Em alguns momentos da vida, somos forçados a tomar decisões, que de tão duras e inevitáveis, nos levam por caminhos pelos quais não estamos preparados.
Esse é o caso de Juliett Fontaine (Kristin Scott Thomas), que acaba de sair da prisão após 15 dolorosos anos. Foi lá que a protagonista de “Há tanto tempo que te amo” construiu para si um muro onde escondia os problemas acarretados com a morte de seu único filho, em circunstâncias desconhecidas, faz crescer uma aura de mistério em torno da sua figura.
Suas primeiras horas de liberdade são marcadas pela ansiedade e pela espera. A partir de então, Juliette passa a viver com a irmã mais nova, Léa (Elsa Zylberstein), seu esposo, as duas filhas adotivas do casal e o sogro.
Suas primeiras horas de liberdade são marcadas pela ansiedade e pela espera. A partir de então, Juliette passa a viver com a irmã mais nova, Léa (Elsa Zylberstein), seu esposo, as duas filhas adotivas do casal e o sogro.
Aos poucos começa a lidar com sua nova condição, mas a adaptação não é fácil, principalmente porque existe mágoa e ressentimento, não apenas entre as irmãs, mas de Juliette consigo mesma. Contar uma história em pequenas doses, deixa o espectador atento e curioso, ferramentas que Claudel conhece muito bem. Assim, Juliette e sua afeição à solidão, são mostradas “time by time”. Os motivos que levaram Juliett a cometer um ato tão condenável são diluídos “take a take”, em doses homeopáticas, expressão por expressão, mas também muito é dito quando nada é dito.
Mesmo com tantas restrições, Juliette consegue chamar a atenção do professor universitário Michel (Laurent Grévil), um homem com seus próprios demônios e um passado também obscuro. É ele quem consegue demolir a amargura, a frustração e os medos de Juliette, sempre de forma com muito tato. O mesmo não se dá com o Capitaine Fauré (Frédéric Pierrot), um homem desiludido, que busca em Juliette um fio de esperança para sua própria existência, o que acaba em um desfecho inesperado.
Kristin Scott Thomas despe sua personagem de beleza, maquiagem e vaidade. Tudo isso vai para segundo plano. Até mesmo as expressões e a forma de falar ajudar a construir uma Juliette a partir de silêncios e olhares. A personagem procura de forma gradual e muito cuidadosa, estabelecer novos horizontes em uma realidade desconfortável para si, e para o espectador. A atriz tem aqui uma das melhores atuações da sua carreira, indo mesmo além de outras fantásticas interpretações, também em obras igualmente soberbas.
Claudel é um escritor experiente, e as pequenas deficiências de seu début à frente das câmeras são esquecidas quando percebe-se a sutileza e sensibilidade com as quais constrói o drama. Talvez por isso o roteiro seja impregnado de frases que privilegiam os sentimentos e de nuances psicológicas bem desenvolvidas, expostas com extrema sensibilidade por um grande elenco. Para um iniciante, o romancista fez um trabalho soberbo, tanto em técnica quanto em produção, utilizando sabiamente a câmera para compor situações e sensações, auxiliada por uma fotografia, luminosa, que coloca sempre em destaque as expressões, além de manejar uma trilha sonora que vai além de compor estações.
O trunfo de “Há tanto tempo que te amo” é lidar com os sentimentos comuns a todas as pessoas. Claudel pincela emoções em suas linhas e dá um contorno especial às expressões de seus personagens, principalmente quando confronta, com extrema habilidade, opiniões e verdades absolutas. É possível, em muitos momentos entender e compartilhar das mesmas fraquezas e inseguranças de Juliette e Léa, a partir do olhar sobre o isolamento familiar, da negação social e do preconceito, do que pela compreensão do próprio crime em si.
Discutir o passado, a partir das conseqüências de um só para com a coletividade, é um ponto de partida para Claudel fazer o que faz melhor em seus livros, dissecar a alma das pessoas, suas razões e suas incertezas diante do mundo. A forma como as pessoas reagem ao saber que a protagonista cometeu um crime é deveras dualística. Ora se apresentam com aceitação, ora com rejeição e desconfiança. Crível ou não?
Pode-se dizer que esta é uma história de gente comum. A morte, a vida, o amor, a impotência, a coragem, a covardia… São sentimentos presentes em todo ser humano, e às vezes, é preciso dizer, como o autor bem o faz, que tragédias não respeitam classe social, que os dilemas não devem ser postos de lado, que as perguntas não devem ser ignoradas, que a vida não pára por que a gente não a acompanha.
Como confirma a própria Juliette, a vida segue. Com ou sem a gente. Por isso, quando o filme termina, a gente fica um pouco desorientado, apático. Talvez porque as revelações do filme não são sobre personagens críveis, mas sobre nós mesmos.
Saiba mais sobre Há Tanto Tempo Que Te Amo
Debora Melo
cinemacomrapadura.com.br
Mesmo com tantas restrições, Juliette consegue chamar a atenção do professor universitário Michel (Laurent Grévil), um homem com seus próprios demônios e um passado também obscuro. É ele quem consegue demolir a amargura, a frustração e os medos de Juliette, sempre de forma com muito tato. O mesmo não se dá com o Capitaine Fauré (Frédéric Pierrot), um homem desiludido, que busca em Juliette um fio de esperança para sua própria existência, o que acaba em um desfecho inesperado.
Kristin Scott Thomas despe sua personagem de beleza, maquiagem e vaidade. Tudo isso vai para segundo plano. Até mesmo as expressões e a forma de falar ajudar a construir uma Juliette a partir de silêncios e olhares. A personagem procura de forma gradual e muito cuidadosa, estabelecer novos horizontes em uma realidade desconfortável para si, e para o espectador. A atriz tem aqui uma das melhores atuações da sua carreira, indo mesmo além de outras fantásticas interpretações, também em obras igualmente soberbas.
Claudel é um escritor experiente, e as pequenas deficiências de seu début à frente das câmeras são esquecidas quando percebe-se a sutileza e sensibilidade com as quais constrói o drama. Talvez por isso o roteiro seja impregnado de frases que privilegiam os sentimentos e de nuances psicológicas bem desenvolvidas, expostas com extrema sensibilidade por um grande elenco. Para um iniciante, o romancista fez um trabalho soberbo, tanto em técnica quanto em produção, utilizando sabiamente a câmera para compor situações e sensações, auxiliada por uma fotografia, luminosa, que coloca sempre em destaque as expressões, além de manejar uma trilha sonora que vai além de compor estações.
O trunfo de “Há tanto tempo que te amo” é lidar com os sentimentos comuns a todas as pessoas. Claudel pincela emoções em suas linhas e dá um contorno especial às expressões de seus personagens, principalmente quando confronta, com extrema habilidade, opiniões e verdades absolutas. É possível, em muitos momentos entender e compartilhar das mesmas fraquezas e inseguranças de Juliette e Léa, a partir do olhar sobre o isolamento familiar, da negação social e do preconceito, do que pela compreensão do próprio crime em si.
Discutir o passado, a partir das conseqüências de um só para com a coletividade, é um ponto de partida para Claudel fazer o que faz melhor em seus livros, dissecar a alma das pessoas, suas razões e suas incertezas diante do mundo. A forma como as pessoas reagem ao saber que a protagonista cometeu um crime é deveras dualística. Ora se apresentam com aceitação, ora com rejeição e desconfiança. Crível ou não?
Pode-se dizer que esta é uma história de gente comum. A morte, a vida, o amor, a impotência, a coragem, a covardia… São sentimentos presentes em todo ser humano, e às vezes, é preciso dizer, como o autor bem o faz, que tragédias não respeitam classe social, que os dilemas não devem ser postos de lado, que as perguntas não devem ser ignoradas, que a vida não pára por que a gente não a acompanha.
Como confirma a própria Juliette, a vida segue. Com ou sem a gente. Por isso, quando o filme termina, a gente fica um pouco desorientado, apático. Talvez porque as revelações do filme não são sobre personagens críveis, mas sobre nós mesmos.
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Debora Melo
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