domingo, 22 de novembro de 2009

Herói da salvação de "2012", John Cusack fala sobre sua carreira
















Agarrado a uma gigantesca xícara de café, John Cusack abre o jogo ao Cinema.com.br sobre 2012, sua primeira grande aventura apocalíptica. O filme estreou em primeiro nas bilheterias norte-americanas, arrecadando US$ 65 milhões no primeiro fim de semana só nos EUA. Em segundo, ficou Fantasmas de Scrooge, da Disney, com US$22.3 milhões. Fã de Apocalipse now!, ele comenta o fluxo de atores de cinema migrando para a TV, explica a boa relação com diretores europeus e diz que roteiros que vetou podem ter ido parar nas mãos de Tom Cruise


Precisaram te convencer para aceitar 2012?

J.C.: Não! Aliás, fiquei empolgado. Tenho medo é de trabalhar com gente muito metida ou arrogante. Roland tem uma reputação impecável nesse sentido. Conheço muita gente que já trabalhou com ele e só ouvi elogios, então defini minha escolha. Adorei o roteiro e é difícil eu receber ofertas de bons papéis nesse gênero. Eles acabam sempre caindo nas mãos do Tom Cruise. Roland me chamou logo de cara e aceitei na hora.

Não há como encarar o cinema atual sem pensar na influência sobre as pessoas. Você encara os filmes como um elemento que gera transformação social, como foi a literatura no passado?

Diria que sim, pois é uma mídia de fácil consumo e seja lá qual for a mensagem — específica ou genérica —se espalha com grande velocidade. Todas as mídias fizeram isso comigo. Toda vez que você lê um grande livro, escuta um ótimo álbum ou se vê diante de um filme que faz sentido, essa mudança acontece. Você se apaixona. É uma daquelas situações que parecem ter passado apenas cinco minutos, mas foi mais de uma hora. Ou horas. Quantas vezes me peguei lendo livros até as cinco da manhã? Esse é um dos grandes objetivos do ser humano, eu acho. Buscar essas paixões, coisas que nos fazem felizes e dão sentido à vida.

Algum filme específico?

Apocalipse now! é o maior exemplo que posso dar. Assisti quando estava no colegial. Meus pais estavam viajando e um amigo ficou tomando conta da gente, mas ele também saiu. Estudava de noite e meus amigos foram para a miha casa em vez de irem à escola e fizemos litros de café — o que parecia ser super radical na época, porque diziam para a gente não tomar café. E terminamos a noite sentados numa sala de cinema que costumava exibir filmes de arte. Quando a projeção acabou, não conseguia ter uma reação.

Você é daqueles que acreditam em teorias da conspiração?

Um pouco, mas nada exagerado. Tenho certeza de que o governo está preparando áreas para VIPs em planos de salvamento global...

Filmes como 2012 são repletos de momentos em que ação e reação são mais necessárias do que a atuação. Essa barreira existe?

Atuação e reação são a mesma coisa nesse caso. Exceto pelos cenários em movimento ou aqueles que começam a afundar na água, a base da cinematografia continua — estamos contando uma história. Às vezes reagir é a palavra de ordem. Afinal, quando se está mergulhando de verdade não precisamos fazer de conta. Mas doses similares de imaginação são fundamentais.

Gostou das cenas feitas na água?

Adoro água, então não tive problema. Normalmente fico preocupado com cenas aquáticas porque em filmes menores os tanques acabam ficando sujos e isso causa irritação nos olhos e ouvidos. Mas Roland tratou tudo com um alto padrão de qualidade e não tenho nenhuma ressalva. Tudo ficou limpinho o tempo todo. A Sony trata os atores muito bem.

Finalmente você conseguiu trabalhar com Woody Harrelson...

Sim, sim. Sempre gostei de Woody e tivemos uma oportunidade juntos, em Além da linha vermelha, mas só nos cruzamos quando nossas tropas se encontram numa das cenas. Nunca atuamos juntos, mas somos bons amigos. Foi extremamente divertido. Ele é um palhaço nos intervalos das filmagens e sempre nos divertimos. Gosto do fato de ele sempre fazer coisas divertidas e nunca se envolver em filmes previsíveis.

Qual a melhor parte de atuar para você?

Conhecer gente nova seria um dos pontos positivos. Filmes geram dinâmicas diferentes e aprendo a trabalhar de novas maneiras, sempre por conta das novas pessoas envolvidas. Isso me motiva bastante.

E o que pesa na hora de escolher um filme? O roteiro precisa te pegar imediatamente?

Precisa haver uma boa combinação entre roteiro, equipe e diretor. Tudo isso precisa se encaixar. O roteiro precisa me fazer ler alucinadamente, literalmente devorar as páginas. Se demora para embalar, provavelmente não é bom. Isso faz sentido para mim e, provavelmente, vai se refletir no filme. Às vezes encaro a leitura até o meio para ver o que vai acontecer, mas se o roteiro é cansativo e entediante com certeza vai ser algo incapaz de me motivar durante as filmagens.

Você já trabalhou duas vezes com o sueco Mikael Håfström (1408 e Shanghai) e agora foi dirigido por um alemão. Há alguma relação especial entre esses trabalhos e o modo como os diretores europeus enxergam o processo cinematográfico?

Por alguma razão costumo me dar muito bem com diretores europeus. Parece existir uma sensibilidade diferenciada inerente a eles e, sei lá por que, eles veem isso em mim — o que é ótimo, pois consigo mais trabalhos. Passei horas pirando dentro de um quarto com uma câmera, pouco espaço e um estilo de direção interessante de Mikael e depois repetimos a dose, mas com tudo diferente, em Shanghai (ainda inédito). Ter mais gente no elenco ajudou, especialmente Ken Watanabe. O mais importante dessas relações é que os europeus com quem tive contato compreenderam muito bem meu modo de pensar e meu estilo. Parece ser algo bem natural. Gosto disso.

Muitos de seus personagens são bastante intensos. Você também é assim?

Nem um pouco.

Em Escrito nas estrelas você foi bem convincente e intenso romanticamente...

Achou mesmo?

Sem dúvida...

Ali foi outra situação, porque é impossível não ser intenso e apaixonado por uma mulher. Não conheço outra coisa mais relevante que uma mulher para te fazer ser intenso, apaixonado e sincero.

Então quer dizer que interpretar tipos românticos é mais simples do que, por exemplo, fugir do fim do mundo?

É difícil fazer qualquer coisa quando não se acredita na história ou num conceito. Não é questão de gênero, é qualidade mesmo. Seja romance ou ação, se for bom vai ser elogiado, se for medíocre vai levar pedrada e ser esquecido. Pense em Gary Grant, por exemplo. Muitos filmes tinham histórias simplistas, mas a crença em cada uma delas as transformou em grandes experiências.

Dirigir ou produzir já passou pela sua cabeça?

Algumas vezes, quem sabe no futuro? Mas não tenho planos e estou vivendo cada momento da maneira certa. Vai saber.

Que tipos de papéis têm sido oferecidos a você?

Para falar a verdade, nenhum! Vamos ver depois da estreia de 2012. É o modo como as coisas funcionam, especialmente pelo fato de os meus agentes, provavelmente, só aceitarem propostas de filmes em que eu possa ter interesse. Isso evita desgaste e me mantém focado em roteiros que valem a pena.

Já viu alguns desses roteiros vetados por você se tornarem grandes sucessos?

Ô! Alguns devem ter ido para o Tom Cruise.

2012 pode ser o momento para você se transformar num dos “grandes astros perseguidos pela imprensa”?

Acho que não, mas isso já acontece. Nada muda o fato de que sou famoso — estou contaminado eternamente! — e qualquer coisa atrai a atenção. Isso pode diminuir ou aumentar de acordo com os filmes, mas já sofro com isso. Tento escapar, mas o único jeito de fugir seria usar uma máscara de Halloween todo dia quando colocasse o pé para fora de casa. Fico torcendo para a fama causar um efeito positivo e me ajudar a arrumar mais trabalhos.

Muitos atores de cinema têm migrado para TV. Já recebeu ofertas ou se sentiu tentado a arriscar?

Nunca pensei nisso, para ser sincero. Os roteiros de TV estão melhorando e ficando muito bons, em muitos casos até melhores do que os de cinema, aliás. Mas toda a politicagem de TV é pior do que Hollywood, sinceramente. É muita gente pensando, decidindo, palpitando, achando e não é o tipo de relacionamento profissional que procuro. Boa parte desse pessoal que tem migrado poderia mudar de opinião se tivesse melhores ofertas no cinema, mas sei que muitos deles estão fazendo a opção para ficar próximos das famílias e mudar o estilo de vida.

Algum projeto em andamento?

Não diria em andamento, mas sempre quis fazer algo sobre Edgar Cayce (um médium reconhecido por sua habilidade de entrar em estado de transe e responder a perguntas sobre diversos assuntos; tido como grande inspirador do movimento New Age).



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