Os planos da Pixel
para Vertigo, Wildstorm e ABC
para Vertigo, Wildstorm e ABC
Numa entrevista ao Universo HQ, o diretor André Forastieri e os editores Odair Braz Júnior e Cassius Medauar revelam que títulos continuam de onde estão, quais recomeçam e que seus materiais não serão lançados apenas em gibiterias e livrarias
Por Sidney Gusman (03/02/07)Há poucos meses, a Pixel Media esteve muito perto de se tornar a editora dos super-heróis da DC Comics no Brasil, mas a negociação sofreu uma reviravolta e a Panini Comics continuou com os direitos.
No dia 1º de fevereiro, a editora confirmou que assinou contrato para a publicação dos títulos da Vertigo, WildStorm e ABC, linhas que eram seu objetivo inicial quando começou a negociação com a DC.
O diretor da Pixel André Forastieri e os editores Odair Braz Júnior e Cassius Medauar concederam uma entrevista ao UHQ para contar quais os planos da editora. E entre as perguntas havia várias feitas por leitores - mais de 100 enviaram suas questões, em pouco mais de duas horas (nosso muito obrigado a todos).
Confira, portanto, como ficam os rumos de Vertigo, WildStorm e ABC no Brasil, a partir de abril - data do primeiro lançamento. E será uma revista vendida em bancas!
Universo HQ: A editora focará seu trabalho apenas na publicação de álbuns?
André Forastieri: Não. A Pixel já publica Spawn e alguns álbuns nas bancas e agora, mais ainda, nossa intenção é lançar mais coisas. E continuar aumentando os lançamentos de livrarias também.
UHQ: Depois da decepção com a reviravolta na negociação dos títulos da DC, publicar Vertigo, WildStorm e ABC soa como "prêmio de consolação"?
Forastieri: Olha, resumidamente, a história foi assim: em maio do ano passado, da Comic Con de San Diego, fizemos uma propostas para a DC Comics, para publicar Vertigo, WildStorm e ABC, que eram produtos mais dentro do nosso foco, ou seja, títulos adultos voltados para livrarias. Este era nosso plano.
Então, numa reunião, a DC nos convidou pra fazer uma proposta para tudo: o que já queríamos, mais a linha de super-heróis. Estávamos eu e o (Odair Braz) Júnior. Foi uma surpresa. Ficamos, literalmente, uma hora dizendo "não, isso não é pra gente"; "a Pixel é uma editora que está começando"...
Odair: Que ia continuar com a Panini...
Forastieri: A editora, na época, tinha cinco meses de existência e, na nossa cabeça, encarávamos isso como uma coisa gigantesca. Mas eles insistiram bastante e, após os sócios da Pixel (a editora é uma parceria entre a Futuro e a Ediouro) conversarem e fizemos uma proposta. E durante um tempo, parecia que a gente tinha levado.
Mas, de fato, no final da história, não levamos. E, francamente, deu a lógica, pois a Panini, hoje, é a rainha das bancas no que se diz respeito a quadrinhos. Tem Turma da Mônica, super-heróis Marvel e DC, Top Cow, vários mangás e materiais europeus.
O que não quer dizer que outras editoras não possam lançar coisas boas em bancas. Mas o nosso foco sempre foi mais para gibiterias, livrarias e venda pela internet. Mais para o leitor colecionador do que o casual de bancas.
Então, é assim: a gente gostaria de publicar Batman? Lógico. Homem-Aranha também. Mas, no final, o resultado (da negociação) foi revertido e estamos extremamente felizes de publicar nossos quadrinhos favoritos. Por isso, esperamos levar outros "prêmios de consolação" como este.
UHQ: Vocês disseram que vão para as bancas, onde a concorrência da Panini, que tem dezenas de títulos mensalmente, será enorme...
Forastieri: Nosso contrato é de licenciado master, o que significa que podemos lançar qualquer coisa que quisermos, do catálogo atual ou futuro, de Vertigo, WildStorm e ABC, tanto em bancas como em livrarias, no Brasil e em Portugal.
UHQ: Há leitores querendo saber se a Pixel lançará seus títulos em Portugal...
Forastieri: Sim, estaremos em Portugal.
Odair: Além disso, estamos indo para a (distribuidora) Dinap.
Forastieri: Isso é uma coisa importante. Nós somos a favor da concorrência. Então, como Fernando Chinaglia distribui as revistas da Panini, que é a principal editora de quadrinhos do Brasil, decidimos pela Dinap, que tem um histórico muito interessante em bancas, que é o Território HQ, feito pela Conrad.
Além disso, a proposta foi muito boa para a Pixel. E nós achamos que teremos uma distribuição mais adequada para este tipo de títulos.
UHQ: É fato que títulos dessas linhas nunca foram campeões de vendas em bancas. Como sobreviver nesse segmento, então?
Forastieri: O plano da Pixel é trabalhar muito com os leitores em pesquisas, comunidades na internet, encontros ao vivo. Não queremos ser donos da verdade. Não sabemos tudo. Por isso, queremos ouvir os fãs para construir essa grade.
Nós já temos uma grade básica de publicação para os primeiros seis meses, em bancas e livrarias. Mas o que vai entrar depois disso, e em que momento, nem nós sabemos ainda. Por exemplo: todo mundo aqui é fã de Preacher, que já foi publicado no Brasil de várias maneiras. E qual é a melhor?
Então, francamente, achamos que devemos ouvir os fãs de Preacher. Não é que vamos sempre fazer o que eles pedirem, pois temos necessidades econômicas, limites de produção etc., mas tentaremos atender seus anseios o máximo possível.
Pra ter noção do nível de maluquice que estamos, discutimos bastante tempo se não devemos lançar uma edição especial só com as histórias de Preacher inéditas no Brasil. O final da saga, numa tiragem limitadíssima.
UHQ: Isso foi descartado?
Forastieri: Não, não foi. Nós vamos perguntar pros fãs. Há mil leitores que comprariam uma edição com essa tiragem? Se tiver, de repente, a gente faz.
Cassius: E continuamos lançando os outros álbuns depois.
Forastieri: Pros leitores que nunca leram Preacher na vida.
Por exemplo, tem coisas que sabemos que tinham tiragens de mil exemplares e tinham potencial para mais. Títulos como 100 Balas, que tem um apelo enorme com gente que não lê quadrinhos e até com quem acompanha super-heróis.
Odair: Por isso, em breve colocaremos uma pesquisa no site Herói, em fóruns, no Orkut perguntando justamente coisas assim. "Os leitores querem que se lance 100 Balas do começo ou de onde a Opera Graphica parou?"
Forastieri: Nos primeiros seis meses, temos que seguir a programação que entregamos para a DC. Temos liberdade de mudar alguma coisa, mas não tudo. Agora, a partir do segundo semestre, quando já tivermos feito esse trabalho junto aos leitores, teremos várias respostas importantes.
Todo mundo acha linda uma edição de capa dura, com papel de luxo, mas se queremos atrair leitores novos para títulos como, por exemplo, 100 Balas, será que a melhor maneira de publicá-lo é a R$ 70,00, num álbum primoroso?
A gente acredita que não. Nós queremos, ao máximo possível, atender os fãs como nós, que compram produtos mais elaborados graficamente. Mas seria uma burrice, um elitismo idiota, descartar o potencial imenso de leitores mais jovens para esses materiais, que não têm nenhuma condição de pagar três, quatro álbuns por mês.
Mas 100 Balas, especificamente, é um título que, possivelmente, só mexeremos no segundo semestre, porque a história é absolutamente incompreensível para quem começar a ler no número 70. Leitores nos ajudem! (Risos)
Odair: E é uma história maravilhosa, que achamos que pouca gente acompanhou até agora.
Forastieri: Além disso, vale lembrar que não é só a Pixel que publica quadrinhos. Outras editoras também lançam álbuns bons e os leitores têm que comprar o que acham melhor.
UHQ: Qual será o primeiro lançamento da Pixel nessas linhas?
Forastieri: Será a Pixel Magazine, uma revista mensal, de 96 páginas, com o melhor de Vertigo e WildStorm, que sairá em abril. O mix detalhado divulgaremos mais pra frente, mas adianto que na edição de estréia tem Planetary e Hellblazer.
Cassius: Mais pra frente entra DMZ (série de Brian Wood), que é um material muito bom, e outras coisas bacanas.
Odair: E a distribuição, possivelmente, será nacional.
UHQ: E Planetary sai de que ponto?
Cassius: Continua de onde a Devir parou (foram publicados dois álbuns). Partiremos da edição 13.
Forastieri: Todos os títulos que vinham sendo lançados no Brasil, estamos discutindo muito para ver se dá pra continuar de onde parou ou não. No caso de Planetary, por acaso, a próxima história se passa no passado do Elijah Snow, que apresenta o personagem de maneira interessante.
Além disso, as edições trarão muitos textos explicativos e usaremos muito a internet para informar o que aconteceu até agora. E citando quem publicou.
Cassius: Se quer saber como foi a história, compre a edição tal, lançada pela editora tal.
Forastieri: Daqui a um ano podemos vir a publicar o primeiro álbum do Planetary? Sim, mas hoje ele está nas livrarias.
UHQ: Isso é importante explicar: vocês não podem publicar materiais que outras editoras lançaram no período de um ano, certo?
Forastieri: Isso. A partir de um ano da publicação por outra editora, nós podemos publicar, mas não quer dizer que vamos. Se chegarmos em grandes sites e livrarias e tiver o Planetary - O Quarto Homem pra vender, não tem sentido lançar.
Cassius: A menos que a revista mix esteja fazendo muito sucesso e os leitores estejam pedindo a publicação do material...
UHQ: E como ficará o padrão gráfico das edições? Especialmente de séries que já vinham sendo publicadas? Preacher, por exemplo, volta em álbum com o formato um pouco menor adotado pela Devir?
Forastieri: Cada caso é um caso. Preacher já tem três volumes publicados naquele formato. A lógica diz que devemos continuar, para não detonar a coleção do leitor. É odioso pegar algo no meio do caminho e mudar formato, preço etc.
Agora, algo que saiu um volume só, numa tiragem muito limitada, que pouca gente viu, como Y - O Último Homem, podemos começar de outra maneira.
Não podemos querer padronizar. Cada título deve ser analisado separadamente.
UHQ: Vocês pensam em usar Y - O Último Homem na revista mensal?
Forastieri: Este é um dos casos mais complicados. É ridículo partir de onde parou e, por outro lado, recomeçarmos a série, em livro, com a edição da Opera à venda é inviável. E como não é um título para bancas, é difícil.
Mas é bom esclarecer que a idéia da Pixel Magazine é publicar coisas que vendem muito bem. É por isso que o John Constantine vai estar lá, porque é um personagem - como o Sandman - conhecido por muita gente que não lê quadrinhos, que viu o filme ou sabe da existência dele. A idéia é publicar na revista sempre com arte muito sofisticada - e Y - O Último Homem tem um desenho simples.
UHQ: A Pixel Magazine será impressa em que tipo de papel?
Forastieri: Estamos discutindo ainda. Nós queremos ter produtos com preços acessíveis. Não é porque é alternativo que precisa ser caro. Mas vamos deixar claro: quanto melhor o papel, mais alto o preço.
Odair: Nós teremos edições nas bancas em papéis Pisa Brite, LWC, couché, depende do produto.
Forastieri: Aliás, a própria DC faz isso. Cada produto tem sua lógica. Não dá pra fazer uma fôrma para tudo.
UHQ: Hellblazer tem uma cronologia muito bagunçada no Brasil. De onde vocês partirão?
Forastieri: É difícil, porque as duas melhores pontes de entrada que descobrimos têm 50 números de diferença entre elas. (Risos)
Como uma das nossas preocupações é apresentar bem o personagem, provavelmente devemos começar com umas histórias muito boas escritas pelo Paul Jenkins e desenhadas pelo Sean Philips.
UHQ: Isso já está definido?
Forastieri: Ainda não batemos o martelo, mas temos uns... três dias pra fazer isso. (Risos)
UHQ: A Pixel precisa cumprir uma meta de lançamentos?
Forastieri: Não. Nossa grade básica, que achamos boa, será de cinco revistas por mês em bancas. Uma mensal e as outras em forma de minisséries e especiais. O material da Vertigo e da WildStorm se presta muito bem para isso.
Cassius: Em geral, serão minisséries de duas, três partes, no máximo.
Forastieri: A idéia é fazer as minisséries com 96 paginas por edição, que feche um arco. Depois de seis meses, vamos encadernar.
UHQ: Mas vão praticar um preço mais barato?
Forastieri: Muito mais barato. Pô, o material já está impresso. Nossa meta - e não quero dizer que conseguiremos cumprir isso sempre - é ter esses encadernados com padrão gráfico decente, que não é superluxuoso, mas com capa cartonada e papel bom, 200 páginas ou mais, na faixa de R$ 25,00.
Além disso, teremos os álbuns, voltados diretamente para gibiterias e livrarias e, estes sim, com padrão gráfico superior.
UHQ: E qual será o primeiro livro da Pixel?
Forastieri: Nossa idéia é valorizar a origem da Vertigo. Por isso, nosso primeiro álbum será um encadernado com histórias (algumas já lançadas aqui) dos personagens que começaram o selo. Todas escritas pelo Neil Gaiman.
Uma HQ do encontro dos Sandmen (o Mestre dos Sonhos e Wesley Dodds, o protagonista de Sandman - Teatro do Mistério), uma do Monstro do Pântano e outra do John Constantine. Num álbum de luxo, papel maravilhoso, capa dura, com extras contando como nasceu a Vertigo. O nome da edição não está definido ainda.
Aí, na Pixel Magazine # 1 terá uma história de seis páginas da Morte, escrita pelo Neil Gaiman e desenhada pelo Jeff Jones (publicada na Vertigo: Inverno, da Opera Graphica), que servirá como um link com o álbum.
Aliás, essa será uma preocupação constante da Pixel Magazine: trazer HQs que tenham ligação com uma minissérie ou livro que esteja sendo lançado naquele momento.
UHQ: Vocês têm intenção de anunciar um pacote de lançamentos?
Forastieri: Nossa idéia, como vamos começar em abril, é anunciar isso um pouco antes. Mas não a programação do ano inteiro, pois queremos envolver os leitores o máximo possível nesse processo de decisão, sempre levando em conta a viabilidade econômica do negócio.
UHQ: Como fica, especificamente, Sandman? A Conrad tem contrato para publicar os dez álbuns, mas e as reimpressões?
Forastieri: Sandman continua sendo publicado normalmente pela Conrad até o final. Os livros estão ótimos, um excelente trabalho que está vendendo muito bem. E me orgulho de ter participado desse momento (André Forastieri era um dos donos da Conrad quando a série começou a ser lançada).
Nós temos direito de publicar já os três primeiros volumes (Prelúdios e Noturnos, A Casa de Bonecas e Terra dos Sonhos), mais Sandman - Noites Sem Fim e Caçadores de Sonhos. E Stardust (escrita por Neil Gaiman) também. Mas não vamos lançar tão cedo.
Provavelmente, esperaremos mais um pouco e, no final do ano, publicaremos uma edição bacana da primeira saga de Sandman, recolorizada e com umas 40 páginas de extras sobre a criação da série. Pros fãs mesmo.
UHQ: A Pixel pode lançar Sandman ao mesmo tempo em que a Conrad estiver terminando a série?
Forastieri: Sem problema. Poderíamos lançar alguns já se quiséssemos.
UHQ: Então, a Conrad não pode republicar os primeiros álbuns que estejam esgotados?
Forastieri: Não.
UHQ: As séries oriundas de Sandman, como Lúcifer, Dreaming e outras têm chance?
Forastieri: Vamos esperar que a pessoas nos falem o que querem. Vai ter uma história legal do Sonhar, na Pixel Magazine.
UHQ: Sandman foi uma série capaz de atrair para as HQs, gente que não lia quadrinhos e até hoje acompanha tudo de Neil Gaiman - e, muitas vezes, só isso. Que outros títulos acha que possuem esse potencial?
Forastieri: O que o mercado norte-americano nos mostra que atraiu esse público de Sandman é Fábulas. Já 100 Balas pega um cara diferente, que não lê super-herói, que curte balada, mas não tem saco mais pra ler o Homem Aranha do mês. O mesmo vale pro Planetary.
Essas linhas tem essa abertura diferente: pegam gente mais madura, universitários, profissionais e até o cara que tinha deixado de ler quadrinhos de super-heróis.
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