Robert Zemeckis parece não querer se desvencilhar da tecnologia que capta as feições e os movimentos de atores reais para uma história contada em formato de animação. Foi assim em seus dois últimos filmes, “O Expresso Polar” e “A Lenda de Beowulf”. No primeiro, ele conseguiu agradar ao retratar uma trama simples, mas recheada de cores e magia. No entanto, em “A Lenda de Beowulf”, o cineasta não surpreendeu e foi bastante criticado. Após dois anos, Zemeckis retorna aos cinemas com a mesma temática que trouxe elogios a sua carreira, o espírito natalino, voltando a acertar a mão, mesmo que falte um pouco de ousadia na história de “Os Fantasmas de Scrooge”.
Adaptação do livro “Um Conto de Natal”, obra de Charles Dickens do século XIX, que já rendeu mais de vinte filmes para a TV e para o cinema, a produção tem como personagem principal Ebenezer Scrooge, um velho rabugento e sovina que tem absoluto desprezo pelo Natal. Qualquer pessoa que lhe deseje “Um Feliz Natal” recebe uma resposta das menos agradáveis, mesmo que ela seja o seu sobrinho ou o seu assistente de longa data. Nem a morte de seu sócio, Marley, abre o coração do velho, que vive isolado em uma grande casa, sem amigos para compartilhar o seu constante mau humor.
Até que sete vésperas de natal depois da morte de Marley, Scrooge recebe a visita aterradora do espírito de seu antigo sócio. Preso por enormes correntes em conseqüência de uma vida também pecadora, o fantasma alerta o amigo sobre os próximos acontecimentos: três espíritos virão visitá-lo para ensinar-lhe a beleza do espírito natalino. Relutante no começo, como não poderia ser diferente, Scrooge é forçado a aceitar as aventuras que viverá nas próximas horas. Relembrando os inicialmente incríveis e posteriormente questionáveis momentos de seu passado, vendo a tristeza que se transformou o seu presente e ainda encarando a tragédia que será o futuro para ele, o velho tentará resgatar em seu coração a magia do amor ao próximo, que é tão relembrada nessa época do ano.
Se há algo que Robert Zemeckis sabe fazer é explorar todas as possibilidades que a tecnologia lhe proporciona. A escolha por tal técnica nunca é por acaso. Se o longa fosse realizado por atores verdadeiros, seriam necessários incríveis efeitos-especiais para fazer de “Os Fantasmas de Scrooge” um filme no mínimo bom. Já se fosse uma animação comum, a película extrapolaria demais os limites da vida humana, e a simples aparição de um fantasma seria extremamente irrelevante. Com a escolha pela captação do movimento de pessoas reais, o diretor pode incluir quando quiser o mágico na trama, mas continuar impressionando o público.
Com uma parte técnica irrepreensível (que deve ficar ainda mais impressionante no formato 3-D), que conta com a brilhante e obscura fotografia de Robert Presley, a película nos faz literalmente viajar por toda a Londres do século XIX ornamentada pelas luzes, enfeites e a pureza da neve que apenas o Natal é capaz de trazer. Com várias panorâmicas, todas cheias de ritmo, em que Scrooge é carregado por fantasmas, o cineasta conquista a plateia infantil, com destaque para a contribuição da emotiva participação do espírito dos natais passados. A trilha sonora de Alan Silvestre, tradicional parceiro de Zemeckis, também ajuda na construção desse cenário natalino inspirador, com a utilização de músicas cantadas por corais.
A trama possui um formato comum e é isso que prejudica o resultado geral do filme. Por mais que o desfecho não possa e não deva ser diferente, ele é evidente até demais. A ordem “desamor”, “ensinamentos” e “arrependimento” é seguida à risca, deixando a película bastante didática. Se o primeiro terço fosse prolongado e fosse dada devida atenção a solidão do personagem principal, a conclusão da história seria bem sucedida, podendo chegar até a emocionar, o que não acontece aqui. Assinado pelo próprio Zemeckis, o roteiro também peca ao construir personagens muito maniqueístas, em que o mal é personificado por Scrooge e o bem por todos os outros.
Mas o enredo traz uma grande surpresa perto da metade do filme. À medida que Scrooge conhece os fantasmas, eles vão se tornando cada vez mais assustadores. O primeiro, o do natal passado, é bondoso. O segundo, espírito do natal presente, segue aparentemente pelo mesmo caminho, até que risadas sarcásticas revelam sua verdadeira natureza, seguindo uma linha de ensinamentos mais sombria e adulta. Já o espírito do natal futuro é ainda mais assustador. Retratado apenas por meio de uma gigante sombra negra, ele não hesita em colocar uma enorme carruagem à caça do velho e levá-lo ao cemitério. O filme ganha incríveis pontos devido a essas cenas, mas pode incomodar algumas crianças e seus pais, que esperavam um filme bem mais leve.
Outra característica positiva da fita é o humor inserido na história. Há pouco espaço para risadas, afinal estamos diante de uma história dramática, mas a comicidade é inserida através de cenas macabras, como quando o espírito de Marley quebra o maxilar ao falar com o amigo Scrooge. O afinamento da voz do personagem principal em uma das sequências cruciais do filme também demonstra que o roteirista sabe tirar bom humor de fatos sombrios. Seria no mínimo estranho um filme protagonizado por Jim Carrey, que interpreta no total sete personagens, sem algumas gargalhadas. Mesmo que a cópia legendada não esteja disponível no Brasil, vale a pena conferir um Carrey mais contido.
Apesar de não ter um público alvo definido, “Os Fantasmas de Scrooge” vale pelo visual arrebatador e pela ótima direção. Robert Zemeckis conta mais uma história de Natal com muita magia e sarcasmo, utilizando-se dessa vez do talento de Jim Carrey em diversos papéis no filme. Para aqueles que preferem o antigo Zemeckis, de “Forrest Gump” e “De Volta para o Futuro”, uma má notícia: o cineasta já planeja uma nova animação. No próximo projeto do diretor, intitulado “Yellow Submarine”, os Beatles Ringo Starr e Paul McCartney deverão estrelar a produção.
Darlano Didimo
cinemacomrapadura.com.br
Adaptação do livro “Um Conto de Natal”, obra de Charles Dickens do século XIX, que já rendeu mais de vinte filmes para a TV e para o cinema, a produção tem como personagem principal Ebenezer Scrooge, um velho rabugento e sovina que tem absoluto desprezo pelo Natal. Qualquer pessoa que lhe deseje “Um Feliz Natal” recebe uma resposta das menos agradáveis, mesmo que ela seja o seu sobrinho ou o seu assistente de longa data. Nem a morte de seu sócio, Marley, abre o coração do velho, que vive isolado em uma grande casa, sem amigos para compartilhar o seu constante mau humor.
Até que sete vésperas de natal depois da morte de Marley, Scrooge recebe a visita aterradora do espírito de seu antigo sócio. Preso por enormes correntes em conseqüência de uma vida também pecadora, o fantasma alerta o amigo sobre os próximos acontecimentos: três espíritos virão visitá-lo para ensinar-lhe a beleza do espírito natalino. Relutante no começo, como não poderia ser diferente, Scrooge é forçado a aceitar as aventuras que viverá nas próximas horas. Relembrando os inicialmente incríveis e posteriormente questionáveis momentos de seu passado, vendo a tristeza que se transformou o seu presente e ainda encarando a tragédia que será o futuro para ele, o velho tentará resgatar em seu coração a magia do amor ao próximo, que é tão relembrada nessa época do ano.
Se há algo que Robert Zemeckis sabe fazer é explorar todas as possibilidades que a tecnologia lhe proporciona. A escolha por tal técnica nunca é por acaso. Se o longa fosse realizado por atores verdadeiros, seriam necessários incríveis efeitos-especiais para fazer de “Os Fantasmas de Scrooge” um filme no mínimo bom. Já se fosse uma animação comum, a película extrapolaria demais os limites da vida humana, e a simples aparição de um fantasma seria extremamente irrelevante. Com a escolha pela captação do movimento de pessoas reais, o diretor pode incluir quando quiser o mágico na trama, mas continuar impressionando o público.
Com uma parte técnica irrepreensível (que deve ficar ainda mais impressionante no formato 3-D), que conta com a brilhante e obscura fotografia de Robert Presley, a película nos faz literalmente viajar por toda a Londres do século XIX ornamentada pelas luzes, enfeites e a pureza da neve que apenas o Natal é capaz de trazer. Com várias panorâmicas, todas cheias de ritmo, em que Scrooge é carregado por fantasmas, o cineasta conquista a plateia infantil, com destaque para a contribuição da emotiva participação do espírito dos natais passados. A trilha sonora de Alan Silvestre, tradicional parceiro de Zemeckis, também ajuda na construção desse cenário natalino inspirador, com a utilização de músicas cantadas por corais.
A trama possui um formato comum e é isso que prejudica o resultado geral do filme. Por mais que o desfecho não possa e não deva ser diferente, ele é evidente até demais. A ordem “desamor”, “ensinamentos” e “arrependimento” é seguida à risca, deixando a película bastante didática. Se o primeiro terço fosse prolongado e fosse dada devida atenção a solidão do personagem principal, a conclusão da história seria bem sucedida, podendo chegar até a emocionar, o que não acontece aqui. Assinado pelo próprio Zemeckis, o roteiro também peca ao construir personagens muito maniqueístas, em que o mal é personificado por Scrooge e o bem por todos os outros.
Mas o enredo traz uma grande surpresa perto da metade do filme. À medida que Scrooge conhece os fantasmas, eles vão se tornando cada vez mais assustadores. O primeiro, o do natal passado, é bondoso. O segundo, espírito do natal presente, segue aparentemente pelo mesmo caminho, até que risadas sarcásticas revelam sua verdadeira natureza, seguindo uma linha de ensinamentos mais sombria e adulta. Já o espírito do natal futuro é ainda mais assustador. Retratado apenas por meio de uma gigante sombra negra, ele não hesita em colocar uma enorme carruagem à caça do velho e levá-lo ao cemitério. O filme ganha incríveis pontos devido a essas cenas, mas pode incomodar algumas crianças e seus pais, que esperavam um filme bem mais leve.
Outra característica positiva da fita é o humor inserido na história. Há pouco espaço para risadas, afinal estamos diante de uma história dramática, mas a comicidade é inserida através de cenas macabras, como quando o espírito de Marley quebra o maxilar ao falar com o amigo Scrooge. O afinamento da voz do personagem principal em uma das sequências cruciais do filme também demonstra que o roteirista sabe tirar bom humor de fatos sombrios. Seria no mínimo estranho um filme protagonizado por Jim Carrey, que interpreta no total sete personagens, sem algumas gargalhadas. Mesmo que a cópia legendada não esteja disponível no Brasil, vale a pena conferir um Carrey mais contido.
Apesar de não ter um público alvo definido, “Os Fantasmas de Scrooge” vale pelo visual arrebatador e pela ótima direção. Robert Zemeckis conta mais uma história de Natal com muita magia e sarcasmo, utilizando-se dessa vez do talento de Jim Carrey em diversos papéis no filme. Para aqueles que preferem o antigo Zemeckis, de “Forrest Gump” e “De Volta para o Futuro”, uma má notícia: o cineasta já planeja uma nova animação. No próximo projeto do diretor, intitulado “Yellow Submarine”, os Beatles Ringo Starr e Paul McCartney deverão estrelar a produção.
Darlano Didimo
cinemacomrapadura.com.br
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