Apresentar sob três olhares a metrópole-símbolo das reações do sistema econômico global é apenas uma das propostas de Tokyo!, filme que utiliza esse aspecto para embasar sua pretensão — universalizar a capital japonesa, partindo de três pontos de vista sobre a existência humana e sua relação com a urbe.
Michel Gondry, aclamado por Brilho eterno de uma mente sem lembranças, mostra aqui seu gosto por histórias fantásticas, característica que nos lembra um pouco o seu trabalho de roteiro com Charlie Kaufman em Brilho eterno. Em Tokyo!, Gondry, com seu toque videoclipesco, assina o fragmento Interior design. Lançando mão de seu questionamento sobre a utilidade da existência, o curta traz uma jovem insatisfeita com a vida que leva junto aonamorado na cidade. Tal descontentamento acaba sendo o estopim para seu inconsciente sintomatizar seu desejo de explorar seus anseios em ter uma vivência útil aos outros. Ser um objeto acaba sendo o modo mais expressivo de tornar sua existência um meio de satisfação pessoal. Gondry deixa claro, aqui, que existir exige, antes de tudo, assumir o compromisso de lidar com o outro, sob a percepção de que não há nada mais normal do que ser estranho.
Esse é quase o mesmo mote de Merde, já que Leos Carax (Pola X) traz várias metáforas que remetem à forma como os urbanoides veem as pessoas que fogem aos padrões. A distinção está no deboche e na ironia que fará do personagem morador do esgoto — um ser bizarro que assusta a população pelas ruas — um bom selvagem. Dentre outras manifestações de rejeição social, Carax destaca a forma como a mídia veicula a ameaça eminente aos seres normais, utilizando referências como a morte de Saddam Hussein e o uso de novas mídias para testemunho de acontecimentos, prosaicos ou não. Características como essas acabam fazendo de Merde o mais cômico dos três contos. Ao menos é esta a intenção. Não é difícil que Merde deixe de arrancar risadas de espectadores um tanto exigentes com o realismo referencial de Carax.
O filme é fechado esplendidamente com Shaking Tokyo, que aposta mais na narrativa imersiva e encantadora do coreano Bong Joon-ho. Cada detalhe monta um jogo narrativo interessante na composição do personagem, apresentado por seus hábitos e manias. Isolado do mundo, o jovem passa 10 anos sem ter contato algum com pessoas, até que a entregadora de pizza o desperta a atenção. O romance que Joon-ho tenta instaurar ganha força e convencimento a partir do silêncio e da observação do outro. Longe de apresentar um casal no qual cada um se completa, o diretor trabalha na narrativa do olhar tímido dos personagens. Com leveza, Shaking Tokyo completa a proposta como o mais bem trabalhado dos três curtas, tanto em termos da peculiar direção, como pela sutileza da história de pessoas solitárias que mais uma vez precisam do outro para alcançar a felicidade.
Assim, cabe a Bong Joon-ho a conclusão de que Tokyo! trata do relacionamento social do homem em espaço urbano e, consequentemente, com o espaço urbano. Nada melhor do que se distanciar da confusão dos carros, outdoors e músicas eletrônicas para mostrar como é comum estar em lugar nenhum no meio da multidão. Carax é o que mais se aproxima da realidade caótica da cidade, mas, ao mesmo tempo, é dele a função de agitar e intensificar a experiência hiperestimulante, já que Joon-ho e Gondry se fixam muito mais em ambientes internos. No geral, um equilíbrio entre o medo de fazer parte de um todo ofuscante e a claustrofobia do eu interior. O meio termo é, portanto, o caminho: a aproximação.
Michel Gondry, aclamado por Brilho eterno de uma mente sem lembranças, mostra aqui seu gosto por histórias fantásticas, característica que nos lembra um pouco o seu trabalho de roteiro com Charlie Kaufman em Brilho eterno. Em Tokyo!, Gondry, com seu toque videoclipesco, assina o fragmento Interior design. Lançando mão de seu questionamento sobre a utilidade da existência, o curta traz uma jovem insatisfeita com a vida que leva junto aonamorado na cidade. Tal descontentamento acaba sendo o estopim para seu inconsciente sintomatizar seu desejo de explorar seus anseios em ter uma vivência útil aos outros. Ser um objeto acaba sendo o modo mais expressivo de tornar sua existência um meio de satisfação pessoal. Gondry deixa claro, aqui, que existir exige, antes de tudo, assumir o compromisso de lidar com o outro, sob a percepção de que não há nada mais normal do que ser estranho.
Esse é quase o mesmo mote de Merde, já que Leos Carax (Pola X) traz várias metáforas que remetem à forma como os urbanoides veem as pessoas que fogem aos padrões. A distinção está no deboche e na ironia que fará do personagem morador do esgoto — um ser bizarro que assusta a população pelas ruas — um bom selvagem. Dentre outras manifestações de rejeição social, Carax destaca a forma como a mídia veicula a ameaça eminente aos seres normais, utilizando referências como a morte de Saddam Hussein e o uso de novas mídias para testemunho de acontecimentos, prosaicos ou não. Características como essas acabam fazendo de Merde o mais cômico dos três contos. Ao menos é esta a intenção. Não é difícil que Merde deixe de arrancar risadas de espectadores um tanto exigentes com o realismo referencial de Carax.
O filme é fechado esplendidamente com Shaking Tokyo, que aposta mais na narrativa imersiva e encantadora do coreano Bong Joon-ho. Cada detalhe monta um jogo narrativo interessante na composição do personagem, apresentado por seus hábitos e manias. Isolado do mundo, o jovem passa 10 anos sem ter contato algum com pessoas, até que a entregadora de pizza o desperta a atenção. O romance que Joon-ho tenta instaurar ganha força e convencimento a partir do silêncio e da observação do outro. Longe de apresentar um casal no qual cada um se completa, o diretor trabalha na narrativa do olhar tímido dos personagens. Com leveza, Shaking Tokyo completa a proposta como o mais bem trabalhado dos três curtas, tanto em termos da peculiar direção, como pela sutileza da história de pessoas solitárias que mais uma vez precisam do outro para alcançar a felicidade.
Assim, cabe a Bong Joon-ho a conclusão de que Tokyo! trata do relacionamento social do homem em espaço urbano e, consequentemente, com o espaço urbano. Nada melhor do que se distanciar da confusão dos carros, outdoors e músicas eletrônicas para mostrar como é comum estar em lugar nenhum no meio da multidão. Carax é o que mais se aproxima da realidade caótica da cidade, mas, ao mesmo tempo, é dele a função de agitar e intensificar a experiência hiperestimulante, já que Joon-ho e Gondry se fixam muito mais em ambientes internos. No geral, um equilíbrio entre o medo de fazer parte de um todo ofuscante e a claustrofobia do eu interior. O meio termo é, portanto, o caminho: a aproximação.
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