-o incrivelmente mais atraente.
O problema é que “9” demora muito a desenvolver e defender suas reflexões. Depois da primeira metade da produção, a impressão é que estamos diante de uma obra falsamente pretensiosa, já que se passa em um universo pós-apocalíptico, mas parece não querer justificar essa escolha. O que acompanhamos é um filme de ação comum, recheado de vilões imbatíveis e heróis lutadores, que se digladiam em busca da sobrevivência. A opção por deixar boa parte das respostas da trama para o final desagrada, mas não chega a estragar o filme por completo. As mensagens, por mais que se assemelhem bastante com a de “Wall-E” e não cheguem nem aos pés da profundidade da melhor animação da Pixar, são deixadas com competência, conquistando o público ao final do filme.
Assinado por Pamela Pettler, responsável por “A Noiva Cadáver”, o roteiro da película é desenvolvido para agradar adolescentes e adultos, o que pode ser notado pela morte inesperada de alguns personagens e por outras fortes cenas que mostram humanos em meio aos escombros. Entretanto, falha em suas intenções ao montar personalidades estereotipadas e diálogos infantis cheios de frases de efeito, com destaque para a chatice do boneco 1, que insiste em destoar da opinião dos outros. Apenas perto do desfecho do longa é que esse erro é compensado, amenizando as caricaturas de cada um.
Mesmo assim, o carisma dos personagens principais de “9” domina as telas, comprovando que não é necessário ter seres humanos com suas faces expressivas para se criar uma empatia com o público. A versão original do filme conta ainda com ótimas dublagens, com destaque para o trabalho dos experientes Christopher Plummer e Martin Landau, por mais que não interpretem os melhores personagens. Completando o elenco de dubladores, temos também Elijah Wood, John C. Reilly e Jennifer Connely, como a única mulher da trupe, responsável pela voz da aventureira 7.
Com um desfecho que dá esperança para o fim do apocalipse e o ressurgimento de vida na Terra, “9 – A Salvação” conquista pela direção engenhosa de Shane Acker, que, justificando todos os furos deixados no curta-metragem, cria uma história atraente e tocante. Por mais que o padrão de criatividade Tim Burton não seja mantido, vale a pena conferir a ousadia de um diretor estreante em longas que já debuta realizando animação para os mais “crescidinhos”.
Darlano Didimo
cinemacomrapadura.com.br
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